Esta semana, o Bank of America distribuiu um relatório aos clientes, em que aponta a possibilidade de o ciclo de redução da Taxa Selic comece em agosto, bem antes do que o mercado tinha como expectativa até poucos dias.
Na avaliação do chefe de economia para Brasil e de estratégia para América Latina do BofA, David Beker, o atual cenário do mercado de crédito no Brasil pode forçar essa antecipação.
O Boletim Focus, que expressa a média das expectativas do mercado coletadas junto a 140 instituições financeiras, apontava, em seu relatório de 17/02, para a expectativa de uma Taxa Selic de 12,75% até o fim de 2023. Entretanto, na avaliação do Bank of America, o cenário básico deve ser de Selic de 11,75% no fim deste do ano, com cortes iniciando no mês de agosto em 0,5 ponto percentual.
O caso Americanas e a retração do mercado de crédito
O recente caso da recuperação judicial da Americanas (AMER3), após divulgação de um rombo contábil de R$ 43 bilhões, resvalou sobre investidores de todos os portes e escancarou uma situação bastante delicada quanto ao crédito no Brasil.
Logo depois da Americanas, outras empresas anunciaram recuperação judicial ou renegociação de dívidas, como é o caso de Light (LIGHT3), Azul (AZUL4), Marisa (AMAR3) e CVC (CVCB3), e tivemos ainda a falência de duas financeiras: BRK Financeira e PortoCred.
Todo esse cenário deixa clara uma realidade que já estava presente no radar da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). No início de janeiro, antes mesmo do caso Americanas, as projeções da Federação já indicavam uma queda na expansão da carteira de crédito em 2023, tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.
As premissas dessas projeções estavam ancoradas nas incertezas quanto à política fiscal do novo governo, levando a maioria dos analistas a acreditar que a flexibilização da política monetária pudesse ser adiada para fazer frente ao controle da inflação.
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Ocorre, entretanto, que a instabilidade no mercado de crédito causada pelo evento Americanas e por outros grandes nomes do mercado trouxe um elemento extra à cena. Essa instabilidade levou os bancos a aumentar sua provisão para inadimplência, retomando uma postura mais conservadora na concessão de crédito.
É exatamente esse o fator que, na visão do Bank of America, pode antecipar o início do ciclo de queda da Taxa Selic, dada a importância estrutural do mercado de crédito para o desenvolvimento econômico do país.
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Crise do crédito e Selic, qual a relação?
O mercado de crédito é altamente complexo e variáveis como o custo de captação de dinheiro, sua disponibilidade, o risco de inadimplência, os prazos dos financiamentos, a instabilidade fiscal, as perspectivas quanto ao crescimento econômico e a inflação afetam tanto a oferta quanto a demanda por empréstimos.
Considerando que todos esses fatores estão interligados e sofrem influência direta da política monetária, o alto custo alto do dinheiro é um entrave à concessão de crédito para financiamentos, antecipação de recebíveis e empréstimos, e esse custo é ditado pela taxa básica da economia – a Selic.
Dessa forma, ao diminuir a taxa Selic, o custo do dinheiro no Sistema Financeiro Nacional é reduzido, fazendo com que empresas e consumidores voltem a usar o crédito, aumentando a circulação de dinheiro no país, acelerando novamente a economia.
Como ficam seus investimentos
Ante a perspectiva de antecipação do início do ciclo de queda da Taxa Selic, os investimentos prefixados tendem a ser os mais interessantes para a parcela do seu dinheiro destinada à renda fixa. Entretanto, isso não significa mudar radicalmente todas as suas posições. Essa referência deve ajudá-lo no balanceamento e na destinação de novos aportes, mas não pode determinar os rumos de 100% de sua carteira de renda fixa, pois isso seria desconsiderar os ciclos de mercado.
Por outro lado, na renda variável, a tendência é que ativos bastante descontados comecem gradativamente a subir, pois o mercado já antecipa o cenário de reaquecimento da economia que, mesmo não sendo imediato, concomitante ao aumento da taxa básica de juros, é tido como certo, na medida em que o crédito mais barato possibilite às empresas voltar a investir em seus negócios.
Some-se a isso o fato de que setores que vêm sendo mais penalizados com o ciclo de alta. Os varejistas, cujo custo de financiamento de estoques é elevado quando o crédito está caro, devem ter algum respiro. Além de redução do custo de sua dívida, passam a se beneficiar com a volta do consumo das famílias. Essa melhora nos resultados pode favorecer as ações deste segmento.
Minha sugestão continua sendo a que sempre reforço por aqui: diversificação e balanceamento de carteira devem ser seus mantras. É importante entender todo esse movimento que a crise no mercado de crédito impõe à economia, pois isso pode ajudar nos ajustes específicos no momento de rebalancear sua carteira. Entretanto, sua alocação não pode ser totalmente modificada em função de variáveis presentes em um momento específico.
A economia sempre foi e sempre será cíclica, e essa é sua bússola, ou seja, manter uma carteira com diversificação em proporções adequadas aos seus planos é a sua real garantia de manutenção do poder de compra, pois é a única variável que está sob seu controle. Todo o resto são possibilidades, expectativas de analistas que também estão vivendo um momento atípico e tendo que fazer projeções em tempo real, enquanto acompanham o desenrolar dos acontecimentos.
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