Lotes de carne bovina certificados antes do embargo chinês, motivado por um caso atípico da doença de “mal da vaca louca” no Pará, continuaram saindo dos portos brasileiros mesmo após a suspensão de compras pela China ocorrida em 23 de fevereiro, conforme analistas ouvidos pela Reuters.
Estas cargas estão em trânsito para um percurso que leva mais de 30 dias até o país asiático, com exportadores apostando que o fim do embargo será anunciado em breve.
“Toda mercadoria que estava dentro de navios no cais, ou no mar, até o dia do autoembargo segue viagem e até o momento não temos relatos sobre nenhum problema de descarga”, disse à Reuters a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel.
Ela afirmou que há indicação de que os embarques aos chineses continuaram, considerando dados deste mês da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), embora não esteja claro quais foram os frigoríficos que realizaram envios.
A média diária de embarques de carne bovina do Brasil alcançou 8.428 toneladas no acumulado das duas primeiras semanas deste mês, quase 10% acima da média de março do ano passado, mostrou levantamento da Secex divulgado nesta semana.
A China costuma responder por mais da metade da exportação do Brasil.
Nas duas primeira semanas de março, a Secex contabilizou exportação de 67,4 mil toneladas.
O diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, disse que os dados do governo federal são uma sinalização de que houve embarque para a China saindo dos portos após o embargo, sendo cargas certificadas antecipadamente, “pois os outros mercados não substituem o mercado chinês” em volume adquirido, a ponto de justificar uma alta na média diária.
“A gente vai ver o efeito da suspensão, se houve mesmo um breque nos embarques, nos números de abril”, estimou.
“Acho que muita carne continuou indo sem problema, e não tivemos notícias de problema no desembarque (para os lotes que estavam próximos à China quando o embargo foi anunciado).”
Uma fonte de um grande frigorífico exportador do país confirmou à Reuters, na condição de anonimato, que os lotes continuaram saindo do país rumo à China mesmo após a suspensão, no caso de certificação até o dia 22 de fevereiro.
Procurado, o Ministério da Agricultura não respondeu de imediato a um pedido de comentários.
No caso dos frigoríficos que não conseguiram certificar suas carnes para a China até o dia em que o embargo começou, as perdas são estimadas entre US$ 20 milhões e US$ 25 milhões por dia útil, conforme reportagem publicada pela Reuters.
O Brasil suspendeu voluntariamente as vendas de carne bovina para a China em 23 de fevereiro após relatar um caso de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina), conhecida como doença da “vaca louca”, em conformidade com um protocolo sanitário entre os dois países.
A doença foi identificada em Marabá (PA) em um animal de nove anos e, posteriormente, o laboratório de referência da OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) confirmou que se trata de um caso atípico — quando a patologia surge espontaneamente em animais mais velhos, sem risco ao rebanho ou à saúde humana.
Além da China, os governos da Tailândia, do Irã e da Jordânia também suspenderam as compras de carne bovina do Brasil e a Rússia embargou lotes provenientes do Pará.
Uma comitiva do governo, integrada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estará na China neste mês para uma missão oficial. E a expectativa do governo e do mercado é que o embargo seja encerrado em breve.
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