Na virada da década passada, carros populares importados da China começaram a desembarcar no Brasil com uma receita no porta-luvas teoricamente imbatível: oferecer mais equipamentos do que Gol, Celta, Palio e companhia custando, quando não menos, o mesmo preço.
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Houve reação das marcas tradicionais, que recorreram a fornecedores, sindicatos e governos para barganhar qualquer tipo de vantagem possível. Alguns chegaram a falar em “invasão chinesa”, mas as fabricantes ocidentais venceram o braço de ferro contra Lifan, Effa e Chery com certa facilidade simplesmente por oferecem modelos bem construídos, mais seguros e caprichados – o que nenhum chinês era na época.
Uma nova “invasão chinesa” se desenrola agora, trocando populares por elétricos.
A mais sedenta pelo mercado brasileiro é a Great Wall Motors, que em agosto de 2021 comprou a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), onde a alemã montou os modelos Classe C e GLA entre 2016 e o fim de 2020. Desde então a chinesa tem ampliado e reestruturado a planta (erguida em um terreno de 1,2 milhão de metros quadrados) para fazer 100 mil veículos por ano – híbridos ou elétricos, exclusivamente.
Contudo, antes de começar a produzir seu primeiro carro brasileiro – uma picape média com motor híbrido flex da Poer, uma de suas marcas, prevista para o primeiro semestre de 2024 – a GWM lançou, na última quinta-feira (8), o Haval H6.
Na versão HEV, de R$ 209 mil, o SUV traz um conjunto híbrido do tipo autorrecarregável. Combinados, o motor 1.5 turbo (gasolina) e o elétrico somam 243 cv e 54 kgfm de torque e levam o modelo aos 100 km/h em 7,9 segundos, segundo dados da GWM. A marca não revela dados de consumo, mas durante o evento de lançamento do SUV promoveu uma competição de economia de combustível entre os jornalistas, e a dupla vencedora chegou a 24 km/l.
O Haval H6 PHEV, híbrido do tipo plug-in, custa R$ 60 mil a mais e traz dois motores elétricos, um em cada eixo, e o mesmo motor 1.5 turbo. Juntos chegam a 393 cv de potência e 77,7 kgfm de torque. Há também o H6 GT, de R$ 299 mil, que replica tal conjunto mecânico, mas traz visual distinto, de apelo esportivo.
Como há 15 anos, a abordagem “mais por menos” é a mesma: o Haval H6 mira em SUVs dos segmento médio, como Jeep Compass Série S (R$ 230.990), Volkswagen Taos Highline (R$ 210.940) e Toyota Corolla Cross XRX Hybrid (R$ 207.790), menos potentes e equipados.
Forbes Motors teve breve contato com o Haval H6 HEV e pôde testemunhar o acabamento refinado, a boa oferta de informações da central multimídia de 12,3 polegadas (que projeta Android Auto e Apple CarPlay sem a necessidade de cabo) e o desempenho decente do carro. Destacam-se na lista de equipamentos o update de software pela nuvem (Over The Air) e o controle remoto do veículo pelo celular.
BYD e Seres
Há pouco mais de um ano, a BYD deu início à comercialização do Tan EV. Primeiro SUV elétrico de sete lugares do mercado nacional, foi exibido em um shopping frequentado pela elite paulistana na estreia e logo inundou o showroom da Eurobike, rede de concessionárias especializada no segmento premium. Os R$ 487.590 cobrados por cada unidade – que joje saem por R$ 529.890 – confirmavam que o Tan EV queria conquistar proprietários de Audi, BMW, Mercedes e Volvo.
Para isso, o modelo conta com dois motores elétricos, um posicionado em cada eixo, que entregam 517 cv e 69,4 kgfm de torque. Dados de fábrica indicam aceleração 0 a 100 km/h em 4,6 segundos e velocidade máxima de 186 km/h. A garantia é de cinco anos (ou 500.000 km) para o veículo e de oito anos, para a bateria de 86,4 kWh – cuja autonomia é de 437 quilômetros e que pode ser recarregada de 30% a 80% em 30 minutos em uma estação de recarga rápida de 110 kW.
De lá para cá, a BYD expandiu não apenas a rede de lojas como a gama de produtos, sempre com modelos elétricos ou híbridos – e nunca abaixo dos R$ 200 mil. Vale dizer que a marca chinesa – que pertence à Berkshire Hathaway, de Warren Buffett – vendeu 641.350 veículos eletrificados nos primeiros seis meses de 2022, ficando somente atrás da Tesla considerando apenas elétricos.
Formada nos EUA em 2016 com investimento de empresas chinesas do setor automobilístico com o objetivo de produzir NEVs (new energy vehicles), a Seres em breve estreará por aqui com SUVs elétricos. Recentemente, a marca anunciou um investimento de US$ 10 bilhões em pesquisa e desenvolvimento.
Topo de linha no mercado nacional será o modelo 5, equipado com dois motores elétricos que chegam a 584 cv e 98 kgfm de torque. Números de desempenho empolgam: 0 a 100 km/h em 3,7 segundos e 500 quilômetros de autonomia, de acordo com a empresa.
O Seres 5 complementará a gama formada pelo Seres 5 EVR, equipado com um gerador a combustão que entra em funcionamento sempre que a carga da bateria fica abaixo de 30%; e o Seres 3, utilitário esportivo de apelo urbano e dotado de um motor elétrico dianteiro de 163 cv e autonomia de 300 km.
Tal é a dimensão da mobilidade elétrica para essas empresas que BYD e Seres cobiçam também o mercado de transporte por aplicativo. A primeira já tem o compacto D1 (desenvolvido exclusivamente para esta finalidade) rodando por São Paulo, enquanto a segunda acaba de finalizar testes com o Seres 3.
“Os carros da Seres já passaram por milhares de quilômetros de testes no Brasil. Este, entretanto, oferece informações adicionais por se tratar de um uso urbano severo e contínuo com motoristas diferentes. Essas informações poderão eventualmente ser usadas para aprimorar o produto oferecido, e é também uma maneira de ‘apresentar’ o Seres 3 aos motoristas e aos usuários da 99app”, explica Domingos Boragina, da área de marketing da Seres Brasil.
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