As grandes empresas já detectaram que, para não ficar para trás, é preciso ter um dedo no pulso da inovação. Quando falo em inovar na advocacia, por exemplo, alguns dizem que estou querendo reinventar a profissão. Talvez ela precise ser reinventada mesmo. Mas confesso que tenho mais perguntas sobre isso do que respostas.
E aí me lembro da anedota do fazendeiro que criou a galinha de três pernas e sonhava em ficar milionário, afinal, ‘todo mundo gosta de coxa de galinha’. Ao ser perguntado sobre o sabor das galinhas, o fazendeiro disse: “não sei, ainda não peguei nenhuma. As galinhas de três pernas são velozes demais.” Vivemos assim: correndo atrás da inovação.
O sentido de inovação a que me refiro aqui, no entanto, é o de explorar formas criativas de melhorar processos, do autoaperfeiçoamento para proporcionar uma experiência mais rica a clientes, e ainda uma busca por uma melhor prestação de serviços. A inovação é uma mentalidade que precisa ser culturalmente incorporada.
Não à toa, o número de empresas que relatam que a inovação está entre as suas três prioridades aumentou 10 pontos percentuais em 2021, saltando para 75%, segundo pesquisa do Boston Consulting Group. Dois terços dessas empresas colocaram o clima e a sustentabilidade em seus radares.
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No mercado do Direito, temos notícias diárias de disputas jurídicas que surgem em ambientes emergentes, algumas envolvem as maiores corporações do planeta e bilhões de dólares. Como exemplo, vale citar a disputa entre o Uber e a Waymo, da Alphabet, que está dando continuidade ao veículo sem motorista do Google, e que acusou o Uber de roubar sua tecnologia. Podemos ainda lembrar dos irmãos Winklevoss, que acusaram Zuckerberg, do Facebook, de copiar a ideia deles quando estudavam em Harvard. Ou ainda a batalha da Apple contra a Samsung por violação de várias patentes relacionadas ao iPhone.
Para aqueles que gostariam de atuar da mesma forma que há duas décadas, os casos acima e tantos outros, mesmo que não envolvam gigantes da tecnologia, indicam que estamos em um outro ambiente. Não é possível entrar hoje em uma empresa e fazer uma viagem ‘de volta ao passado’, com tantas e constantes mudanças
tecnológicas e na indústria.
“Mesmo que você esteja no caminho certo, você será atropelado se ficar sentado nele” (Will Rogers). Seja qual for a área de atividade, a inovação deve ser vista como uma forma de permitir que seus clientes façam negócios com você com mais facilidade.
E uma empresa, assim como a advocacia, só poderá criar valor se seu sistema de inovação estiver pronto para traduzir prioridades e assumir compromissos com resultados. Bons líderes de inovação sabem como ouvir e dar boas-vindas a novas ideias e aqueles que as têm.
Já lembrei a piada da galinha de três pernas, lembro agora a história do rato perdido na floresta, que pediu ajuda à coruja para encontrar a saída.
“Fácil”, disse a coruja, “cresça asas e voe, como eu faço.”
“Mas como posso criar asas?”, perguntou o rato.
“Não me incomode com os detalhes, só aconselho sobre a estratégia.”
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados.
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Artigo publicado na edição 102, de outubro de 2022.
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