Entre orgânicos e sustentáveis, pantaneiros abatem quase 80 mil bovinos

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Bovinos criados no Pantanal tem valorização em programa de incentivos

Os pecuaristas sul-mato-grossenses associados à ABPO (Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável), bateram novo recorde de abates em 2022, chegando ao total de 78.337 bovinos prontos destinados aos frigoríficos. O volume representa um crescimento de 87,55% na comparação com os abates de 2021. Com isso, o programa do governo do estado de Mato Grosso do Sul, que diminui o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos produtores que optam por esses sistemas de produção – orgânico ou sustentável –, no Pantanal, totalizou R$ 9,1 milhões em bonificações aos pecuaristas, segundo a Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).

“O volume crescente de abates representa que a classe produtora está cada vez mais engajada em produzir de forma estratégica e consciente. Já os recursos gerados, via desconto do ICMS, deixam claro que políticas públicas eficientes geram resultados práticos, como a maior produção de proteínas com origem certificada, por meio de um modelo rígido de produção”, diz Eduardo Cruzetta, presidente da ABPO. “Esse modelo respeita não só o meio ambiente e as questões sociais, mas também o bolso do empreendedor rural.”

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A entidade faz uma diferenciação entre os bovinos orgânicos e sustentáveis, por meio de protocolos. No caso dos orgânicos, o animal é criado solto no pasto sem adubação química, caso recebam ração ela também precisa ser orgânica e a prevenção e tratamento de doenças são baseadas na homeopatia ou fitoterapia, além das vacinas obrigatórias. Já o selo de “boi sustentável” reconhece qualquer animal nascido e criado no sistema produtivo tradicional pantaneiro, com origem rastreada.

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Eduardo Cruzetta, presidente da ABPO, que coordena os trabalhos na região

De 2021 para 2022 a área certificada para esses sistemas de produção, orgânico e sustentável no Pantanal, avançou em 54,7%, passando de 713.612 hectares, para 1.103.712 hectares. Já o número de associados à ABPO, que administram essas área,s chegou a 96, saindo de um total de 38 associados, no período de um ano.

Segundo a Semadesc os avanço dos abates têm relação direta com o Programa Carne Sustentável do Pantanal e à adesão dos produtores ao programa, que oferece desconto de ICMS de 50% à produção sustentável e 67% àqueles que optam pelo modelo de produção orgânico. O programa que está levando renda ao pantaneiro faz parte da meta do MS de se um estado carbono neutro até 2030. “A ABPO vem atraindo um maior número de produtores para a associação. Este crescimento resulta em avanços no programa e aponta que estamos no caminho certo de obter uma pecuária sustentável, de baixo carbono, para assim, em 2030, atingirmos a meta de Carbono neutro para MS”, diz Jaime Verruck, secretário da Semadesc.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que tem uma unidade no Pantanal, localizada em Corumbá (MS), tem mostrado e coordenado pesquisas sobre a pecuária pantaneira, que tem um papel fundamental na preservação do bioma desde a colonização. Ela, de acordo com a Embrapa, “acompanhou a colonização realizada após a exploração do ouro na Baixada Cuiabana, com a gradual ocupação das pastagens nativas da planície. Com o término do ciclo do ouro, a pecuária expandiu-se pela região do Pantanal, tendo as práticas de manejo adaptadas para as peculiaridades regionais. O bovino ibérico, trazido pelos colonizadores, gradativamente se adaptou ao ambiente, dando origem ao ‘Pantaneiro ou Tucura’. Charque e couro eram os principais produtos exportados através do rio Paraguai”.

O bovino pantaneiro é considerado um patrimônio genético. Atualmente, programas como o da ABPO buscam valorizar esse tipo de animal e seu bioma, por meio da modernização do manejo, melhoria genética e carne com valor agregado. A área de pastagens no Pantanal é estimada em 2,3 milhões de hectares, com um rebanho de cerca de 9,5 milhões de bovinos.

Para o diretor executivo da ABPO, Silvio Balduíno, o atual formato utilizado pela entidade traz valor à cadeia produtiva, do consumidor ao produtor rural, passando por meio ambiente e a sociedade. “Trabalhamos pela valorização desses pecuaristas, que têm aderido ao sistema sustentável de produção em diversos biomas, a exemplo do que acontece no Pantanal de Mato Grosso do Sul”, afirma. “Toda iniciativa que tenha por finalidade a criação sustentável, e traga dignidade aos profissionais envolvidos, gerando um produto que carregue valores ao consumidor, merece destaque no mercado. Este é um caminho sem volta.”

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