Em muitos aspectos, peixes e outros frutos do mar são um dos principais recursos renováveis do mundo. Mas eles só continuarão a desfrutar desse status se os estoques forem cuidadosamente administrados e cultivados com segurança.
Quase um terço de todos os estoques pesqueiros globais monitorados são super explorados e quase dois terços (60%) estão sendo pescados com o rendimento máximo sustentável. Muitos cientistas temem que continuar a pescar nesse ritmo pode, em breve, resultar no colapso dos estoques mundiais.
LEIA MAIS: Por que os peixes cultivados no Brasil podem chegar a 1 milhão de toneladas em 2025?
Para que o peixe permaneça no cardápio, o setor pesqueiro precisará começar a adotar práticas mais sustentáveis. Mitch Tonks, co-fundador da Devon Environment Foundation, disse que a indústria pesqueira no Reino Unido é pequena, em comparação com outras partes do mundo, onde os oceanos estão sendo “super explorados”. “Quando vou para a Espanha e vejo a escala da extração de peixe em lugares como Vigo e Galícia, simplesmente não consigo acreditar”, disse ele à Forbes.
Acrescentou, também, que comer peixe faz parte da cultura espanhola, quase como o futebol é na Inglaterra, por isso a demanda é muito maior. “Se você continuar pescando além dos limites seguros, acabará pegando o último peixe, e esse seria o momento mais horrível de qualquer lugar”, disse Tonks. Mas também disse não acreditar que a solução fosse necessariamente ter regulamentos mais rígidos para proteger os estoques de peixes.
Em vez disso, defendeu uma “abordagem mais coletiva” com pescadores trabalhando com cientistas e ambientalistas para encontrar caminhos a seguir e como o meio ambiente e as comunidades pesqueiras podem ser preservados. Dessa forma, disse ele, as pessoas ainda podem aproveitar para comer peixe em “níveis sensatos”.
Jack Emmerson, gerente de política de pesca do Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Agricultura da Ilha de Man, afirmou que os peixes são frequentemente descritos como um “recurso renovável, mas esgotável”. “Se você puder colhê-los de forma sustentável, eles estarão lá para as gerações futuras”, disse Emmerson à Forbes.
Mas acrescentou que, para colher os estoques de forma sustentável, muitos dos regulamentos e acordos de licenciamento, principalmente no Reino Unido e na UE, precisam ser “reconfigurados” para dar mais flexibilidade aos pescadores.
Disse, também, que o consumidor precisa ser estimulado a se afastar de espécies populares como salmão de viveiro, atum e camarão que são importados de todo o mundo e experimentar tipos de peixes que estão prontamente disponíveis em águas britânicas, como John Dory.
Outra pessoa que criticou o aumento do salmão de viveiro é o chef de Edimburgo Lloyd Morse, que recentemente convocou restaurantes em toda a Escócia para se juntarem a ele na recusa de servi-lo. Declarou que é preciso entender como o salmão de criação é “atroz”. “Não deveria estar em nossas águas e não deveria estar em nossos restaurantes”, acrescentou.
Morse apoiou uma campanha da instituição de caridade Wildfish, que adverte que um em cada quatro salmões de criação não sobreviverá ao período em que estiverem confinados em fazendas de rede aberta na costa oeste e nas ilhas escocesas. No mês passado, o estado de Washington tornou-se o último a proibir as fazendas de peixes com rede aberta, juntando-se à Califórnia, Oregon e Alasca, bem como à Argentina e à Dinamarca.
Olhando mais longe, Chris Gorell Barnes, sócio fundador da Ocean 14 Capital, disse que “teremos chance zero de consertar a crise climática” se o mundo não encontrar formas mais sustentáveis de proteína, incluindo alternativas aos estoques de peixes alimentados pelo mar. A Ocean 14 Capital é fundo de private equity focado no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 (ODS 14) das Nações Unidas.
A Ocean 14 Capital investiu recentemente mais de 10 milhões de euros na produtora brasileira Tilabras, que cultiva a tilápia, um peixe branco, a preços acessíveis. No caso da Tilabras, com fazenda de criação em Selvíria (MS), ele disse que os peixes cultivados são alimentados com uma dieta vegana totalmente sustentável, minimizando sua pegada de CO2.
Se cultivada corretamente, Gorell Barnes disse que a tilápia na verdade é “provavelmente a forma de proteína mais eficiente e sustentável” e mais acessível do que outros peixes comumente cultivados, como o salmão. Acrescentou que essa espécie de peixe já ganhou muita força na Índia e na China também, mas até agora permaneceu “subestimada” nos mercados ocidentais. “Até agora, o peixe branco tem tido pouco investimento – ao contrário do peixe rosa e do salmão – e vemos uma oportunidade aqui para construir plataformas de peixe branco”, disse ele à Forbes.
Francisco Saraiva Gomes, outro sócio fundador e diretor de investimentos da Ocean 14 Capital, concorda e diz que a tilápia costuma ser descrita como o “frango do mar”, e que pode ser cozida de várias maneiras. “A tilápia cultivada no interior do país, em locais artificiais de alta capacidade de carga, é a alternativa mais sustentável ao peixe branco pescado no oceano”, acrescentou.
( Em 2021, o Brasil produziu em cativeiro 841 toneladas de peixes, crescimento de 4,7% no ano, de acordo com a Peixe BR, a Associação Brasileira de Piscicultura. A tilápia respondeu por 65% da produção. Neste ano, até novembro, o Brasil exportou 6,9 mil toneladas do peixe, por US$ 21,6 milhões.)
O post Peixe sustentável é negócio a ser construído e Brasil tem o caminho apareceu primeiro em Forbes Brasil.