Inteligência artificial pode deixar o boi mais competitivo no Brasil

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Pecuária pode ser mais produtiva com o uso da inteligência artificial

O ano de 2023 promete ser um marco para a história da DSM no Brasil. Além de completar 10 anos da compra da companhia brasileira de suplementos nutricionais Tortuga, a empresa holandesa de nutrição e saúde animal vai iniciar o ano com uma nova estratégia de negócio visando ampliar a utilização de serviços de inteligência artificial na pecuária. O objetivo é compor uma tríade de atuação no campo: diagnóstico por software, consultoria técnica e uso de soluções nutricionais. Esse novo desenho mais robusto da empresa só foi possível com a compra da Prodap, empresa de tecnologia e inteligência de processos, sediada em Belo Horizonte (MG), em junho deste ano. São justamente os seus softwares a chave dessa nova etapa da DSM, empresa que em 2021 faturou R$ 3,92 bilhões.

“Nesse momento, estamos chegando aos primeiros 100 dias, desde a aquisição da Prodap, que é uma fase importante de planejamento”, diz Sergio Schuler, vice-presidente do negócio de nutrição e saúde animal para ruminantes na DSM, executivo número um da companhia no Brasil e presidente do GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável), um organismo que reúne produtores, acadêmia, insumos, indústria varejo, instituições financeiras e sociedade civil em torno de propostas para os elos da cadeia da carne. “A gente já estudou como as duas empresas vão atuar em conjunto, o modelo organizacional, a quantas fazendas queremos levar a tecnologia e para quantas cabeças de gado a gente consegue expandir em 2023.” Os 100 dias a que Schuler se refere é a aprovação da compra pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que ocorreu em setembro.

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O mercado da pecuária, de olho na proporção que o negócio tomou, reagiu a esse movimento da DSM. Entre junho e setembro, o número de fazendas que utilizam os softwares da Prodap passou de 5.000 propriedades para 6.000. Os processos de inteligência artificial da companhia já analisaram cerca de 5,5 milhões de bovinos no país.

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Sergio Schuler, da DSM, diz que uso de tecnologias vai aumentar na pecuária

São ferramentas que respondem a uma pecuária mais produtiva. O Brasil possui 196,4 milhões de bovinos, abate por ano cerca de 40 milhões de animais, o que equivale a 9,7 milhões de carne processada. Nas exportações, o país deve fechar 2022 como o maior vendedor do mundo, repetindo o desempenho do ano passado. Até agora, o país já exportou 2,1 milhões de toneladas de carne, por US$ 12,5 bilhões. Ou seja, toda tecnologia que ajuda a melhorar o desempenho desses números traz renda para toda a cadeia, especialmente ao produtor rural por meio de mais rentabilidade no campo.

Por onde vai a Inteligência Artificial no campo

Para o desenvolvimento de um sistema ou programa de inteligência, os bancos de dados (big data) são a alma para chegar às ferramentas. Como ocorre para outras tecnologias em alta, entre elas os softwares de BI (Business Intellegence). O fato é que a pecuária, que já vinha em um processo acelerado de transformações, deve apertar o passo. Isso porque as tecnologias estão mudando de rumo: antes elas olhavam para o passado, hoje essa rota se inverteu. É o desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial que torna possível o monitoramento de propriedades e seus rebanhos. Esses algoritmos são construídos com participação das propriedades, justamente expertise da companhia comprada pela DSM.

A Prodap, que tem sua origem em 1979 como uma empresa de suplementos, migrou para os processos de gestão e monitoramento e daí para as tecnologias digitais. Foi em 1990 que ela começou a desenvolver o primeiro software de gestão para pecuária do Brasil. Essa mentalidade de facilitar a vida do produtor se manteve no desenvolvimento de produtos e resultou no lançamento, em 2021, da inteligência artificial que hoje é propriedade da DSM. “Estrategicamente o mais importante para a gente foi que essa tecnologia já estava sendo vendida no mercado. [A Prodap] não é uma startup que precisava de milhões em investimento para desenvolver o produto”, diz Schuler. No ano passado, a receita da Prodap foi de R$ 130 milhões.

O lançamento de 2021, e pelo qual a DSM disputou a aquisição da Prodap, se chama Lore. O sistema de IA faz diagnósticos assertivos e acompanha as informações da fazenda em tempo real. Por exemplo, levanta dados da qualidade da água oferecida aos animais, as possíveis alterações metabólicas que podem afetar a engorda, a altura do pasto e outros. O banco de dados que a Lore utiliza para a tomada de decisões tem 4,27 milhões de dados e semanalmente consegue coletar  51.000 informações.

“Com ela, tem todo um feedback a partir das predições dos algoritmos da inteligência artificial. A Lore ajuda desde o dono da fazenda até o peão com informações distintas para alimentar os animais”, diz Schuler. “Há toda uma tecnologia para que os dados possam ser imputados por comando de voz.” Na lida do campo, onde se torna difícil, ou quase impossível as anotações por escrito, que pode ser em cima de um cavalo ou embaixo de sol escaldante, a coleta de informações por voz ganha confiabilidade.

Não é raro na agenda da Prodap reuniões para refinamento de processos com os pesquisadores e técnicos, das quais participam de diretores a peões de fazendas, porque eles são chaves em boa parte das coletas de dados. Em confinamentos, por exemplo, são os peões os responsáveis pela leitura de cochos com câmera 3D que calibram os algoritmos, ou seja, quanto de alimento um animal está ingerindo no dia.

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Aqui, um dos técnicos da Prodap faz teste de leitura de cocho, a pé

A informação, que pode ser transmitida em tempo real, vai robustecer os algoritmos e ajudará o supervisor de confinamento para a tomada de decisão da composição da dieta de um determinado grupo animal. Neste segmento da pecuária, grandes grupos estão integrados aos programas da Prodap, entre eles o Grande Lago, em Jussara (GO), com capacidade estática para 75.000 animais e estimativa de abate de 180.000 bovinos, e a Fazenda Conforto, de Novas Crixás, também em Goiás, que pertence ao empresário Alexandre Negrão, e que é considerado referência em tecnologias, com abate de cerca de 160 mil bovinos, por ano.

Outra aposta da DSM é a expansão do uso de uma calculadora que mensura o impacto ambiental da ação das fazendas e o fornece uma ACV (Análise de Ciclo de Vida), com informações sobre emissões de GEEs (gases do efeito estufa), por exemplo. “A gente já desenvolveu um modelo para a área de leite e estamos trabalhando junto com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para a validação da tecnologia na área de pastagem”, diz Schuler.

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