Dólar à vista tem forte alta em meio a críticas do governo ao BC

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Yuriko Nakao/Reuters

Cédulas de 100 dólares

Receios em torno dos atritos entre o governo Lula e o Banco Central, após a autoridade monetária ter descartado cortes da Selic no curto prazo, se sobrepuseram a todos os demais fatores baixistas para o dólar hoje (23), fazendo a moeda norte-americana fechar em alta firme ante o real.

Na noite de quarta-feira, o BC anunciou a manutenção da Selic em 13,75% ao ano –o que era largamente esperado– mas publicou um comunicado duro em relação ao cenário para a inflação. Contrariando expectativas do governo e de parte do mercado, o BC não passou indicações de quando começará o corte de juros.

Com a Selic em patamares altos por mais tempo, o que torna o Brasil mais atrativo para os investidores estrangeiros, era natural esperar uma queda do dólar ante o real nesta quinta-feira. Só que o receio de que a relação entre governo e BC se deteriore ainda mais colocou a moeda norte-americana em trajetória de alta ante o real.

O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,2898 reais na venda, em alta de 1,02%.

Na B3, às 17:09 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,86%, a 5,2960 reais.

Na noite de quarta-feira, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC foi considerado duro por analistas do mercado, ao não sinalizar a proximidade de um corte de juros. No documento, o colegiado ressaltou a deterioração do ambiente externo, a desancoragem das expectativas de inflação e a incerteza quanto ao arcabouço fiscal do governo, entre outros fatores.

Profissionais ouvidos pela Reuters na quarta-feira disseram que, em função da expectativa de que a Selic fique em alta por mais tempo, o dólar tenderia a cair na sessão desta quinta-feira.

No início da sessão, isso até ocorreu. O dólar marcou a mínima de 5,2028 (-0,64%) no segundo minuto de negociação, com os investidores, segundo um operador, dispostos a vender.

Ainda durante a primeira hora de negócios, no entanto, a moeda norte-americana passou a subir, contrariando inclusive o exterior, onde o dólar recuava em relação a outras divisas de exportadores de commodities.

“Era para estarmos surfando nessa onda lá de fora, onde o dólar cai e a bolsa sobe, mas estamos descolados por fatores domésticos: inflação fora do controle, país com problemas para honrar suas contas e o presidente sem entender que temos um BC autônomo e independente”, resumiu durante a tarde Fernando Bergallo, diretor da assessoria de câmbio FB Capital.

Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que o receio de que a relação entre governo e BC possa piorar acabou se sobrepondo aos demais fatores baixistas.

“O dólar subiu bastante aqui hoje, embora o BC tenha mantido a Selic e tenha feito um discurso mais duro, sinalizando que poderá fazer algum ajuste residual se necessário. Isso em tese deveria ser positivo para o dólar, ainda mais em um cenário em que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) tinha amenizado o discurso no dia anterior”, comentou Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest. “Não foi o que aconteceu. O desgaste entre governo e BC foi o que causou essa pressão no dólar.”

Ainda na noite de quarta-feira, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, criticou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, nas redes sociais. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerou o comunicado do BC “muito preocupante” e disse que a autarquia poderá comprometer o resultado fiscal do país.

Nesta quinta-feira, foi a vez de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disparar contra o BC. “Eu digo todo dia: não tem explicação para nenhum ser humano do planeta Terra a taxa de juros do Brasil estar a 13,75%, não existe explicação”, afirmou. O resultado foi a alta firme do dólar, contrariando as expectativas pós-Copom.

No exterior, o dólar operava à tarde mais próxima da estabilidade ante uma cesta de moedas.

Às 17:09 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– subia 0,09%, a 102,530.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 16 mil contratos de swap cambial tradicional, ofertados na rolagem dos vencimentos de maio.

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