Há seis anos e meio, o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, e sua esposa, a Dra. Priscilla Chan, anunciaram que doariam US$ 3 bilhões (R$ 15,5 bilhões, na cotação atual) para a pesquisa científica básica ao longo de uma década. O valor inclui US$ 600 milhões (R$ 3 bilhões) para criar um centro de pesquisa biomédica em São Francisco, nos Estados Unidos, em colaboração com pesquisadores da Universidade da California e Stanford. No final de 2021, eles prometeram outros US$ 3,4 bilhões (R$ 17,6 bilhões) para a ciência.
Este mês, o casal anunciou seu novo biohub em Chicago – que será financiado com US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão) ao longo de uma década, a partir dos US$ 6,4 bilhões (R$ 33,2 bilhões) do Chan Zuckerberg Initiative (CZI) citados. O Chicago Biohub – que é uma colaboração entre a Universidade Northwestern, a Universidade de Chicago e a Universidade de Illinois em Urbana-Champaign – trabalhará para entender melhor como os tecidos humanos funcionam, usando pequenos sensores que desenvolverá.
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Em entrevista exclusiva, Zuckerberg e Chan, ambos com 38 anos, se encontraram com a Forbes EUA para discutir o novo biohub e como seu apoio à pesquisa científica se difere do modelo tradicional. Eles também falaram sobre os objetivos ambiciosos que têm em relação à cura e ao controle de todas as doenças.
Grande parte de suas doações à ciência é construída em torno da ideia de que ferramentas melhores, combinadas a uma compreensão mais profunda da biologia humana, podem ajudar a acelerar a descoberta de curas para doenças, controlá-las ou preveni-las completamente. “Se você olhar para a história da ciência, a maioria dos grandes avanços é precedida por novas ferramentas de observação, não apenas na biologia, mas [também] com telescópios e supercolisores”, explica Zuckerberg.
Chan e Zuckerberg inicialmente conceberam os biohubs como uma maneira de impulsionar o desenvolvimento de ferramentas e descobertas desse tipo. Diferentemente dos típicos laboratórios de pesquisa acadêmica, apoiados por subsídios do National Institutes of Health, os biohubs do casal se associariam a universidades para abordar grandes questões, colaborariam entre disciplinas científicas e garantiriam pelo menos uma década de financiamento da Chan Zuckerberg Initiative.
POR DENTRO DO INVESTIMENTO CIENTÍFICO DA CZI
O novo biohub em Chicago está programado para iniciar as operações em abril, e um instituto de imagem será inaugurado ainda este ano.
O primeiro CZ Biohub, fundado em 2016 e localizado do outro lado da rua do campus Mission Bay da UC San Francisco (Universidade de São Francisco na Califórnia), tem trabalhado em duas grandes áreas: criar sistemas que detectam e respondem a doenças infecciosas e aprofundar a compreensão de como células humanas saudáveis e doentes funcionam.
Seis meses após a pandemia de Covid-19 atingir os EUA, o CZ Biohub e a UC San Francisco divulgaram um estudo liderado por Joe DeRisi, co-presidente do biohub, especialista em doenças infecciosas e professor da universidade, sobre testes rápidos de Covid-19 da BinaxNow – que confirmou que eles eram confiáveis. A pesquisa ajudou a estimular a adoção mais ampla de testes rápidos na Califórnia, diz DeRisi.
Agora, os membros da equipe de DeRisi estão trabalhando em uma maneira potencialmente mais rápida, barata e precisa de diagnosticar a malária – uma doença que mata mais de 600 mil pessoas por ano (principalmente crianças). Para isso, o time tem usado um microscópio equipado com luz ultravioleta e algoritmos de aprendizado de máquina que detectam malária na amostra de sangue de um paciente, explica Paul Lebel, engenheiro que projetou e construiu o equipamento. Vários desses microscópios especializados atualmente fazem parte de um estudo em uma clínica em Uganda.
Os sucessos iniciais do primeiro biohub inspiraram Chan e Zuckerberg a expandir – e intensificar – seus esforços filantrópicos na área da ciência. Com esse objetivo, em dezembro de 2021, a CZI anunciou que o casal investiria até US$ 3,4 bilhões (R$ 17,6 bilhões) a mais ao longo de 10 a 15 anos. Dessa quantia, US$ 1 bilhão (R$ 5,1 bilhões) seria destinado à rede Chan Zuckerberg Biohub. “Sabíamos que queríamos ter mais unidades”, diz Chan. “A questão era onde e o quê.”
Para o segundo biohub, 58 propostas (de colaborações com universidades) de todo os EUA foram apresentadas e, com a ajuda de um comitê, Chan e Zuckerberg reduziram esse número para 8 semifinalistas. Todos, diz ela, tinham “algo que estaríamos animados em financiar e fazer parte.” A decisão de escolher Chicago se deu devido à força da proposta e ao fato de que essas universidades haviam mostrado anteriormente que poderiam colaborar, afirmam Chan e Zuckerberg.
Chan, que estudou medicina na Universidade da Califórnia em São Francisco e trabalhou como pediatra antes de cofundar e se tornar co-CEO da CZI, vê que sua filantropia científica é relativamente pequena. “O financiamento à ciência é um campo enorme e o NIH é o maior player – eles financiam bilhões e bilhões de dólares todos os anos. Nós sempre seremos pequenos”, diz. “Em toda a nossa filantropia, temos que procurar o nicho que seja adequado ao que trazemos para a mesa.”
Em 2016, o casal anunciou pela primeira vez seus planos para curar, gerenciar e prevenir todas as doenças até o final do século. Seus objetivos não mudaram desde então, mas sua mensagem talvez seja mais moderada. “No geral, ainda achamos que é possíve,l e penso que é bom buscar coisas ambiciosas”, diz Zuckerberg sobre por que escolheram esse objetivo. Mas ele rapidamente explica: “Para ser claro, não achamos que vamos conseguir isso. O objetivo é construir ferramentas para acelerar o progresso em todo o campo”. O que ainda é um grande desafio.
Os biohubs são apenas uma parte das atividades científicas da CZI. Em setembro passado, Chan e Zuckerberg marcaram o lançamento do Instituto Kempner para o estudo da Inteligência Natural e Artificial na Universidade de Harvard – nomeado em homenagem à mãe de Zuckerberg, Karen Kempner Zuckerberg, e apoiado com um compromisso de doação de US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) ao longo de 10 a 15 anos para operá-lo. Ainda este ano, o casal abrirá o Instituto Chan Zuckerberg para Imagens Biológicas Avançadas em Redwood City, na Califórnia – o qual o casal se comprometeu a alocar entre US$ 600 milhões a US$ 900 milhões (de R$ 3 a R$ 4,6 bilhões) ao longo de uma década.
Provavelmente, haverá mais biohubs. Quake, o professor de Stanford que é chefe de ciência da CZI, tem como parte de seu trabalho lançar novas unidades – mas se recusou a dizer quantos mais estão planejados.
A ciência é apenas uma parte do que a Iniciativa Chan Zuckerberg financia – embora seja a maior, em termos de dólares e pessoas. As outras áreas são a educação e o apoio às comunidades na área da baía de São Francisco, com programas que abordam o acesso à habitação e a falta de moradia.
Em dezembro de 2015, para marcar o nascimento de seu primeiro filho, Chan e Zuckerberg prometeram direcionar 99% de suas ações do Facebook (agora chamado de Meta Plataformas) ao longo de suas vidas para “avançar o potencial humano e promover a igualdade por meio de filantropia e outras atividades para o bem público”. Na época, era uma promessa de US$ 45 bilhões (R$ 233 bilhões). As ações da Meta agora valem 65% a mais, tornando o valor mais próximo de US$ 74 bilhões (R$ 384 bilhões), dos quais US$ 3,9 bilhões (R$ 20 bilhões) já foram distribuídos, tanto pela Fundação CZI quanto por fundos de doação. A CZI se configura como uma sociedade de responsabilidade limitada, o que oferece menos transparência do que uma fundação de caridade privada típica.
Como Zuckerberg e Chan encaixam a função de co-CEO da CZI em suas agendas? Este é o trabalho em tempo integral de Chan – embora ela ainda mantenha suas credenciais pediátricas e, às vezes, trabalhe como voluntária nessa área. Seu objetivo, diz, é olhar para “como fazemos o que fazemos melhor, em termos de habilidades, e como podemos continuamente melhorar a resolução dos problemas em que estamos trabalhando. Tem sido incrível.”
Zuckerberg, que está ocupado como CEO da Meta Platforms – que enfrentou uma queda na receita de anúncios e demitiu 11.000 funcionários no final do ano passado -, diz: “Eu dedico muito tempo a isso, mas provavelmente no nível de qualquer uma das grandes organizações que supervisiono. Então, eu posso passar tanto tempo nisso quanto passo no WhatsApp ou Instagram.”
Por mais emocionantes que todas as descobertas científicas sejam, uma coisa que Chan e Zuckerberg não mencionaram em sua visão de curar ou cuidar de todas as doenças são as complexidades de fornecer os tratamentos que serão descobertos. A pandemia de Covid-19 destacou as lacunas nos cuidados de saúde e no sistema de saúde pública nos EUA e em outros lugares. “As pessoas tendem a pensar que a parte difícil é a ciência básica. Infelizmente, não há uma valorizaçãi do que precisa acontecer a seguir”, diz a Dra. Wafaa El-Sadr, professora de epidemiologia e medicina na Mailman School of Public Health da Universidade de Columbia. “Seja uma tecnologia, um teste ou um remédio, é preciso entender quem vai precisar dele, como podem obtê-lo, como podem pagar e confiar nele. Existem muitas etapas diferentes.”
(Traduzido por Giovanna Simonetti)
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