Morre Pelé, o maior jogador de futebol do mundo

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Lucas Jackson/Reuters

Pelé foi tricampeão mundial com a seleção brasileira em 1958, 1962 e 1970

Morreu hoje em São Paulo Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, aos 82 anos, devido a complicações de um câncer de cólon, diagnosticado em setembro de 2021. O ex-jogador estava internado desde 29 de novembro para reavaliação da quimioterapia e tratamento de uma infecção respiratória no hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Tricampeão mundial com a seleção brasileira em 1958, 1962 e 1970, Pelé fez uma cirurgia para retirada de um tumor no cólon em 2021 e desde então fazia tratamento quimioterápico para combater a doença. No início do mês, no entanto, o ex-jogador parou de responder ao tratamento, e a quimioterapia foi suspensa. Pelé passou então a receber medidas de conforto para aliviar a dor e a dificuldade para respirar.

Pelé foi o melhor jogador de futebol do mundo, com o maior número de gols marcados, considerando-se partidas oficiais e amistosos, passando quase toda a sua carreira no Santos Futebol Clube. Também foi um dos primeiros atletas brasileiros a associar seu nome à publicidade e a transformar-se em uma marca. Foi uma celebridade mundial e teve uma breve carreira artística.

Recorde de 1.283 gols marcados

Apelidado de “Rei”, Pelé foi o melhor jogador do mundo. Pelos dados da Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS), ele marcou 1.283 gols nas 1.363 partidas que disputou, considerando-se amistosos e jogos não oficiais. O número permanece um recorde mundial.

Nas 812 partidas oficiais de que participou, ele marcou 765 gols. Esse recorde, batido em 29 de junho de 1975 em um jogo do Cosmos contra o Washington Diplomats, demoraria 45 anos, oito meses e três dias para ser superado pelo jogador português Cristiano Ronaldo, ao marcar um gol pela Juventus italiana contra o Verona no dia 27 de fevereiro de 2021.

Além da enorme quantidade de gols, Pelé foi o único jogador a ser campeão do mundo por três vezes, nas Copas de 1958, 1962 e 1970. Também foi o maior goleador da Seleção Brasileira, tendo marcado 77 gols nos 92 jogos que disputou.

No ano 2000, foi considerado Jogador do Século pela IFFHS e Atleta do Século pelo Comitê Olímpico Internacional. Foi um dos dois vencedores conjuntos do prêmio Melhor Jogador do Século da Fifa.

Origem humilde

Pelé nasceu na cidade mineira de Três Corações, em 23 de outubro de 1940, filho do jogador de futebol João Ramos do Nascimento, apelidado Dondinho, e de Celeste Arantes, que completou 100 anos no dia 20 de novembro deste ano. Seu nome é uma homenagem ao inventor americano Thomas Edison, mas foi escrito de maneira incorreta pelo profissional do cartório que registrou o recém-nascido. O apelido veio da infância: ele admirava o goleiro de um time de Minas, chamado Bilé, cujo nome pronunciava como Pelé.

Criado em Bauru, interior de São Paulo, Pelé começou a jogar futebol ainda criança nos clubes da cidade, e já era um atacante excelente, que garantia a vitória em vários jogos. Nesse período, devido à dispersão do clube em que atuava, ele passou um tempo jogando futebol de salão. Os jogos na quadra pequena são mais rápidos, o que deu ao atleta uma rapidez de decisão que faria a diferença no futebol de campo.

Carreira profissional

Em 1956, aos 15 anos, contra a vontade da mãe que não queria mais um jogador de futebol na família, Pelé foi com Waldemar de Brito, seu técnico no Bauru, ao Santos Futebol Clube. Aí começou sua história com o clube que duraria até 1974. Ao participar de um Torneio Rio-São Paulo em 1957, Pelé chamou a atenção da imprensa esportiva e de Sylvio Pirillo, então técnico da Seleção Brasileira.

Estreou na Seleção com a camisa 13 no dia 7 de julho de 1957 em um jogo no Maracanã contra a Argentina, marcando seu primeiro gol. Tinha 16 anos e nove meses, até hoje o jogador mais jovem a marcar um gol pela Seleção oficial. No ano seguinte foi à Suécia participar de sua primeira Copa do Mundo e foi essencial para a vitória brasileira, tendo marcado vários gols. Foi responsável por três tentos na vitória sobre a França na final, por 5 a 2.

Pelé também garantiu a vitória do Brasil na Copa de 1962 no Chile, mas sofreu uma lesão no primeiro jogo da Copa de 1966 na Inglaterra, em que o Brasil foi desclassificado. Levaria a Seleção ao tricampeonato em 1970 no México, sua última participação em uma Copa.

Estados Unidos e uso da marca

Pelé se aposentou do Santos em 1974. No ano seguinte, porém, assinou um contrato com o Cosmos, time de futebol de Nova York, por um valor estimado de US$ 7 milhões por três anos. Em valores atualizados, seriam US$ 38,5 milhões (R$ 200 milhões), o que tornou Pelé o atleta mais bem-pago do mundo à época. O acordo resolveu dificuldades financeiras do jogador, que havia sido avalista de empresas que faliram, e ajudou a popularizar o futebol nos Estados Unidos.

Como o Cosmos pertencia ao grupo de entretenimento Warner, o acordo permitia a utilização da imagem do atleta, que também foi contratado para ser relações públicas da empresa. A experiência lhe rendeu vários contratos publicitários no Brasil e em outros países. Pelé se aposentou definitivamente do futebol ao encerrar seu contrato com o Cosmos, em 1977. Ainda disputaria partidas esporádicas, mas o futebol já era passado.

Carreira artística e atuação política

Pelé teve atuações artísticas esporádicas. Além de três documentários sobre sua carreira, ele participou de cinco filmes brasileiros e uma produção internacional, “Fuga para a vitória” de 1981, dirigido por John Huston. Ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, o filme trata de um jogo de futebol entre alemães e prisioneiros de guerra. Pelé interpreta um jogador de Trinidad. Em entrevistas, o ator inglês Sir Michael Caine, então com 47 anos, disse que só concordou em participar do filme para atuar ao lado do jogador.

Pelé sempre evitou se envolver com política. Porém, em 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Pelé foi indicado Ministro do Esporte, cargo que ocuparia até 1998. Sua principal bandeira foi a modernização do futebol e a garantia dos direitos trabalhistas aos atletas profissionais, que seria regulamentada com a Lei Nº 9.615/98, também conhecida como “Lei Pelé”.

A lei, que sofreu forte oposição das lideranças do esporte durante sua tramitação, extinguiu o “passe”, documento que prendia o jogador ao clube, mesmo que o atleta estivesse sem contrato. A lei também passou a exigir que os clubes pagassem imposto de renda.

Vida pessoal

Pelé teve uma vida pessoal movimentada e com algumas polêmicas. Casou-se três vezes e teve sete filhos. O primeiro casamento foi com Rosemeri dos Reis Cholbi, com quem teve três filhos: Kelly Cristina, nascida em 1967, Jennifer, nascida em 1978 e Edson, ou Edinho, nascido em 1970.

Também jogador e atualmente é técnico da divisão juvenil do time paranaense Londrina. Edinho teve problemas com a justiça. Foi processado por um racha na cidade de Santos que teve uma vítima fatal e passou dois anos preso, entre 2017 e 2019, por envolvimento em uma quadrilha de tráfico de drogas. Pelé e Rosemeri se separaram em 1980.

Antes do casamento, Pelé teve a filha Sandra (1964-2006) com uma empregada doméstica, mas não a reconheceu. Sandra teve de provar a paternidade de Pelé na Justiça. Em 1970, ainda casado com Rosemeri, foi pai de Flávia Kurtz, em um relacionamento extraconjugal com a empresária Lenita Kurtz.

Após se separar de Rosemeri, Pelé teve várias namoradas. O relacionamento mais longo e comentado foi com a então modelo Xuxa Meneghel, entre 1981 e 1985. Em 1994, o atleta se casou com a cantora gospel Assíria Seixas Lemos Nascimento, com quem teve os gêmeos Joshua e Celeste, em 1996. O casal se separou em 2008. Pelé se casou pela terceira vez em 2016 com a empresária Márcia Aoki.

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