Ação da Americanas derrete após escândalo contábil de R$ 20 bilhões

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Sergio Moraes/Reuters

Diante do escândalo, a CVM abriu nesta quinta-feira (12) dois processos para investigar a Americanas

As ações da Americanas afundavam nesta quinta-feira (12) após a revelação na véspera de que os balanço da companhia pode ter um rombo de R$ 20 bilhões relativo a transações com bancos e fornecedores.

O ex-presidente da Americanas Sergio Rial, que assumiu em 2 de janeiro e ficou 9 dias no cargo antes de renunciar na véspera, participou de uma conferência fechada na manhã desta quinta-feira (12) e citou que os problemas decorrem de diferenças de contabilização do custo financeiro de dívida bancária em relação à dívida com fornecedores.

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A Americanas não se manifestou sobre o assunto desde que divulgou o fato relevante sobre a descoberta de “inconsistências contábeis”. A ação da empresa está em leilão desde a abertura do mercado, chegando a indicar tombo de cerca de 90%.

Segundo Rial, a falta de clareza em torno de classificação de operações de “risco sacado”, uma antecipação de recebíveis dos varejistas junto aos bancos, como dívida bancária, é algo que permeia o setor de varejo nacional “desde a década de 1990”.

Diante do escândalo, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu nesta quinta-feira (12) dois processos para investigar a empresa. Um dos processos tem como alvo a própria contabilidade da companhia, enquanto o outro vai tratar da forma tumultuada como a empresa divulgou os problemas ao mercado.

Em sua fala, transmitida apenas em parte pelo canal do BTG Pactual no YouTube, o executivo afirmou que identificou “sinais de que talvez o nível de transparência e talvez a vontade da própria gestão em querer falar de problemas e desafios não estivesse tão fluída na organização como deveria”.

Capitalização

Em tom animado e fazendo algumas brincadeiras durante a sua apresentação no BTG Pactual, um dos credores da Americanas, Rial tentou mostrar que a varejista ainda é viável. Mas ele ressalvou que a empresa precisará de um aumento de capital significativo, sem fazer projeções sobre a dimensão do aporte que os acionistas terão de fazer na empresa após o escândalo.

“Ninguém definiu um número. Ninguém tem a menor dúvida de que não será de milhões… Tão longo a gente tenha (clareza sobre a situação) a gente vai definir o que é necessário. O que é importante agora é manter a empresa funcionando”, disse o executivo. Ele segue sendo assessor dos acionistas de referência da Americanas, que incluem os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

A Americanas afirmou na véspera, apesar de não conseguir determinar todos os impactos no balanço neste momento, acreditar que “o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”. Rial afirmou que no curto prazo não vê impacto no caixa da companhia, mas citou que isso é se os bancos credores da empresa “não decidirem acelerar a dívida, aí vai ser historia judicializada”.

Segundo ele, a Americanas tem cerca de R$ 9 bilhões em caixa e que poderá gerar um lucro operacional medido pelo Ebitda de R$ 1,5 bilhão a R$ 1,7 bilhão “neste ano”, ante R$ 3,3 bilhões em 2021. A dívida bruta de cerca de R$ 30 bilhões é de longo prazo em sua maior parte, disse o executivo.

“Vai ter um capex (investimento) menor, vai ser capaz de gerar mais capital de giro do que em 2022, não vai ser capaz de pagar despesas financeiras em sua totalidade e portanto vem aqui a necessária infusão de capital”, disse Rial, incluindo entre as opções um “movimento estratégico” que poder abrir “oportunidade para redesenhar algumas coisas no setor”.

Questionado se os R$ 20 bilhões estão fora do balanço, Rial negou, afirmando que até “onde pode ver” durante os dias em que foi presidente-executivo “todas as dívidas foram pagas, os fornecedores foram pagos”.

Como referência, o patrimônio líquido da companhia no fim de setembro era de R$ 14,7 bilhões.

A Americanas anunciou indicou de Otávio Yazbek, Vanessa Claro Lopes e Pedro Melo para compor um comitê independente encarregado de apurar o rombo contábil.

Revisão das corretoras

Uma série de corretoras colocou as recomendação das ações da Americanas em revisão desde a noite de quarta-feira (11).

A equipe do Bradesco BBI, por exemplo, classificou o episódio como “inconsistência contábil considerável e sem precedentes” e considerou a notícia “bastante negativa”.

A XP Investimentos citou que a saída de Rial, que enxergava como pilar importante para sustentar o processo de transformação da Americanas, representa um risco para a tese de investimento na empresa, enquanto o escândalo contábil pode implicar maior alavancagem e riscos de processos judiciais nos Estados Unidos.

Já o Citi considerou que a “claramente, este ainda é o começo de uma longa e complexa história”. O Morgan Stanley retirou a recomendação “overweight” para as ações da Americanas.

Para a BB Investimentos, as chamadas operações de risco sacado são comuns no setor varejista e a transparência das informações divulgadas pode variar de companhia para companhia.

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