“Já pensou como seria a produção de leite se as vacas falassem?”. Com essa ideia, em 2019 foi criada a agritech gaúcha Cowmed, que desenvolveu uma coleira que “traduz” o comportamento bovino. O uso da inteligência artificial é a base da tecnologia que, por meio de um mecanismo, fornece informações aos produtores de leite para que tomem decisões na gestão do negócio.

Hoje (14), a Cowmed, com sede no municípios de Santa Maria (RS), anunciou que foi fechada uma captação de exatos R$ 5.936.970, provenientes de 547 investidores. A proposta entrou em captação de investimentos em rodada de equity crowdfunding na Captable, plataforma de investimentos coletivos em startups, criada em julho de 2019. O valor foi recorde da modalidade no Brasil.

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“Nesta rodada vimos muitos dos nossos clientes entrando como sócios da nossa empresa”, afirma Leonardo Guedes, cofundador da Cowmed. “Quando isso acontece, é porque os rumos do nosso negócio estão atendendo as expectativas de mercado e a perspectiva de escalar nossa solução na bacia leiteira são muito animadoras.”

A captação foi realizada em um modelo inédito no Brasil ao oferecer, diretamente, ações com direito a dividendos aos investidores, em vez de notas conversíveis com vencimento em cinco anos, como normalmente são as captações da modalidade em todas as plataformas brasileiras. Isso significa que, ao final da rodada, os investidores se tornaram sócios da startup, com direito a 14,94% de participação na agritech.

Cooperativa Cotribá entra e muda a grandeza da rodada

A rodada também contou com o maior aporte individual realizado na plataforma da Captable, feito pela cooperativa agropecuária mais antiga do Brasil, Cotribá, com sede em Ibirubá (RS) e fundada em 1911. Hoje, são 8.000 produtores rurais cooperados. Seus negócios, de grãos a animais, insumos, supermercados, fábricas de ração, lojas de implementos, se espalham por 26 municípios gaúchos. A cooperativa aportou R$ 3 milhões na rodada porque está em busca de inovação no campo.

“É uma decisão ousada uma cooperativa centenária tradicional investir em uma startup”, afirma Celso Leomar Krug, presidente da Cotribá. “Entretanto, é algo que faz sentido para a nossa entidade porque trará benefícios para nossos associados que são responsáveis por alimentar mais de 60 mil vacas que produzem mais de 1 milhão de litros de leite que alimentam mais de 2 milhões de pessoas, diariamente.”

O vice-presidente da cooperativa, Enio Cesar Moura do Nascimento, diz que o investimento na Cowmed, por meio da Captable, é uma oportunidade de levar mais benefícios assertivos e preventivos no manejo, dieta e conforto dos animais para o desenvolvimento de novas tecnologias para a pecuária 4.0. “É de grande importância termos esse tipo de ação que proporcione o desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial, que beneficiem e gerem oportunidades ao produtor ter mais rentabilidade na atividade leiteira”, afirma Moura.

A captação da Cowmed foi pioneira em oferecer um lote adicional de ações de valores imobiliários nesta rodada da Captable. Desde julho deste ano, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) permite que as plataformas de ofertas públicas de investimentos ofereçam 25% a mais no valor final captado, além do autorizado inicialmente.

A intenção inicial da Cowmed era captar um total de R$ 4.749.576. Entretanto, a entrada da Cotribá e a repercussão desta rodada fez com que a demanda por investidores interessados em realizar aportes fosse crescente até que o valor máximo permitido pela Norma 88 da CVM. Outro detalhe: a captação é a primeira desse porte que poderá ter suas ações negociadas em uma plataforma própria, chamada Captable Marketplace. A solução foi desenvolvida para dar mais liquidez aos investimentos, cujo surgimento foi possibilitado também com as novidades regulatórias da CVM.

O que é a Cowmed, para fazer a “vaca falar”

O conceito desenvolvido pela agritech utiliza a tecnologia, por meio de uma coleira instrumentalizada com inteligência artificial em tempo real, para monitorar vacas em fazendas, ao detectar mudanças comportamentais nos animais. O monitoramento identifica se eles possuem alguma doença, se estão no cio ou estão prestes a parir bezerros.

A solução desenvolvida tem como objetivo reduzir o descarte de animais, aumentar em 25% a eficiência produtiva e 15% a produtividade do rebanho. Hoje, a startup já monitora mais de 35.000 vacas, em mais de 400 fazendas, espalhadas em seis países. Além do Brasil, a agritech atua também no Paraguai, Uruguai, Bolívia, Canadá e Estados Unidos.

Com o investimento captado, a Cowmed pretende expandir sua operação na América Latina e alcançar 70.000 animais monitorados até 2024. Outro objetivo da startup é consolidar sua presença nos Estados Unidos e Canadá.

Do montante do investimento, 70% será destinado para marketing e comercial. Outros 20% serão destinados para roadmap tecnológico, com desenvolvimento de novas ferramentas para atender dores dos produtores de leite no seu dia a dia. Já a internacionalização da Cowmed para países da América Latina receberá 10% do total.

A responsável pela captação, a Captable, concluiu sua 12ª rodada de investimentos neste ano. A captação da Cowmed fez com que a plataforma já tenha captado mais de R$ 24 milhões neste ano. “Se por um lado vivemos uma crise nas startups unicórnios, por outro vivemos uma das melhores fases para aquelas em estágios iniciais”, afirma Paulo Deitos, cofundador da Captable.

“Os números deste segmento mostram que os investidores aumentaram a confiança em realizar aportes nesta modalidade.” Desde a sua criação, a Captable já atraiu cerca de 6.500 investidores ativos que aportaram mais de R$ 85 milhões em startups. Entre elas, são ligadas ao agro nomes como Essent Agro (fintech/agrotech) e Food To Save (foodtech).

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