Não invista em ações se não entender o que significa diversificação

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Olivier Le Moal / GettyImages

O risco diversificável em sua carteira vai diminuir à medida que você aumentar a quantidade de ações

Investir em ações é a forma mais eficiente para construção de patrimônio no longo prazo. Para o investidor iniciante, porém, isso pode parecer bastante desafiador, principalmente em momentos como o atual, onde a volatilidade da bolsa assusta e pode causar prejuízos aos inexperientes.

Se você deseja investir em ações, saiba desde já que a bolsa pode ser sua melhor amiga na evolução patrimonial. Porém, ela é uma amiga exigente e sempre vai cobrar algumas coisas de você: disciplina, estudo e paciência. Sem isso, a tendência é que você não vá muito longe.

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Existem algumas coisas importantes que você precisa compreender antes de abrir o home broker da corretora e comprar seu primeiro lote de ações:

Diversificação é imprescindível

A diversificação entre diferentes setores reduz sua exposição ao risco, funcionando como um tipo de proteção para sua carteira.

Aqui vou fazer uma ressalva importante: na renda fixa ou na variável, todo e qualquer investimento sempre terá risco. O que muda é o grau desse risco e a forma como você o gerencia. E quando eu digo gerenciar o risco, é porque esta é a única coisa que você pode fazer. Não há como eliminar o risco.

O economista Harry Markowitz ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1990 por sua Teoria do Portfólio, onde ele apresentou a matriz de risco x retorno que até hoje é utilizada por inúmeros gestores no mundo todo.

Claro que a Teoria de Markowitz não se referia exclusivamente ao investimento em ações, mas sim, ao portfólio de investimentos como um todo. Aliás, se você deseja mesmo se tornar um investidor, estude Markowitz. Isso vai te ajudar bastante no entendimento do mercado.

Vou fazer uma simplificação focando apenas em ações, e vou usar a matrix risco-retorno para te ajudar a começar a entender a questão da diversificação.

Existem duas classes de risco e demandam estratégias diferentes

Markowitz separou o risco em duas classes: diversificável e não diversificável. E para falarmos de diversificação de ações na carteira, é necessário que você compreenda esse conceito.

O risco diversificável é aquele não sistemático. Suponha que você tenha ações de uma companhia aérea e, por uma infelicidade, uma das aeronaves dessa companhia sofra um acidente. A primeira leitura do mercado é de que os resultados dessa empresa não virão tão bons, devido à credibilidade abalada, o risco de altas indenizações, etc. Isso normalmente leva a uma queda no preço das ações da companhia.

Essa queda nos preços, em alguma medida, irá alcançar também as ações de outras companhias aéreas, ou seja, todo um setor é abalado por um evento inerente à sua atividade. Por outro lado, as ações de empresas dos demais setores não serão impactadas, pois suas atividades não têm relação com o risco das aéreas.

Mitigar o risco diversificável significa não aportar todo o dinheiro em uma única ação ou em um único setor.
Ao escolher empresas de setores diferentes da economia, mesmo que um deles caia por algum evento específico, a valorização dos demais segmentos irá garantir o equilíbrio de sua carteira.

Existe também o risco não diversificável, ou seja, o risco sistemático, que potencialmente contamina todo o sistema. Ocorrências diversas de ordem macroeconômica, geopolítica, ambiental, sanitária, entre outras, podem levar a uma desvalorização generalizada de ativos, independente do segmento.

A pandemia do covid-19 é um exemplo de risco sistemático. Todos os mercados tiveram quedas significativas, decorrentes de um evento inesperado e com dimensões tão abrangentes. Independente da diversificação, todas as carteiras caíram.

A proteção possível para eventos que tragam risco sistêmico é operar com opções, que são derivativos que podem funcionar como uma espécie de seguro para sua carteira. Entretanto, esse tipo de operação é bastante arriscada. Só é recomendável para investidores experientes. Como meu foco hoje é falar sobre diversificação para quem está iniciando o investimento em ações, não vou me aprofundar em opções. Prometo voltar a este tema em outro artigo.
Diversificação é diferente de pulverização

Agora que você já compreendeu que a diversificação tem seus limites e não irá blindar sua carteira, mas sim, reduzir seu risco, vou voltar ao ponto inicial desta conversa: o risco diversificável em sua carteira vai diminuir à medida que você aumenta a quantidade de ativos, mas isso não significa que ter milhares de ações de empresas diferentes é a solução.

Comprar aleatoriamente inúmeras ações de empresas diferentes não é diversificar. O caminho ideal é diversificar setores e, dentro de cada setor, escolher as ações de empresas mais saudáveis e eficientes, montando um portfólio cujo número de ativos você consiga acompanhar.

Antes de comprar uma ação, informe-se sobre o negócio em si. O que a empresa faz? A qual setor pertence? Como é a gestão da empresa? Quais as perspectivas do mercado em que ela atua?

Todas essas informações, você consegue facilmente acessando os relatórios disponibilizados pelas próprias empresas em seu site de RI (Relação com Investidores).

Pela minha experiência, e também com base nas premissas de Markowitz, uma carteira de ações com algo entre 8 e 16 ativos divididos entre setores diversos, oferece uma boa proteção ao seu patrimônio.

De acordo com a matriz de risco e retorno, se você tem dois ativos, reduz seu risco em 50%, quatro ativos o reduzem em aproximadamente 75%, nove ativos podem reduzir o risco em 90%, e 15 ou 16 ativos potencializam uma proteção de até 95%.

Acima desse número a variação será muito pequena, e nunca chegará a zero. Portanto, manter na carteira uma quantidade de ativos que você tenha tempo de acompanhar é a melhor alternativa.

Manter a diversificação envolve rebalanceamento

Depois que você tiver montado uma carteira com ações de diferentes setores da economia, deve verificá-la regularmente para ir fazendo ajustes sempre que a proporção de alguma das ações esteja desequilibrada em relação ao que você definiu.

Suponhamos que, de acordo com seu perfil de risco e necessidade de rentabilidade, você tenha definido quatro setores e, em cada um deles, tenha alocado 25% do patrimônio destinado a ações. Vamos supor também que, por questões de mercado, o setor bancário teve um boom e as ações valorizaram muito. Concorda que essa valorização de seu patrimônio fará com que a parcela de sua carteira de ações do setor financeiro ficará percentualmente mais relevante em relação ao montante total investido?

Neste caso, para rebalancear e voltar às proporções definidas em seu plano, você tem as seguintes alternativas: aumentar seus aportes nos demais setores até que os volumes se equilibrem ou vender um pouco das ações do setor que extrapola os 25% definidos e usar os recursos para comprar mais ações do segmento cuja desvalorização o esteja mantendo abaixo dos 25%.

Nesse momento, imagino que você possa estar abismado ao me ver dizendo para você vender as ações que estão se valorizando e comprar as que estão se desvalorizando. Entendo seu espanto, pois parece contraintuitivo, mas é exatamente isso que garante uma gestão eficiente e uma valorização patrimonial consistente no longo prazo.

Normalmente os investidores inexperientes fazem exatamente o inverso: compram na alta e vendem na baixa, e isso explica por que a maioria não consegue ganhar dinheiro com ações.

Lembra que no início desse texto eu falei sobre disciplina, estudo e paciência? Pois bem, acho que agora ficou claro porque são tão imprescindíveis a quem deseja uma carteira de ações.

Eu falo diariamente sobre isso no Youtube, no canal da Autem, onde faço o Giro do Mira, analisando os movimentos das ações e explicando as tendências. Te convido a me acompanhar nessa jornada e garanto que aos poucos, tudo isso vai ficando bem simples de entender.

Investimento em ações é uma excelente forma de evoluir patrimônio, então, não desista. Obtenha boas informações, planeje suas metas e comece. Seu eu do futuro irá agradecer por você ter tomado esta decisão hoje.

 

Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

 

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