O dólar reverteu perdas de mais cedo e fechou em alta frente ao real hoje (14), com investidores voltando a temer pressões do governo de Luiz Inácio Lula da Silva por alterações na meta de inflação do país e redução no nível dos juros.
A moeda norte-americana à vista avançou 0,43%, a R$ 5,19 na venda, depois de mais cedo ter caído até 0,93%, a R$ 5,12.
Na B3, às 17h07 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,68%, a R$ 5,20.
Hélder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, disse à Reuters que a piora no mercado doméstico nesta tarde refletiu notícia do serviço de notícias Broadcast de que Lula teria avisado à equipe econômica que quer um aumento de 1 ponto percentual na meta de inflação de 2023, atualmente em 3,25%, e a redução da Selic para um patamar próximo de 12% até o fim do ano.
A notícia foi publicada depois de mais cedo investidores terem reagido positivamente a falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que se posicionou em entrevista na noite de segunda-feira e em evento esta manhã contra eventual flexibilização dos objetivos de inflação do Brasil.
“Ontem tivemos um apaziguamento (com Campos Neto) e hoje Lula solta essa frase. Tensionou os ânimos; se um lado jogou panos quentes, falando que não vamos fazer mudanças de teor político, hoje temos isso, estressa”, disse Wakabayashi.
Os ativos brasileiros têm sido abalados pela tensão institucional entre governo e BC nos últimos dias, após críticas intensas de Lula e aliados à atuação da autoridade monetária e ao nível dos juros no país. Depois dos ataques, Campos Neto fez um aceno ao petista nesta terça-feira ao afirmar que é justo o Executivo questionar o patamar elevado dos juros e que é trabalho do Banco Central esclarecer e melhorar a comunicação em meio a esse debate.
Agora, o mercado fica à espera da primeira reunião no novo governo do CMN (Conselho Monetário Nacional), na próxima quinta-feira (16), com alguns participantes do mercado ainda se mostrando desconfortáveis com a possibilidade de que sejam discutidas mudanças para elevar as metas de inflação, mesmo que elas não sejam implementadas já nesta semana.
Perguntado sobre se haverá debate sobre os objetivos de inflação na reunião do CMN, Campos Neto disse nesta terça-feira que será preciso aguardar para ter essa resposta, ressaltando que a prerrogativa de pautar e definir o tema é do governo.
Enquanto isso, no exterior, dados de hoje (14) mostraram que os preços ao consumidor nos Estados Unidos aceleraram em janeiro na comparação com o mês anterior, embora o aumento anual tenha sido o menor desde o final de 2021.
O índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes avançava na esteira dos dados, depois de trocar de sinal várias vezes ao longo da tarde. Sinal de aversão a risco no mercado internacional, os principais índices de Wall Street operavam em baixa neste pregão.
Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão de recursos da Nova Futura Gestora, comentou que a inflação ainda pressionada nos EUA “coloca para os investidores a possibilidade bastante razoável de nós termos mais duas altas (de juros) nas próximas reuniões do Fed”, o que “de fato muda um pouco a perspectiva que nós tínhamos até a semana passada” e ajuda a explicar a piora nos mercados tanto internacionais quando domésticos.
Quando mais altos os juros na maior economia do mundo, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, conforme investidores redirecionam dinheiro para o extremamente seguro mercado de renda fixa norte-americano.
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