Se você já se perguntou sobre o futuro das viagens espaciais e da alimentação, você não está sozinho. A Zero Gravity Corporation é uma empresa de entretenimento e turismo espacial, cuja missão é compartilhar um pouco da empolgação de viajar para o espaço com o público que tem essa curiosidade. Atualmente, ela é a única empresa privada que oferece oportunidades comerciais para pessoas interessadas em experimentar a verdadeira “leveza” do espaço sem realmente ir para lá.
“‘Entretenimento espacial e turismo’ é um pouco limitador, considerando a quantidade de pesquisas científicas inovadoras que nosso negócio permite”, explica Matt Gohd, CEO da ZERO-G. “Mas, em alto nível, o papel da Zero-G na indústria espacial é tornar o espaço mais acessível para a sociedade como um todo. Apenas uma fração da humanidade experimentou a gravidade zero. Estamos mudando isso”.
Gohd encoraja: “seja você um astronauta em treinamento, um cientista conduzindo uma pesquisa inovadora ou um civil com um sonho, tudo começa no mesmo lugar: um voo com a Zero-G.”
A empresa tem feito parte de muitos estudos científicos, particularmente no espaço gastronômico, e muitas vezes serve como anfitriã de experiências culinárias em parceria com equipes de pesquisa, incluindo as do MIT.
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Como eles descobriram, a comida é fundamental para manter a saúde física e mental dos humanos no espaço. Juntos, a ZERO-G e equipes científicas estão trabalhando em como melhorar a saúde fora da Terra e estudando novas abordagens para a tecnologia alimentar. Viagens espaciais mais longas e intensas precisam de alimentos nutritivos – que também nutrem a alma, o que também é importante para o bem-estar geral.
A Forbes conversou com Matt Gohd, CEO da ZERO-G, sobre comida, conforto, o futuro das viagens espaciais culinárias e muito mais. Veja a seguir:.
Forbes: A Zero-G esteve envolvida em um experimento de gastronomia molecular. Qual papel ela desempenhou?
Matt Gohd: Como o único fornecedor de voos de gravidade zero aprovado pela FAA [Administração Federal de Aviação dos EUA], realizamos vários experimentos culinários com nossos parceiros de pesquisa, como o MIT, entre outros.
Nos últimos 19 anos, a Zero-G esteve envolvida em uma ampla gama de pesquisas culinárias, como: armazenamento de alimentos (refrigerador espacial), preservação de alimentos (armazenamento/transporte), produção de alimentos no espaço (caviar de algas), preparação de alimentos (mecanismos de cozimento e hotpot), consumo de alimentos (sabor e cheiro) e muito mais.
Esses experimentos são possibilitados por nossos parceiros de pesquisa, desde universidades até organizações privadas. Eles identificam os parâmetros, equipamentos e metodologias do experimento, enquanto nós fornecemos os voos de gravidade zero para coleta de dados e testes.
Ao voar em nosso Boeing 727 especialmente modificado, realizamos uma série de manobras acrobáticas chamadas parábolas. Pilotos especialmente treinados as realizam, não há simulação.
Cada parábola oferece cerca de 30 segundos de gravidade zero durante os quais tudo dentro do avião fica sem peso. Executamos 30 parábolas ao longo de um voo de pesquisa, o que oferece aos pesquisadores aproximadamente 14 a 15 minutos de gravidade zero para coletar dados valiosos.
F: Pode explicar exatamente o que faz uma empresa de entretenimento e turismo espacial?
MG: Nossos voos de gravidade zero não são simulados de forma alguma. É a vida real, tirando a gravidade. O Boeing 727 modificado, chamado G-Force One, voa em blocos de espaço aéreo designados pela FAA com aproximadamente 160 quilômetros de comprimento e 16 quilômetros de largura.
O processo começa com a aeronave voando no nível do horizonte, a uma altitude de 7.300 metros. Os pilotos aumentam gradualmente o ângulo para cerca de 45° em relação ao horizonte até atingir uma altitude de 9.700 metros. Durante esta fase, os passageiros sentem a força de 1,8 Gs.
Em seguida, o avião passa por cima do arco parabólico e a fase de gravidade zero começa. Nos próximos 20 a 30 segundos, tudo no avião não tem peso. Por fim, o avião sai suavemente da manobra, permitindo que os passageiros retornem gradualmente ao piso da aeronave.
Não há nada na Terra que possa prepará-lo para a sensação de experimentar a gravidade zero pela primeira vez. Nossos visitantes frequentemente descrevem a experiência como “reveladora” e “transformadora”.
F: As pessoas gostam de comer e beber bem quando viajam. Será que isso pode se aplicar a viagens espaciais?
MG: Quase certamente se aplicará a viagens espaciais, seja uma missão de exploração espacial de longo prazo ou uma visita curta a um dos hotéis espaciais de que tanto ouvimos falar hoje em dia.
Mesmo além de seu valor nutricional, a comida desempenha um papel significativo na cultura humana. Foi demonstrado que preparar alimentos promove o relaxamento e a criatividade. Compartilhar comida une as pessoas e aprofunda sua conexão.
Mas um dos maiores desafios gira em torno do armazenamento e produção de alimentos. A maioria dos alimentos é volumosa e tem prazo de validade limitado. Especialmente para missões no espaço profundo, não é nem remotamente possível enviar toda a comida da Terra. Sabemos quais são os obstáculos que inibem a alimentação no espaço, basta identificar os melhores métodos para superá-los.
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F: Nas experiências da Zero-G, a comida e a bebida desempenham este papel? Se não, irão algum dia?
MG: Comida e bebida desempenham um papel fundamental em nossa experiência Zero-G. Tudo começa com a preparação antecipada dos nossos hóspedes para o dia do voo.
Mais especificamente, aconselhamos os passageiros a evitar bebidas pesadas e alimentos gordurosos ou muito calóricos na noite anterior. No dia do voo, oferecemos a todos um café da manhã leve, que desempenha um papel importante em garantir que todos tenham uma experiência confortável.
F: Como sua empresa está ajudando a melhorar o sabor dos alimentos no espaço? Quais os desafios e dificuldades para que a comida também seja saborosa, além de nutritiva, fora da Terra?
MG: O papel do Zero-G em melhorar a comida espacial decorre de fornecer uma plataforma para mais pessoas pesquisarem e evoluírem o conhecimento existente.
No final do dia, trata-se realmente de acessibilidade. Quanto mais pessoas tiverem acesso a essas oportunidades de pesquisa, mais rápido poderemos avançar em nosso conhecimento coletivo sobre o espaço – seja relacionado a alimentos ou a qualquer outra tecnologia relacionada a ele.
F: Qual a relação entre saúde mental e sanidade com confortos – como boa comida – no espaço?
Durante os interrogatórios pós-missão, você ouvirá muitos astronautas se referirem à comida como um de seus principais confortos. Embora haja uma pequena variedade de itens de menu, as opções disponíveis são, compreensivelmente, focadas em nutrição e sustento. É liofilizado e pré-embalado para atender aos rigorosos requisitos exigidos pelas nossas capacidades atuais de viagem espacial.
Ouve-se comentários semelhantes de indivíduos que trabalham em plataformas de petróleo offshore, estações de pesquisa na Antártica e outros locais remotos – profissões que os colocam em extremo isolamento por longos períodos de tempo. Jack Stuster expressou-se melhor quando escreveu: “Quanto mais longo o confinamento, mais importante se torna a comida”.
Comida é mais do que apenas sustento. É um componente crítico para manter a moral do grupo, a produtividade e outros fatores importantes que nos tornam humanos. Não importa o quanto as viagens espaciais avancem no futuro, nunca escaparemos de nossa necessidade humana de comida.
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