Disciplina é liberdade. Outro dia, Cauã Reymond ouviu essa frase e se identificou. Aplicado, inquieto e resiliente, ele coleciona sucessos na TV e no cinema, é um dos atores mais bem-sucedidos do país e agora vem se lançando em outros papéis: produção de filmes e séries, novos negócios e empreendimentos surpreendentes. Em busca de personagens instigantes para representar no cinema, há anos começou a coproduzir filmes em que atua. Agora, essa experiência empresarial está possibilitando alçar outros voos. Recentemente, firmou parceria com a marca de moda masculina Aramis, com a qual está em seu segundo contrato. Também acabou de fechar negócio com uma incorporadora imobiliária, virou investidor em uma startup de comunicação digital ligada ao grupo de Roberto Medina e firmou uma sociedade com a rede de estúdios de spinning Velocity.
“Estou super bem-resolvido com a minha caminhada como ator. Meu trabalho de produtor ainda engatinha, mas, de qualquer forma, me trouxe um olhar confiante para focar em empreendimentos novos e diferentes”, diz ele. “E as coisas estão acontecendo.”
A parceria com a Aramis, da qual Cauã é garoto-propaganda, começou com um contrato de trend hunter. Ele, que iniciou a carreira como modelo, tem um olhar antenado para as tendências e ficou responsável por captar movimentos da indústria, com insights para novas peças e produtos. Sua participação logo cresceu, e ele acabou criando uma coleção cápsula de roupas com modelos de calças, linhas de camisetas, tênis e acessórios, intitulada A+ Cauã Reymond. Durante as campanhas de moda, novamente, auxiliou o time de marketing trazendo um olhar mais arejado para a imagem da campanha. “Um indicador de que essa parceria com a Aramis deu certo é que extrapolamos a cláusula de Success Fee do contrato, depois de alcançar todas as metas de venda”, diz ele. “A carreira de modelo foi rápida, mas minha relação com a moda nunca parou.”
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E uma coisa leva a outra. No início do ano, durante um voo a Dubai em uma ação da marca francesa Jean Paul Gaultier, Cauã e seu agente e empresário, Luciano Ribeiro, conheceram o incorporador imobiliário com quem firmariam parceria. Ali, surgiu a ideia de um modelo de empreendimento que agora está se concretizando. Trata-se do Biosphere, um conceito para a criação de condomínios que prevê o reuso de água, estrutura para bicicletas e carros elétricos, área de lazer com sala de meditação e ioga, melhorias no entorno do condomínio, entre outras iniciativas. “Esse conceito está à venda para incorporadoras do Brasil inteiro. A Mota Machado, segunda maior incorporadora de Fortaleza, já comprou e está lançando o primeiro condomínio Biosphere, afirma Ribeiro. “Nós ganhamos uma porcentagem em cima do VGV [valor calculado pela soma do potencial de venda das unidades de um empreendimento a ser lançado] e o Cauã participa de todo o projeto imobiliário, dando o seu aval e opinando em tudo, inclusive, no estilo arquitetônico. Ele não é só um garoto-propaganda.”
“O Luciano trouxe um olhar diferente para a minha imagem acreditando que podemos empreender em diversas áreas”, comenta Cauã, lembrando que tem outros dois projetos em desenvolvimento. Um é ligado à área esportiva e reflete o lifestyle atlético do ator. Trata-se de um novo modelo de bicicleta interativa, em parceria com a Velocity, empresa conhecida por sua rede de estúdios de spinning, que conta também com uma plataforma com conteúdo online. “Um dos sócios da Velocity convidou o Cauã e criou um aplicativo que chama Sweatify, no qual você pode fazer aula de bike em casa com a orientação de um app, que tem mais de 400 aulas gravadas. De novo, o Cauã não é garoto-propaganda; ele é um dos sócios nessa empresa, e recebe participação nos lucros”, explica Ribeiro.
O outro projeto é a startup Acelera Aí, em parceria com o empresário Roberto Medina, da ArtPlan, do Rock in Rio, além de outros investimentos. “O Acelera Aí é uma grande Netflix da propaganda, com mais de 3.000 opções de campanhas publicitárias para serem personalizadas no site”, diz Ribeiro. “É um negócio muito interessante, porque democratiza a publicidade e pode mudar a vida de pequenos e médios empresários do país inteiro, acelerando seus negócios com artistas como Rodrigo Faro e Jojo Todynho em suas propagandas, de uma forma econômica.” Segundo Ribeiro, a empresa hoje está avaliada em torno de R$ 80 milhões, e a previsão é que chegue a R$ 1 bilhão. “Naturalmente, por ser artista, costumava falar só com o departamento de marketing das empresas. E, nesse novo momento, falo com o dono da empresa, converso de um jeito diferente com a equipe e contribuo de novas maneiras, o que é bem legal”, celebra Cauã.
Apesar do papel de empresário estar cada vez mais presente em seu dia a dia, Cauã continua tocando a carreira de ator. Contratado da Rede Globo, já confirmou o convite para ser o protagonista da próxima novela das 21h. Também segue com projetos nos bastidores, como criador e produtor. “Mata-Mata”, série sobre os bastidores das negociações no futebol, que é um projeto dele, está aprovado pela direção de dramaturgia da Globo. Por trás das câmeras, tem um currículo extenso de produção. Em parceria com o antigo agente, Mario Canivello, montou a Sereno Filmes, produtora de cinema que estreou com dois projetos: “Pedro”, em coprodução com Laís Bodanzky, que também assina a direção do longa; e “Azuis”, baseado na obra do falecido jornalista e escritor Rodrigo de Souza Leão, com direção de Felipe Bragança. Reymond também atuou como coprodutor ou produtor associado em diversos longas dos quais participou, como “Se Nada Mais Der Certo” e “Alemão” (ambos de José Eduardo Belmonte), “Tim Maia” (de Mauro Lima), “Reza a Lenda” (de Homero Olivetto) e “Não Devore Meu Coração” (de Felipe Bragança). Hoje, Cauã e Canivello já não trabalham mais juntos.
E Cauã Reymond segue produzindo com disciplina. “Desde muito cedo, entendi que, para crescer, eu tinha que ter disciplina. Nada na minha vida seria um oba-oba. Venho de uma família simples, minha avó era empregada doméstica, minha mãe foi adotada. É uma história relativamente difícil; as duas já não estão mais aqui, mas a gente passou bastante dificuldade. A família do meu pai dava um suporte, foram muito importantes na minha formação, me colocaram em escolas que eram de classe média. Mas, em casa, eu não tinha essa estrutura”, lembra ele.
“Nunca me esqueci de onde eu vim. Por muito tempo, o medo do meu ego tomar uma proporção ruim era tão grande que eu não abraçava as minhas possibilidades todas. Hoje, isso mudou. Vejo esse meu movimento de expansão com orgulho e alegria.”
*Entrevista publicada na edição 102, lançada em outubro de 2022
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