Você já ouviu falar da síndrome dos pequenos poderes? Trata-se daquele comportamento muito enraizado especialmente entre pessoas que tiveram alguma ascensão profissional e que precisam, a todo tempo, dizer que são poderosas e que você precisa abaixar a cabeça e dizer sim para tudo o que elas querem.
Carteirada, “sabe com quem você está falando?”, assédio moral e pequenos abusos psicológicos são atitudes comuns desse tipo de profissional que era quase onipresente nos ambientes de trabalho até bem pouco tempo.
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Não que eles tenham sumido, muito pelo contrário, a gente ainda encontra, com frequência, alguns desses seres acometidos pela síndrome do pequeno poder e se lembra de quão ridículo, ultrapassado e cafona essa ideia é.
Eles ainda estão entre nós, mas cada vez mais a gente entende que eles não devem estar entre nós.
Eu lido com muitos egos e, na maioria das vezes, tento não deixar me afetar por gente que se acha maior do que é, que tem a certeza que é mais importante do que o outro e que precisa que todas as suas demandas sejam atendidas. Durante minha carreira profissional, vi, muitas vezes e por muitos anos, pessoas que precisavam se impor a partir do medo, do constrangimento do outro e da reafirmação, o tempo todo, de seu poder e de seu status.
E quando a gente encontra pela estrada, em pleno 2023, muitos anos depois, pessoas que seguem agarradas a essas estruturas como forma de validação eu quase fico triste em perceber que, por mais que o mundo mude, muitas pessoas insistem em seguir anacrônicas.
Mas como lidar quando nos deparamos com a síndrome do pequeno poder durante a carreira?
Primeiro, não ache que isso é normal, que “fulano é assim mesmo”, ou que você precisa se submeter a isso. Não é normal, e se alguém “é assim”, esse alguém precisa se tratar ou, pelo menos, de uma boa dose de realidade todos os dias pela manhã.
Depois eu diria que você não precisa aceitar esse tipo de opressão de quem quer que seja, mas responder de forma combativa talvez não seja o melhor caminho. Demonstrar o seu desconforto com alguma situação é importante, mas não na base do confronto. Uma sugestão é não enfatizar o erro do outro, mas falar em como aquela situação fez você se sentir.
Recentemente eu vivi uma situação em que tive de negar uma demanda de uma pessoa com quem convivo profissionalmente há algum tempo e que, em seguida, passou a me maldizer para todas as pessoas em comum que tínhamos, tentando me desmerecer e me ridicularizar. Me chamou até de gorda, como se isso fosse um xingamento. E não é. Ser gorda também é parte de quem eu sou. Quando soube dos ataques, mandei uma mensagem dizendo que o respeitava e que me senti muito desrespeitada com a forma com a qual ele conduziu toda a situação. Sinalizei o meu desconforto e deixei claro que não aceitaria aquele tipo de comportamento.
Ele nunca respondeu, mas agora ele sabe como ele pode fazer as pessoas se sentirem.
Poderoso ou não, a gente precisa ter antes de tudo respeito pelo tempo, pelo trabalho e pela vida da outra pessoa. Todo mundo está lutando uma batalha diária e se pudermos evitar criar mais batalhas, especialmente nos ambientes profissionais, a gente já está no lucro.
Juliana Ferraz é sócia da Holding Clube e tem quase 30 anos de carreira no universo da comunicação e eventos no Brasil.
O post Síndrome do pequeno poder: como lidar com ela na carreira? apareceu primeiro em Forbes Brasil.