Diferença salarial faz mulheres perderem US$ 1 milhão ao longo da vida

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A disparidade salarial de gênero e raça persiste em 94% dos empregos e afeta não apenas as mulheres, mas suas famílias 

Quando Maria Serratos – uma latina de 25 anos com especialização em engenharia civil – trabalhava como contadora em uma mercearia nos Estados Unidos para ajudar a pagar sua faculdade, ela não sabia da diferença salarial que custa às latinas US$ 1.188.960 ao longo de 40 anos de carreira nos EUA.

No entanto, ela percebeu que um contador que estava fazendo o mesmo trabalho durante a mesma quantidade de horas na loja estava ganhando mais por hora do que ela – apesar do fato de que ela estava no cargo há mais tempo. Presumindo que seu colega estava ganhando mais dinheiro simplesmente porque havia pedido, ela decidiu pedir um aumento ao chefe. O gerente disse não e explicou que seu colega de trabalho estava ganhando mais porque ele tinha acabado de ter um bebê. E portanto precisava mais do que ela.

Disparidade salarial aumenta com a maternidade

A resposta do gerente ilustra o viés de gênero persistente que continua a impactar os rendimentos vitalícios das mulheres. E como alguns homens recebem um “bônus de paternidade”, ou aumento de salário quando se tornam pais – enquanto as mulheres recebem uma ‘pena de maternidade’ ou redução no salário quando se tornam mães.

“Na época, pensei que a diferença salarial era apenas naquela empresa específica”, diz Serratos. “Então fiz um workshop na minha universidade, onde descobri que isso acontece com muitas, muitas mulheres.”

A Ong americana National Women’s Law Center analisou dados da diferença salarial de todas as mães trabalhadoras em 2020 em comparação com os pais trabalhadores naquele ano – incluindo funcionários de meio período e período integral. E descobriu que as mães normalmente recebem apenas US$ 00,58 para cada dólar pago aos pais.

Dados do Pew Research Center mostram que mães entre 25 e 44 anos têm menos probabilidade de estar no mercado de trabalho do que mulheres da mesma idade que não têm filhos, e também tendem a trabalhar menos horas por semana quando estão empregadas.
Os pais, por outro lado, têm maior probabilidade de estar na força de trabalho – e trabalhar mais horas por semana – do que os homens sem filhos em casa.

Existem muitos fatores que explicam a diferença salarial de gênero, mas a disparidade começa a crescer mais rapidamente quando as mulheres se tornam mães.

Leis de igualdade salarial

Serratos foi convidada a compartilhar sua história em uma reunião do comitê trabalhista norte-americano pedindo a legisladores estaduais para aprovarem uma lei de igualdade salarial. “O Mississippi acabou aprovando um projeto de lei de igualdade salarial, então foi muito bacana estar envolvida nisso e ver uma mudança”, diz Serratos. Isso fez do Mississippi o último estado dos EUA a aprovar uma legislação exigindo salário igual para as mesmas funções.

>> Leia também: Desigualdade salarial entre gêneros nos EUA muda pouco em 20 anos

Na semana passada, no Dia Internacional da Mulher, o governo anunciou um PL (projeto de lei) para garantir que mulheres recebam igual remuneração aos seus colegas que exercem as mesmas funções no trabalho. 

A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) já prevê isso, apesar de ser pouco cumprida na prática – segundo o governo, isso seria por conta do baixo valor da multa em caso de descumprimento da determinação. Assim, o novo PL – que ainda deve passar pelo Congresso para ser sancionado – determina uma multa de 10 vezes o valor do salário mais alto pago pela empresa que descumprir a igualdade salarial. (Nota da editora de Forbes Brasil)

Diferença salarial de gênero e raça também afeta as famílias

Nos Estados Unidos, as mulheres que trabalham em período integral ganham apenas US$ 0,84 centavos para cada dólar pago a homens brancos não-hispânicos. A diferença aumenta para muitas mulheres latinas e indígenas, que ganham US$ 0,57, e mulheres negras, que recebem US$ 0,67. As brancas ficam com US$ 0,80. O status parental, identidade de gênero e orientação sexual também impactam essa diferença.

“A diferença salarial é uma medida útil porque muitas fontes de desigualdade aparecem nesse número – desde pagar menos a alguém pelo mesmo trabalho, os impactos desproporcionais da prestação de cuidados até o fato de que as ocupações que são dominadas por mulheres tendem a ser mal pagas porque subestimamos o trabalho feminino, e ponto final”, diz Emily Martin, vice-presidente de educação e justiça no local de trabalho do National Women’s Law Center. “Dezenas de estudos mostram que, quando você equipara todos os fatores que deveriam ser relevantes para a diferença salarial, como ocupação, educação, nível de experiência e horas trabalhadas, ainda vemos diferenças salariais consistentes em que os homens recebem mais do que as mulheres.”

Na verdade, a disparidade salarial de gênero e raça persiste em 94% dos empregos.

Essa diferença de US$ 0,16 soma uma perda de quase US$ 400.000 ao longo de uma carreira de 40 anos. Para mulheres latinas e negras, as perdas ao longo da vida se traduzem em cerca de US$ 1 milhão ou mais.

Isso significa que muitas mulheres negras teriam que trabalhar até os 80 ou 90 anos – o que está além de suas expectativas de vida – para alcançar as brancas, que por sua vez já ganham menos que os homens. “A matemática é tal que, se não eliminarmos a diferença salarial entre homens e mulheres, a cada ano as mulheres e todas as famílias que dependem delas ficarão cada vez mais para trás”, diz Martin.

Além da diferença salarial que rouba das mulheres seus ganhos vitalícios e impacta sua aposentadoria, não pagar as mulheres de forma justa também afeta seus filhos e famílias, como quase dois terços das mulheres nos EUA são o principal ganha-pão da família. Em nosso ritmo atual de progresso, levará 132 anos para o mundo fechar a lacuna econômica geral de gênero, mas isso pode ajudar a impulsionar a economia mundial em US$ 7 trilhões.

No Brasil, o percentual de domicílios comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). E 8 em cada 10 famílias que receberam o Auxílio Brasil em setembro do ano passado eram chefiadas por mulheres. (Nota da editora de Forbes Brasil)

O papel das empresas para reduzir a diferença salarial

Eliminar a diferença salarial também beneficia as empresas. “Também é verdade que, se você está pagando menos para as mulheres, pode não estar atraindo metade dos funcionários em potencial realmente qualificados e talentosos”, diz Martin. “Portanto, os empregadores têm interesse em garantir que estão fazendo o possível para que valha a pena o compromisso com suas funcionárias.”

Eliminar a diferença salarial exige uma abordagem ampla, incluindo a oferta de creche para família e licença parental. Empresas podem liderar o caminho para acabar com esse abismo enquanto esperamos que as políticas e a legislação se atualizem, mas há algumas políticas sendo feitas que são um passo na direção certa.

Nos Estados Unidos, a Lei de Equidade das Trabalhadoras Grávidas foi aprovada recentemente. “O que isso significa é que os empregadores devem fazer adaptações para essas profissionais, assim como fazem para pessoas com deficiência”, diz Martin. “Embora isso não vá acabar com a diferença salarial amanhã, é parte de garantir que no momento de ter um filho você não seja totalmente forçada a deixar o trabalho, tendo que lidar com as consequências imediatas e de longo prazo para o seu salário. É um passo para garantir que tenhamos locais de trabalho que tratem a gravidez e a criação de filhos como algo natural e trabalhem em torno disso, em vez de ainda agir como se fosse um desvio da norma”.

A transparência salarial também está se tornando mais comum. Um em cada quatro americanos vivem em locais onde os empregadores são obrigados a compartilhar faixas salariais. “Há muitas pesquisas que mostram que a transparência salarial leva a diferenças salariais menores, a mais equidade e tende a aumentar os salários de trabalhadores com salários mais baixos em particular”, diz Martin. “Curiosamente, também vimos nos últimos anos muitos estados dizendo que você não pode basear o pagamento no histórico salarial de alguém, e um estudo mostrou que isso teve um impacto na diminuição das diferenças salariais raciais e de gênero, e tornou os empregadores mais propensos a colocar faixas salariais em anúncios de emprego. Acho que tem muito potencial aí.”

Falar e pressionar por políticas para ajudar a diminuir a diferença salarial pode impactar a mudança, como Serrantos experimentou ao defender a legislação de igualdade salarial no Mississippi. “Como vamos construir riqueza nessa geração se estamos tão atrasados ​​[financeiramente] desde o início?”, diz Serrantos. “É importante que as mulheres se conscientizem que [a diferença salarial] é um problema que está nos afetando e precisamos começar a fazer barulho.”

*Holly Corbett é jornalista e vice-presidente de conteúdo da Consciously Unbiased, empresa de treinamento corporativo em diversidade. 

(Texto traduzido do original publicado em Forbes USA por Fabiana Corrêa e Fernanda de Almeida)

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