O ano de 2022 não foi bom para a indústria dos fundos de investimento. No acumulado do ano (até 13 de dezembro), a indústria registrou um resgate líquido (somando depósitos e retiradas) de R$ 26,16 bilhões, com destaque para o fluxo negativo dos fundos de ações e multimercados, segundo dados da Anbima, associação que representa o setor.
Em termos absolutos, a maior baixa foi nos fundos multimercado. Eles perderam R$ 84,24 bilhões desde janeiro, montante equivalente a 5% do total de R$ 1,6 trilhão que o setor acumulava até o último dia 13. Já em termos relativos, os fundos de ações foram os mais prejudicados, com resgates líquidos de R$ 67,89 bilhões, equivalentes a 15% do patrimônio atual de R$ 460,89 bilhões.
Fundos cambiais e ETFs (fundos que acompanham índices de referência) também acumulam fluxos negativos no ano, de R$ 147 milhões e R$ 356 milhões, respectivamente, enquanto previdência e renda fixa se encaminham para fechar 2022 com saldos maiores do que em janeiro: previdência ganhou R$ 10,5 bilhões e renda fixa R$ 73,8 bilhões.
Rafael Marques, CEO da Philos Invest, explica que o cenário de 2022 foi muito avesso a ativos de risco. “Com o início da guerra na Ucrânia mais o período eleitoral, é razoável a diminuição do apetite por risco nas carteiras”, diz Marques.
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Somado a esse contexto, o mercado brasileiro também registrou aumento na taxa de juros e maiores emissões de títulos de renda fixa. “Com retorno acima da inflação, e com possibilidade de render mais até do que o CDI, dá para entender que os investidores optem por diminuir seus riscos e optar pelo porto seguro de um ativo de renda fixa com bons rendimentos”, acrescenta o CEO da Philos.
Instrumentos de renda fixa isentos de Imposto de Renda, como CRIs (certificados de recebíveis imobiliários) e CRAs (certificados de recebíveis do agronegócio), tiveram aumento de emissão neste ano quando comparados com 2021. As emissões de CRI aumentaram em 50%, para R$ 41,25 bilhões até novembro, enquanto os lançamentos de CRA quase dobraram de volume, para R$ 38,68 bilhões, segundo dados da Anbima.
O que esperar de 2023
Para o próximo ano, os analistas consultados pela Forbes foram unânimes ao afirmar que o cenário é incerto e a leitura é difícil tanto no contexto global quanto no nacional.
“Ser conservador em 2023 parece ser a melhor opção”, diz Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. “Manter os ativos aplicados em títulos pós-fixados, com juros a 13,75% ao ano, garante ao investidor uma rentabilidade próxima de 1% mensalmente.”
O sócio-fundador da assessoria de investimentos afirma que 2023 será complicado para a bolsa brasileira e as bolsas internacionais. Segundo ele, dado o aperto de juros em nível global, a pressão no segmento de renda variável irá continuar.
Fundos de renda fixa
Neste ano, os fundos de renda fixa entregaram o melhor retorno, de 11,77%, segundo dados de mediana da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), compilados pela Economática. Rodrigo Correa, estrategista-chefe da BRA, acredita que o cenário para os fundos de renda fixa em 2023 continuará favorável, com entrega “de 100% do CDI, em média” – as variações seriam entre 80% do CDI até 120%, indica Correa.
O estrategista pontua que a Selic deve permanecer em dois dígitos ao longo de todo o ano de 2023, com o cenário político-fiscal como o principal influenciador deste cenário. Para Correa, a manutenção dos juros altos está diretamente ligada à inflação, que no momento está atrelada à postura do novo governo com os gastos públicos. Muitos gastos desencadeariam aumento de inflação, enquanto uma postura austera ajudaria a desacelerar o aumento dos preços.
“Caso a realidade se desenvolva de uma forma mais responsável fiscalmente poderemos esperar que a inflação será domada pelo efeito das altas taxas de juros e que o Banco Central terá espaço para reduzir tais taxas, naturalmente trazendo o resultado dos fundos de renda fixa para baixo junto com tal ajuste”, diz Correa.
Segundo o último relatório Focus do Banco Central, a Selic deve terminar o próximo ano em 11,75%, enquanto a inflação fecharia em 5,17%. Para efeito comparativo, hoje a Selic está em 13,75% e a inflação em 5,90% (até novembro).
Fundos multimercado
Na sequência dos retornos dos fundos de renda fixa aparecem os fundos multimercados, com entrega de 8,51%, na mediana. Marques, da Philos, vê esses fundos como um diferencial importante de diversificação, dado que é possível investir em muitas classes de ativos e trabalhar melhores retornos.
“Os multimercados podem ter as mais variadas faixas de retorno. Isso pelo simples fato de que, por regulamento, tais fundos podem fazer praticamente o que quiserem e muito do resultado dependerá da habilidade do gestor”, diz Marques.
Para essa classe, Correa acredita que o cenário internacional também irá influenciar, além da questão fiscal interna.
>Leia também: Fundos quantitativos oferecem segurança matemática aos investimentos
“Globalmente, esperamos um mundo com crescimento baixo e que não irá ajudar muito o Brasil. Nesse cenário, faz sentido aproveitar-se da habilidade dos bons gestores de multimercado, que tiveram um 2022 expressivo, muito maior que a mediana de 8,51%”, diz o estrategista.
Segundo ele, esses gestores surfaram a onda do atraso do banco central dos EUA no combate à inflação. “Pode-se argumentar que os EUA ainda não estão no controle desse fenômeno sugerindo que mais dinheiro pode ser feito nessa linha. De toda forma, os multimercados também têm uma característica importante: são ágeis na alocação e na mudança de direção da carteira, coisa valiosa em um mundo turbulento.”
Fundos de ações
Em termos de retorno, os fundos de ações tiveram o pior desempenho de 2022, com mediana negativa de 9,79% no ano. Em 2023, a perspectiva não é de melhora, pelo menos no curto prazo.
Por um lado, Correa afirma que as ações brasileiras estão precificadas de acordo com a geração de lucros das empresas, o que indica um bom momento de entrada no setor. Por outro lado, a questão fiscal está fragilizando a economia e sugerindo um potencial de crescimento lento à frente.
“Temos, portanto, uma situação na qual apesar de a bolsa estar barata, não há fortes e claros gatilhos que a façam andar. Em um cenário de contexto fiscal melhor do que o esperado atualmente podemos esperar uma apreciação mais sustentada da bolsa”, diz o estrategista-chefe da BRA.
Marques indica que, na hora de considerar um investimento, é importante calcular três pilares: risco, retorno e liquidez. “Não é possível ter os três ao mesmo tempo. Então é primordial sempre olhar para o risco e, a partir dele, decidir o retorno dentro do tempo de investimento”, aconselha Marques.
O CEO da Philos também afirma que, em tempos de crise como o atual, estar atento à liquidez e aos indexados econômicos também é importante na hora de montar uma carteira. “É esperado para 2023 movimentos mais agressivos, então é importante estar bem fundamentado nas escolhas para não ser levado e, sim, identificar se é uma oportunidade de entrar em um ativo.”
O post Fundos de investimento estão no vermelho. O que esperar de 2023? apareceu primeiro em Forbes Brasil.