Racismo estrutural: entenda o que é isso a partir do BBB 23

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A cada nova edição, o Big Brother Brasil traz à tona debates e assuntos que precisam ser discutidos na sociedade. E nesta edição, a pauta da vez é o racismo estrutural. O tema, que já foi levantado por participantes como Domitila Barros e Sarah Aline, passou a ser evidente desde que o programa chegou ao top 10.

Essa é a primeira vez que o reality show tem, em sua reta final, uma maioria composta por pessoas negras. No entanto, a narrativa que prevalece é a de que determinados participantes possuem comportamentos e atitudes “agressivas”.

Na última madrugada (21), as sisters Sarah e Aline Wirley fizeram reflexões muito importante sobre o funcionamento do privilégio. A conversa aconteceu logo após Aline presenciar Bruna Griphao dizer que Domitila Barros era “tendenciosa” por expor que, tanto ela quanto outros participantes, não estavam acostumados a lidar com pessoas negras fora da posição de serventia.

A situação fez Aline se questionar e chorar por não ter percebido atitudes que denotavam o racismo estrutural antes. “No nosso lugar, eu sinto que às vezes pode soar como não estou querendo ver, conivência ou omissão. Se a gente levanta a bandeira, vira um erro de militância chata”, declarou a sister.

Entendendo o racismo estrutural

Para explicar de onde vem o termo, Thaïs Bernardes é didática. “Pense em um prédio, por exemplo. Para ter dez andares, é necessário ter uma estrutura para que esse prédio possa crescer e para que sirva de base. Quando a gente fala de racismo estrutural no Brasil, é exatamente isso. Quando entendemos que as estruturas que construíram o nosso país foram estruturas com base na escravidão, fica mais fácil de entender o racismo estrutural”, explica a fundadora do Notícia Preta, portal voltado para a produção de um jornalismo antirracista.

Para entender de forma mais abrangente sobre o racismo estrutural, é importante ir direto a fonte. Por isso, a jornalista recomenda a leitura de “Racismo Estrutural“, obra do advogado, filósofo e Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.

“Ele diz que, quando se pensa em racismo, é preciso analisar sob três perspectivas: o racismo individual, o racismo institucional e o racismo estrutural. O racismo estrutural acontece quando essa ordem social e econômica preserva privilégios para pessoas brancas e dão a essas pessoas condições de prosperidade em detrimento das pessoas negras que historicamente sempre estiveram na base”.

Por mais que o racismo estrutural seja, muitas vezes, uma violência velada, é preciso ressaltar que nada normaliza esse tipo de atitude. É muito comum atualmente encontrar pessoas que se justifiquem em cima do termo. “O racismo estrutural não pode servir para amenizar atitudes preconceituosas”, pontua Thaïs.

Ele não precisa ser dito para que uma pessoa negra entenda

Ainda que o racismo estrutural e privilégio branco tenha sido levantado no BBB 23, em nenhum momento esse debate foi verbalizado na casa. E esse é um ponto muito importante para se entender esse conceito. “Muitas vezes o racismo não é dito. E ele não precisa ser dito para uma pessoa negra entenda”, comenta Thaïs Bernardes.

“Ele se apresenta da classe A a classe E e de diferentes formas. Não é porque uma pessoa possui acessos e poder aquisitivo alto que ela não vai sofrer com racismo. O dinheiro não embranquece ninguém, assim como frequentar determinados meios sociais não vão te embranquecer”, completa a CEO.

Cenário do BBB 23

Na internet, muitas pessoas comemoraram o fato de Aline Wirley ter “despertado” para o jogo ao notar essa situação. Esse não é um incômodo da sister com atitudes do quarto Deserto não são de hoje, então o fato de não se afastar pode ser uma estratégia de proteção da participante. “Às vezes a gente vê algo e sabe o que é, mas a gente não vai para a frente porque não sabe se pode avançar, principalmente se o outro lado pode interpretar como algo agressivo e violento”, relata Thaïs.

E a comunicadora aponta outras atitudes que mostram como Aline Wirley já entendeu o que está acontecendo. “Ela, que é uma mulher negra, identificou uma atitude racista dentro daquele grupo e, por medo de ser excluída ou por medo de achar que era ‘mimimi’, não utiliza a palavra racismo. Cada um tem uma forma de se defender, então não tem como dizer que a atitude da Aline ou da Sarah é certa”.

Por fim, a jornalista ressalta que ainda que ambas sejam negras e mulheres, essas são as únicas semelhanças entre as duas. “A Sarah é uma pessoa com suas vivências e a Aline é outra pessoa com suas vivências”, então é importante não generalizar a atitude e querer que das duas ajam da mesma maneira no BBB 23.

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