No início de 2021, Gautam Adani conquistou uma grande vitória. A Adani Green Energy, uma das oito empresas de capital aberto controladas por seu conglomerado Adani Group, havia concordado em vender uma participação de 20% para a petrolífera francesa TotalEnergies. “Temos uma visão compartilhada de desenvolver energia renovável a preços acessíveis”, disse Adani na época.
O negócio também foi uma vitória para a TotalEnergies, hoje a quinta maior empresa de energia do mundo em valor de mercado. A empresa pagou US$ 2 bilhões (R$ 10,5 bilhões) pelas ações da Adani Green Energy que, na bolsa de valores da Índia, valiam cerca de US$ 4,1 bilhões (R$ 21,4 bilhões). Como parte do acordo, a TotalEnergies também gastou US$ 510 milhões (R$ 2,7 bilhões) em uma joint venture de energia solar com o Grupo Adani.
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“É uma situação vantajosa para ambas as empresas”, diz Haran Segram, professor adjunto de finanças da Stern School of Business e da Columbia Business School da Universidade de Nova York. Em troca de uma fatia da Adani Green por uma “pechincha”, a TotalEnergies melhorou a posição do Adani Group com investidores estrangeiros. “O investimento de uma multinacional europeia de petróleo dá muita credibilidade ao Adani Group”, diz Segram.
Além de ser um bom negócio, a transação foi única por outro motivo: sua estruturação nada convencional. Em vez de comprar as ações diretamente, a TotalEnergies adquiriu dois fundos incorporados nas Ilhas Maurício (que detinham as ações) de uma terceira entidade, a Dome Trade and Investment Limited, de acordo com registros financeiros indianos.
Acontece que o proprietário final da Dome Trade – por meio de uma rede de entidades nas Ilhas Maurício, nos Emirados Árabes Unidos e nas Ilhas Virgens Britânicas – é Vinod Adani, irmão mais velho de Gautam, cujos envolvimentos offshore com o Adani Group foram revelados no início de fevereiro.
Embora Gautam, de 60 anos, seja o rosto público do Adani Group, Vinod e suas empresas offshore facilitaram alguns dos maiores negócios do conglomerado familiar. Isso inclui as duas transações com a TotalEnergies, o maior parceiro europeu da empresa, que – pelo menos até recentemente – garantiram a credibilidade do Grupo Adani junto a instituições financeiras e investidores ocidentais.
Leia mais: O império offshore dirigido pelo irmão mais velho de Gautam Adani
Em seu relatório de 100 páginas divulgado no mês passado, a empresa de pesquisa Hindenburg Research, que estava vendendo ações do grupo a descoberto, alegou que Vinod, de 74 anos, é uma figura central na alegada fraude contábil e manipulação do mercado de ações da empresa. O executivo, que não ocupa nenhum cargo formal dentro do Adani Group, não concedeu entrevista. O grupo negou todas as irregularidades. Em uma resposta de 413 páginas à Hindenburg Research, a empresa afirma que Vinod “não tem nenhum papel no dia a dia” dos negócios do Grupo Adani.
Em abril de 2022, o investimento de US$ 2 bilhões da TotalEnergies na Adani Green Energy chegou a valer US$ 11 bilhões, à medida que o preço das ações disparou. Mas agora, a empresa francesa está no prejuízo. Suas ações valem apenas US$ 1,7 bilhão devido à derrocada provocada pelo relatório do Hindenburg.
Uma das razões pelas quais o Adani Group e o Vinod podem ter desejado vender à TotalEnergies seus fundos baseados nas Ilhas Maurício em vez das ações da Adani Green Energy foi para minimizar os impostos, diz Aswath Damodaran, professor de finanças da Stern School of Business da Universidade de Nova York.
Nas Ilhas Maurício, onde não há impostos sobre ganhos de capital, cidadãos e empresas indianas há muito guardam ativos como forma de “lavar seus ganhos de capital e não ter que pagar impostos”, diz Damodaran.
Outra possibilidade, diz Mark Humphery-Jenner, professor adjunto de finanças da University of New South Wales Business School, é que ambas as partes temiam que o preço das ações da Adani Green caísse, devido à baixa liquidez. “Os fundos de Maurício – e Vinod Adani – podem ter desejado sair, mas perceberam que, se vendessem no mercado aberto, derrubariam o preço de Adani Green. Portanto, uma negociação em bloco via TotalEnergies seria uma opção melhor para Adani Green e Vinod Adani”, diz Humphery-Jenner.
Um porta-voz da TotalEnergies disse à Forbes que “o preço de compra de US$ 2 bilhões é público e foi um reflexo do preço médio histórico das ações da [Adani Green Energy] no momento da negociação” e que “essas transações foram negociadas entre as equipes de M&A e administração da TotalEnergies e da Adani”.
A Forbes apurou que o preço que a TotalEnergies pagou pelas ações da Adani Green Energy em 21 de janeiro de 2021 – o dia em que o negócio foi fechado – foi 8% menor que o preço médio no ano anterior. Vinod também esteve envolvido no primeiro acordo do Adani Group com a TotalEnergies. O grupo francês concordou em comprar uma participação de 37,4% na empresa de gás natural de capital aberto Adani Gas em outubro de 2019.
O negócio foi fechado em fevereiro de 2020, com a TotalEnergies pagando US$ 714 milhões, ou US$ 50 milhões a menos do que o mercado aberto avaliou na época. Ao contrário do acordo com a Adani Green Energy, a TotalEnergies comprou essas ações diretamente de seis diferentes entidades controladas pela Adani, de acordo com o relatório anual de 2020 da Adani Gas.
Quatro deles eram fundos baseados nas Ilhas Maurício de propriedade da Vinod; os outros eram uma empresa indiana, de propriedade de Vinod, Gautam e seu irmão Rajesh, e um fundo, do qual os três irmãos são beneficiários e curadores. Também foi um investimento muito melhor do que a Adani Green Energy: essa participação aumentou cinco vezes, agora valendo US$ 3,6 bilhões.
Vinod também participou da aquisição de US$ 6,5 bilhões pelo Grupo Adani das participações da empresa suíça Holcim nas produtoras indianas de cimento Ambuja Cements e ACC em setembro passado. Sua empresa Endeavor Trade and Investment Limited, sediada nas Ilhas Maurício, comprou uma participação de 63% na Ambuja e 57% na ACC.
Dadas essas revelações, Vinod é muito mais rico do que se pensava. A Forbes descobriu que ele possui oito empresas com sede em Maurício que detêm US$ 12,3 bilhões em ações de empresas do Adani Group, além de Ambuja e ACC.
Contabilizando as ações prometidas mais o custo para comprar as empresas de cimento, a Forbes estima que Vinod vale pelo menos US$ 6 bilhões, acima da nossa estimativa anterior de US$ 1,3 bilhão publicada há menos de duas semanas.
A Forbes atribuiu anteriormente o valor dessas ações a Gautam; seu patrimônio líquido revisado agora é de US$ 33,4 bilhões – uma queda acentuada em relação ao pico de US$ 158 bilhões em setembro passado, quando ele era a terceira pessoa mais rica do mundo. (Na noite de ontem (27), Gautam era o 38º mais rico do mundo, segundo a Forbes.)
É provável que Vinod detenha ainda mais ações nas empresas Adani por meio de entidades obscuras que ele possui com seus irmãos. El também tem um império imobiliário privado em Dubai, onde vive desde 1994. De acordo com os registros de propriedade de Dubai, Vinod possui 37 propriedades residenciais e comerciais no valor estimado de US$ 17 milhões no emirado, incluindo uma villa no Burj Khalifa, a torre mais alta do mundo.
Os dados, que datam de 2020, foram obtidos pelo Centro de Estudos Avançados de Defesa (C4ADS), uma organização sem fins lucrativos com sede em Washington, D.C., que pesquisa crimes e conflitos internacionais. Em seguida, foi compartilhado com o canal financeiro norueguês E24, que coordenou uma investigação sobre o imóvel.
Os registros de Dubai também mostram que Vinod possui um passaporte indiano emitido em 2013 e com vencimento em 2026 – um detalhe que aparentemente contradiz os registros públicos de Adani que o descrevem como cidadão de Chipre, já que a Índia não permite dupla cidadania. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O post Irmão mais velho de Gautam Adani era peça-chave dos negócios do grupo apareceu primeiro em Forbes Brasil.