“Quando entrei na comunidade de startups com 16 anos, fui muito questionada quanto às minhas intenções – as pessoas achavam que eu estava lá pra encontrar um namorado”, afirma Monnaliza Medeiros, que hoje é head de mercado e portfólio da Bossanova Investimentos e ganhadora do título de heroína do Startup Awards 2022. Originária de Natal, no Rio Grande do Norte, via o empreendedorismo como uma forma de gerar renda, assim como fizeram muitos de seus familiares, e sair da pobreza. Sendo incentivada pelos pais a estudar, ela sabia, desde pequena, que seu sonho era aplicar seus conhecimentos em ter um negócio.
Assim, aos 8 anos, montou uma venda de doces na igreja e reverteu os lucros para a reforma do local, vendendo em dois dias tudo o que tinha produzido para comercializar em duas semanas. “A adrenalina dessa experiência nunca mais me largou”, ela diz. Apesar disso, descobriu que a trajetória empreendedora não é só de sucessos ao perder quase todo o investimento que tinha feito para vender pulseiras e maquiagem na escola.
Leia também: 5 formas de jovens mulheres superarem barreiras de gênero
Foi no ensino médio técnico em administração de empresas que Monnaliza teve acesso a incubadoras de empresas, sendo estagiária na Incubadora Tecnológica Natal Central, e teve a oportunidade de abrir a sua primeira startup aos 16 anos. O negócio, cuja ideia veio da dificuldade de sua família para achar um doador do mesmo tipo sanguíneo de um familiar com câncer, conectava potenciais doadores de sangue a pessoas em necessidade por meio de um aplicativo. Mesmo participando de competições em Harvard, ainda havia a dificuldade de monetizar a ideia. Apesar da startup não ter se desenvolvido, a experiência proporcionou à Monnaliza conhecimentos de desenvolvimento de produto e do mercado de tecnologia.
Obtendo protagonismo
Depois de ter sua primeira experiência com startups, Monnaliza entrou na comunidade empreendedora de Jerimum Valley, a maior rede de startups do Rio Grande do Norte, que tinha como principal objetivo levar os investimentos para os negócios que cresciam na região.
Com as empresas se mudando para as regiões sul e sudeste do Brasil em 2018, ela assumiu o papel de liderança na reorganização da comunidade como community leader, período de três anos no qual passaram mais de 1,2 mil empreendedores pelo grupo.
Como uma das principais lideranças empreendedoras do nordeste, ela foi finalista do prêmio de heroína do Startup Awards nos anos de 2019, 2020 e 2021 e ganhadora em 2022. Isso fez Monnaliza ser notada pela equipe da Bossanova investimentos, pela qual foi contratada como community manager em 2020, semanas antes de tudo fechar por conta da pandemia. Apesar da emoção de trabalhar em São Paulo ter que esperar alguns meses, ela contribuiu para o crescimento acelerado que o fundo de venture capital teve nos últimos anos.
“Minha motivação no empreendedorismo só aumentou estando na Bossanova, porque tenho acesso ao privilegiado cenário do venture capital e ao conhecimento de fazer dinheiro”, afirma Monnaliza. Destacando sua habilidade em conectar pessoas, a head de portfólio atribui seu diferencial ao seu acesso e fácil diálogo com diferentes públicos – como empreendedores, pessoas de baixa escolaridade e investidores. Além disso, com poucas mulheres no ambiente empreendedor, especialmente em Jerimum Valley, Monnaliza se preocupa em aumentar a presença delas no ecossistema de startups e lutar contra o machismo presente nele.
Fomentando a liderança feminina no empreendedorismo
Ao presenciar casos de assédio e machismo contra fundadoras e CEOs em um dos grupos de empreendedorismo do Jerimum Valley, Monnaliza criou um novo coletivo com o objetivo de capacitar e fomentar a discussão sobre o empreendedorismo feminino. Ela própria já foi vítima desse preconceito, ao ser difamada no ambiente digital. “Infelizmente passamos por isso, mas lutar contra [esse preconceito] acabou sendo um dos motivadores da minha carreira.”
Nas várias edições de um dos eventos que ajudou a fundar no Rio Grande do Norte, o Startup Week Women, foram capacitadas mais de 450 mulheres em empreendedorismo – em um estado com uma menor rede empreendedora, em muitos anos o Startup Week Women foi o único evento do tema a ser realizado. “Fomos compensando essa balança, que antes era de maioria masculina. Quando saí do grupo, ele estava com mais de 900 membros, o que ajudou a consolidar essa cultura de inclusão no Jerimum Valley”, diz Monnaliza.
Na Bossanova, a head de portfólio continua tendo como objetivo ampliar a diversidade investindo em startups que tenham lideranças de minorias sociais em um ramo no qual a maioria dos investimentos vão para startups de fundadores homens brancos. Também, se preocupa com a presença de palestrantes mulheres nos eventos que organiza. Ainda, movimenta uma newsletter sobre conhecimentos de empreendedorismo para levar esse conhecimento às pessoas que têm menos acesso a ele – projeto que iniciou quando ainda morava o Rio Grande do Norte.
Por também ser jovem, Monnaliza foi repreendida por mostrar seu lado descontraído. Para desmentir o que diziam sobre ela e inspirar outras jovens mulheres, decidiu investir na sua presença em redes sociais. “Quero mostrar que, sim, tenho uma vida social e que consigo distribuir minha energia para além do trabalho”. Com o sonho de ainda ter seu próprio negócio de sucesso, a empreendedora dá como dica para outras jovens ter ambição e “ser egoísta” na construção da sua carreira.
O post Monnaliza Medeiros: de fundadora de banca de doces aos 8 a head de VC apareceu primeiro em Forbes Brasil.