UBS engole Credit Suisse e negócio lança dúvidas sobre Suíça

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Imagem: Getty Images/ NurPhoto

Os dois bancos têm sido pilares das finanças globais há décadas

O UBS surgiu como único banco global da Suíça com condições de resgatar o rival menor Credit Suisse, uma aposta arriscada que torna a economia suíça mais dependente de uma única instituição financeira.

A ação sem precedentes anunciada na noite de domingo em Zurique encerrou uma corrida contra o tempo dos reguladores financeiros para evitar um colapso nos mercados globais. A Suíça prometeu mais de 160 bilhões de francos suíços (US$ 173 bilhões) em empréstimos e garantias para apoiar o UBS na absorção do Credit Suisse, na expectativa de protege-lo contra novos riscos que têm minado o mercado.

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A transação – o primeiro resgate de um banco global desde a crise financeira internacional de 2008 – concede enorme influência ao UBS, que agora livrou-se de seu principal rival. O negócio também muda a paisagem da indústria bancária na Suíça, onde as agências do Credit Suisse e do UBS estão espalhados por toda parte, às vezes a apenas alguns metros de distância entre si.

Os dois bancos têm sido pilares das finanças globais há décadas. Os bancos, dois dos mais sistemicamente relevantes dos mercados financeiros do mundo, detêm ativos combinados de até 140% do Produto Interno Bruto da Suíça, um país fortemente dependente do setor bancário para sua economia.

Após a crise financeira de 2008, os políticos suíços se comprometeram a nunca mais salvar os bancos. O resgate do Credit Suisse, orquestrado com dinheiro público, mostra a contínua vulnerabilidade do sistema e como os problemas podem voltar rapidamente.

O negócio também retira um competidor para os bancos de Wall Street já que o UBS planeja reduzir a operação de banco de investimento do Credit Suisse.

“Em circunstâncias normais, eu diria que é absolutamente um negócio fantástico para o UBS”, disse Johann Scholtz, analista de ações da Morningstar. “Mas no atual ambiente é um pouco mais complicado, pois há um monte de incerteza geral nos mercados.”

Reviravolta

Logo após o anúncio da incorporação do Credit Suisse pelo UBS, os bancos centrais das principais potências econômicas, incluindo Federal Reserve, Banco Central Europeu e Banco do Japão disseram que aumentarão as linhas de swap de dólar, ajudando a acalmar investidores. O colapso de dois bancos médios norte-americanos e a queda nas ações do Credit Suisse enviaram ondas de choque nos mercados na semana passada.

O UBS pagará US$ 3,2 bilhões pelo Credit Suisse, criado há 167 anos, e assumirá prejuízo de pelo menos US$ 5,4 bilhões com a liquidação de sua carteira de derivativos e outros ativos de risco. O Credit Suisse tinha um valor de mercado de cerca de 8 bilhões de dólares no fechamento da sexta-feira.

Os detentores de títulos Nível 1 adicional de dívida do Credit Suisse sofrerão fortes perdas e em um movimento controverso serão secundários em relação aos acionistas do banco, que receberão algumas ações do UBS.

O negócio marca uma reviravolta radical do destino para os bancos. Durante o grande crash financeiro de 2008, foi o UBS e não o Credit Suisse que precisava de apoio do Estado.

Os retratos dos bancos divergiram acentuadamente nos últimos anos. O UBS teve lucro de 7,6 bilhões de dólares em 2022, enquanto o Credit Suisse sofreu prejuízo de 7,9 bilhões. As ações do Credit Suisse caíram 74% de um ano atrás, enquanto os papéis do UBS estão relativamente estáveis. Às 9h36 (horário de Brasília), as ações do Credit Suisse desabavam 58,3%, se adequando ao preço de aquisição pelo UBS, cujos papéis recuavam 5,1% no mesmo instante.

Com a incorporação do Credit Suisse, o UBS torna-se o líder global indiscutível na gestão de fortunas, com a posição de liderança do UBS na China agora complementado pela força do Credit Suisse no resto da Ásia, a região que mais cresce no mundo. O UBS também consegue manter a joia na coroa do Credit Suisse, seus negócios de banco doméstico na Suíça.

“No passado, quando um acordo entre o Credit Suisse e o UBS era discutido, um ponto crítico seria a concentração, especialmente no mercado doméstico”, disse Scholtz, da Morningstar. “Também é a parte mais estável do negócio, que gera bastante de dinheiro. Se o UBS não for obrigado a fazer um IPO dessa operação, eles podem ver sentido em mantê-la, há muitas sinergias.”

O UBS também está eliminando um grande concorrente em negociação de ativos financeiros. O UBS obteve US$ 7,1 bilhõesem receita com compra e venda de ações, moedas e títulos de dívida. O Credit Suisse publicou receitas de US$ 3,2 bilhões no ano passado.

Em entrevista coletiva à imprensa sobre o acordo, a ministra das Finanças da Suíça, Karin Keller-Sutter, defendeu o resgate do Credit Suisse, dizendo que foi bom para os titulares de contas no banco, incluindo ela. A ministra também disse que é cliente do UBS. Mas essa escolha de bancos terminará em breve.

“Esta solução tem riscos”, admitiu ela, minimizando qualquer preocupação sobre o tamanho do novo banco, afirmando que qualquer alternativa para resolver os problemas do Credit Suisse arriscaria uma “turbulência econômica irreparável”.

Sentado à sua direita, o presidente do UBS, Colm Kelleher, disse que o novo grupo reduzirá os riscos, como os do banco de investimento, para encaixar o Credit Suisse na cultura conservadora do UBS. “O novo UBS permanecerá sólido como uma rocha”, disse ele.

O presidente do conselho de administração do Credit Suisse, Axel Lehmann, em contraste, se mostrou abatido diante de seu banco se mostrar incapaz de se recuperar de uma série de escândalos e perdas. No final do ano passado, especulações de que o Credit Suisse entraria em colapso levaram os clientes a sacarem dezenas de bilhões de dólares em recursos, acelerando a crise do grupo. Lehmann descreveu o domingo como um “dia histórico e triste”.

Os funcionários da sede do Credit Suisse em Zurique estão se preparando para cortes maciços de empregos, com 10 mil posições potencialmente em risco, disseram fontes à Reuters no sábado.

Mas ainda não está tudo encerrado para o UBS. O banco enfrenta riscos para concluir o negócio, potenciais processos e reguladores podem pedir ao banco para manter mais capital no futuro, disseram analistas da Jefferies.

Além disso, a administração do UBS ficará distraída deglutindo o Credit Suisse por muitos meses, talvez anos, disseram os analistas.

“Vamos mudar, mas não vamos mudar tanto assim”, disse o presidente-executivo do UBS, Ralph Hamers, que liderará o novo gigante bancário. “Ainda seremos suíços.”

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