Bancos digitais são os grandes ganhadores com o colapso do SVB

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Foto: REUTERS/Dado Ruvic

Colapso do SVB rende frutos a outros bancos digitais

A enxurrada de solicitações de novas contas começou a atingir a fintech Mercury, com sede em São Francisco, no último dia 9. A movimentação ocorreu um dia depois que o Silicon Valley Bank anunciou que havia vendido US$ 21 bilhões (R$ 112 bilhões) em títulos com prejuízo de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,6 bilhões) e precisava levantar mais capital.

No fim de semana, enquanto os reguladores bancários federais lutavam para garantir que a falência do SVB não desencadeasse em uma corrida mais ampla no setor bancário, os funcionários da Mercury também lutaram. Sua equipe de abertura de contas foi dobrada para 60 pessoas, com a chegada de profissionais de risco e de conformidade, além de engenheiros de software e vendedores voluntários.

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Em ambos os casos, as medidas extraordinárias parecem ter valido a pena – pelo menos por enquanto. Os bancos regionais se estabilizaram. E a Mercury provavelmente foi a maior vencedora até agora entre os bancos digitais. Immad Akhund, CEO e cofundador da Mercury, de 38 anos, diz que em apenas seis dias sua empresa de 470 pessoas adicionou mais de US$ 2 bilhões (R$ 10,6 bilhões) em depósitos e milhares de clientes às 100 mil contas que tinha antes.

Akhund fundou a Mercury há seis anos porque acreditava que um banco baseado em tecnologia poderia fornecer um serviço melhor para as startups do que o SVB. “Eu tinha muito respeito [pelo SVB]. Minha empresa anterior era cliente deles”, diz. “Pessoalmente, estou triste com isso.”

A Mercury não é a única fintech que se capitalizou com o fracasso do SVB. A startup de cartão de crédito corporativo Brex adicionou 3 mil novas empresas clientes na semana passada e também recebeu bilhões em novos depósitos, embora não tenha confirmado valores. A Brex também concedeu empréstimos a ex-clientes do SVB para ajudá-los a pagar a folha de pagamento.

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A Meow, uma startup de Nova York que remunera as contas correntes das empresas por meio de títulos públicos americanos, afirmou ter recebido centenas de milhões de dólares na semana passada. E a Arc, que permite que empresas de software antecipem seus fluxos de receita futuros, viu 500 startups solicitarem um total combinado de mais de US$ 150 milhões (R$ 800 milhões) para financiar suas folhas de pagamento desde quinta-feira, disse o CEO Don Muir. O aumento da demanda atravessou o país. O banco digital Rho, com sede em Nova York, também viu chegarem novos clientes.

O movimento vai durar?

Embora os bancos digitais tenham atraído rapidamente novos depósitos e clientes, é difícil dizer se eles vão retê-los. “Eu questiono a sustentabilidade de alguns dos fluxos que observamos na semana passada”, diz Merritt Hummer, investidora de fintechs e sócio da Bain Capital Ventures. “É muito cedo para declarar vitória.” Ela diz acreditar que muitas empresas vão acabar transferindo seu dinheiro para os maiores bancos dos EUA, como JP Morgan, Bank of America e Citi.

O maior beneficiário dessa crise provavelmente será o JP Morgan, o maior banco americano, que já possui mais de US$ 2 trilhões em depósitos. Porém, os gigantes geralmente não conseguem abrir contas tão rapidamente. “Tivemos algumas empresas que pensaram que abrir uma nova conta no JP Morgan era uma jogada inteligente e de fuga para a qualidade”, diz um capitalista de risco. “Eles ainda estão esperando e vão esperar mais uma semana para conseguir seu cadastro.” Um porta-voz do JP Morgan se recusou a comentar.

Além de mais lentos, os gigantes do setor podem não oferecer às startups e à comunidade de capital de risco o mesmo nível de atenção e foco que os produtos customizados que o SVB ofereceu (e os bancos digitais aspiram). “Ainda acho que muitas pessoas irão para os quatro grandes bancos. É uma pena porque esses bancos não são realmente bons para nós”, diz Sheel Mohnot, um investidor fintechs em estágio inicial.

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Claro, quase todos os bancos digitais não são tecnicamente bancos com licenças bancárias e contas garantidas pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation). Em vez disso, eles fazem parceria com bancos tradicionais que mantêm os depósitos dos clientes em contas seguradas.

Aqui Akhund também agiu rápido; na segunda-feira, a Mercury começou a oferecer até US$ 3 milhões (R$ 16 milhões) em cobertura de seguro FDIC, contra US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) na semana passada.

Como o limite do seguro federal ainda é supostamente de apenas US$ 250 mil (R$ 1,33 milhão) por depositante (embora a decisão do governo de cobrir todos os depósitos no SVB e no Signature Bank coloque isso em questão), fintechs como a Mercury ampliam a rede de segurança dividindo os fundos dos clientes em uma rede de dezenas de bancos.

A Mercury lançou sua conta corrente comercial em 2019 e um cartão de crédito corporativo para seus clientes iniciantes no ano passado. Ele levantou US$ 152 milhões (R$ 808 milhões) da Coatue Management, Andreessen Horowitz, CRV e outros e foi avaliado pela última vez em julho de 2021 em US$ 1,6 bilhão (R$ 8,5 bilhões).

Risco compartilhado

Os principais parceiros bancários da Mercury são o Evolve, com sede em Memphis, Tennessee, que tinha US$ 1,5 bilhão (R$ 8 bilhões) em depósitos no fim de 2022, e o Choice Bank, com sede em Fargo, Dakota do Norte, com US$ 3,8 bilhões (R$ 20,2 bilhões) em depósitos no fim do ano passado. As parcerias permitem que os bancos pequenos e médios distribuam os fundos entre várias instituições financeiras, reduzindo o risco do cliente.

Por que os clientes devem se sentir seguros ao colocar seu dinheiro nos pequenos bancos com os quais a Mercury é parceira? Tecnicamente, nenhuma instituição está completamente a salvo de uma corrida aos bancos. E não há garantia de que todos os depósitos em um pequeno banco seriam cobertos pelo FDIC, como estavam na SVB.

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Para reduzir esse risco, os bancos digitais dividem os depósitos em parcelas de US$ 250 mil e os distribuem por vários parceiros. Por exemplo, quando uma empresa se torna cliente do Mercury, ela indica o Evolve ou o Choice para guardar seu dinheiro. Se o cliente depositar mais de US$ 250 mil, Evolve ou Choice vão enviar os recursos adicionais para os outros bancos.

A rede do Evolve tem cerca de 40 bancos, desde a gigante dos cartões de crédito Capital One até o Quaint Oak Bank, com sede na Pensilvânia. Outras fintechs como a Brex também oferecem mais de US$ 2 milhões (R$ 10,6 milhões) em cobertura FDIC dividindo depósitos e enviando-os para vários bancos. A Mercury sugere também que depósitos acima de US$ 3 milhões (R$ 16 mihões) sejam investidos no fundo de “money market” da gestora Vanguard. Sua página oferece uma interface para que os clientes façam exatamente isso.

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