O erro monumental do FMI

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Dado Ruvic/Reuters

Imagem de uma nota de 1 dólar com um vidro rachado

Há décadas, o Fundo Monetário Internacional tem sido um flagelo para os países que entram em apuros econômicos. Mas sua autoridade nunca foi questionada a sério. Hoje isso é particularmente perigoso. A combinação mortal de inflação e escassez de alimentos está deixando inúmeros países à beira do desastre. Alguns, com destaque para o Sri Lanka, já vivem o caos.

Muitos países são particularmente vulneráveis porque se endividaram durante os anos de dinheiro fácil que se seguiram à crise financeira de 2008-2009, quando as taxas de juros estavam próximas de zero. Agora, com o custo do dinheiro em alta e as fontes dos bancos centrais secando, dezenas desses governos serão pressionados a pagar suas dívidas. Para vários países mais pobres, isso significa não só que a escassa renda de quem já vive na pobreza real encolherá, mas também que haverá fome, se não penúria – situação terrível agravada pelos jogos mortais que Vladimir Putin está jogando com as tão cruciais exportações de grãos da Ucrânia.

Um fato perturbador é que a quantidade de dinheiro que esses países devem é desconhecida. A China emprestou enormes montantes a vários países, mas a transparência, nesse caso, passa longe do ideal.

O FMI deveria ser o médico econômico ao qual os países recorrem quando têm problemas. As equipes do FMI voam para as nações atingidas e “negociam” (no sentido Tony Soprano da palavra) os termos nos quais os governos receberão o dinheiro emergencial. O problema é que o FMI é culpado de charlatanismo econômico em escala global. A primeira exigência do FMI é que o país desvalorize sua moeda, mas tornar uma moeda menos valiosa é a própria definição de inflação. É como dizer a alguém com pneumonia para se sentar na neve.

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O FMI acha que a cura da inflação é deixar as pessoas mais pobres; por isso, obriga os países a aumentar os impostos. O organismo também ordena a eliminação de subsídios politicamente populares – em geral, de combustíveis e certos alimentos. Em princípio, isso é bom, mas o “timing” do FMI é terrível. As pessoas que vivem nas margens da sociedade veem seus auxílios desaparecer, e o resultado são = tumultos.

Em vez disso, o FMI deveria prescrever o que o economista Nathan Lewis chama de “fórmula mágica”: baixas alíquotas de imposto e dinheiro estável. Essa combinação sempre funciona. Em vez de desvalorizações, os países deveriam adotar fundos de estabilização cambial, por meio dos quais seu dinheiro é atrelado a uma moeda confiável, como o franco suíço. Os fundos de estabilização cambial são infalíveis em conter a inflação.

No entanto, o histórico do FMI de receitar remédios absurdos e contraproducentes ainda não provocou um questionamento sério por parte de seus maiores doadores, principalmente os Estados Unidos.

Com tantos países em grandes dificuldades, essa má conduta crônica causará desordens destrutivas e levará a mortes desnecessárias. É verdade que os países que o FMI ajuda costumam ser culpados de imprudência nos gastos e excesso de controle governamental sobre sua economia. Mas isso não justifica administrar-lhes medicamentos claramente nocivos.

Veja o Paquistão, país eternamente mal gerido que acabou de negociar um pacote de resgate com o FMI. Como esperado, o FMI determinou o aumento dos impostos e a eliminação de subsídios dos combustíveis, e o país foi sacudido por tumultos.

Steve Forbes é presidente e editor-chefe da Forbes norte-americana. Escreve editoriais para todas as edições da versão impressa da Forbes, com reprodução na edição brasileira da revista, com o mote “Fato e Comentário”. Amplamente respeitado por seus prognósticos econômicos, ele é o único escritor a ganhar o prestigioso prêmio Crystal Owl Award quatro vezes.

Artigo publicado na edição 102 da revista Forbes, em outubro de 2022.

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