A suspeita de um caso da doença “mal da vaca louca” no Pará, que está sendo investigada por autoridades sanitárias, travou o mercado do boi gordo e deixou frigoríficos no Brasil em compasso de espera nesta quarta-feira (22), com abates suspensos em diversas regiões do país aguardando um resultado.
Se o teste for positivo para a doença ainda que na forma “atípica”, quando a enfermidade é espontânea em animais mais velhos, pode impedir temporariamente as exportações de carne bovina para a China, o principal mercado, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.
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De acordo com eles, os preços da arroba ainda estão estáveis no mercado físico, com tendência de queda caso seja confirmada a ocorrência da doença, mas as cotações futuras já recuaram quase 3% na B3.
O Ministério da Agricultura informou em nota na segunda-feira (20) que estava investigando um caso suspeito de EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina), conhecida como “mal da vaca louca”.
Nestas situações, a confirmação final é feita pelo laboratório da OIE (Organização Internacional de Saúde Animal) no Canadá. Segundo o ministério, ainda não há previsão de retorno das análises.
“Existe um protocolo entre Brasil e China que faz com que o Brasil aplique um autoembargo para carne bovina aos chineses caso seja confirmada a vaca louca atípica, que surge espontaneamente em animais mais velhos – e é o que está sendo investigado”, disse o head de Agro, Alimentos e Bebidas da XP, Leonardo Alencar.
“Então, a indústria fica em compasso de espera, enquanto não tiver a confirmação do caso no Pará, não vai comprar principalmente o ‘boi China’ porque corre o risco de uma paralisação nas exportações”, acrescentou.
Não havia imediatamente informações sobre quais unidades frigoríficas estavam com operações paradas, em um mercado operado por gigantes como JBS, Marfrig e Minerva. As empresas não se manifestaram de imediato.
O ‘boi China’ é um animal com idade inferior a 30 meses no momento do abate e no máximo quatro dentes incisivos permanentes, uma especificação sanitária dos chineses que compram a carne somente vinda deste tipo de gado, cujo preço tem um prêmio em relação ao valor convencional da arroba.
Na mesma linha, o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres, disse que os abates que estavam programados não estão sendo realizados nos frigoríficos.
“Abates no país todo estão sendo suspensos desde a suspeita da doença. As boiadas que estavam agendadas saíram da programação. Não estão abatendo boi até que o resultado seja anunciado”, afirmou.
O analista da Safras & Mercado Fernando Iglesias também disse que, nesta quarta-feira, “grande parte das indústrias frigoríficas sequer divulgou preços para a arroba, outras simplesmente suspenderam abates em todo o Brasil”.
Ele destacou que os contratos do boi gordo no mercado futuro, cotados na B3, tiveram uma queda agressiva precificando o problema.
O analista da S&P Global Aedson Pereira afirmou que, mesmo sem a confirmação do caso, a suspeita já gera um desconforto a cadeia como um todo.
“Isso preocupa não só o pecuarista, mas gera uma preocupação da própria indústria pela possibilidade de não conseguir dar vazão à produção de carne… e o mercado interno está se arrastando”, disse ele.
Especificamente no Pará, onde a suspeita foi encontrada, Pereira acredita que o impacto seria ainda mais negativo, pois as praças pecuárias do Estado contam com os preços da arroba mais baixos do país, atualmente, e diferenças significativas em relação à referência de cotações de São Paulo.
Dados da S&P mostram que em Redenção (PA) o boi gordo está cotado em R$ 226 por arroba no mercado à vista e R$ 228 a prazo, contra R$ 296 a prazo em São Paulo.
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