Abandonado em caçamba quando bebê, empresário hoje fatura R$ 216 milhões

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Vítor Magno

Alex Araújo, dono da 4Life Prime

Ser abandonado em uma caçamba ao lado da maternidade minutos após ter nascido não é um bom começo. Porém, Alex Araújo não pensa assim. “Prefiro pensar que fui escolhido por meus pais adotivos”, diz ele. Aos 41 anos, Araújo é dono da 4Life Prime, empresa que fatura R$ 216 milhões.

O início

A casa de seus pais adotivos era humilde. Além do casal e de Araújo, mais quatro irmãos dividiam o espaço. “A casa era cheia de amor, mas a situação financeira não era nada fácil”, diz ele. Pouco chegado nos estudos, Araújo passou pela escola aos trancos e barrancos. As visitas à diretoria eram semanais. Mesmo com um desempenho escolar fraco, ele chamou a atenção dos professores por suas capacidades de comunicação.

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Seu pai faleceu pouco após a conclusão do ensino médio, o que fez Araújo mudar de vida. O empresário reconhece que, na juventude, não era exatamente fascinado pelo trabalho. Mas o falecimento mudou tudo. “Meu pai sempre foi a minha inspiração e eu nem sempre consegui corresponder ao esforço que ele fazia por mim, então eu me senti em dívida com ele e quis provar que poderia ser uma pessoa melhor”, diz

Trajetória corporativa

Seu primeiro trabalho foi em uma empresa que prestava serviços de energia, instalando postes em comunidades. Além de exaustivo, pouco satisfatório. Para melhorar as condições, ele batalhou um cargo no escritório da companhia, comprando vales para os funcionários.

A melhora, porém, foi seguida por outro desafio: recém-casado, Araújo descobriu que seria pai. Migrou migrou para uma empresa de sucos, onde organizava os produtos em supermercados. Sua proatividade, que o levava a ordenar as gôndolas de outros produtos além das próprias, fez com que ele fosse promovido a vendedor.

O empresário passou atender varejistas de grande porte como Pão de Açúcar e Sonda. O bom desempenho o levou ao setor institucional, no qual trabalhava para indústrias e clientes em maior escala. Ele então passou a atender em todo o território nacional e conseguiu criar amizade com boa parte de seus clientes, formando uma carteira fiel. Porém, a empresa em que trabalhava perdeu faturamento e começou a atrasar os salários

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Sua esposa recomendou que ele fosse trabalhar em um banco, que pagava melhor e oferecia benefícios. Ele participou de um processo no antigo Banespa, vendido ao espanhol Santander no ano 2000. Araújo parecia começar em desvantagem. “Os outros candidatos tinham anos de experiência em banco e eu só tinha a minha carteira de clientes”, diz. “Mas um dos diretores se interessou e me chamou de canto para conferir se eu tinha mesmo tantos contatos em empresas grandes.”

O executivo lançou um desafio. Se ele conseguisse trazer clientes para o Banespa, seria contratado. No mesmo momento, na presença do diretor, Araújo ligou para um de seus conhecidos buscando trazer os funcionários para o banco estatal. Deu certo. Como sua meta era abrir 30 contas por mês e ele conseguiu mil no primeiro dia, já foi contratado como gerente. Em seis anos, ganhou a posição de melhor gerente do país.

Água no chope

Porém, o ego começou a tomar conta. Araújo caiu na tentação de comprar uma empresa, com a perspectiva de multiplicar por 20 o salário do banco. Não pensou duas vezes. “Eu achava que era o melhor e que precisava empreender.” Mudou-se para Sorocaba e comprou uma choperia. O sucesso o fez perder o prumo: gastou demais, o dinheiro acabou e teve de voltar a São Paulo.

Ao chegar, foi procurado por um headhunter. O consultor trabalhava para o antigo dono de uma empresa de saúde corporativa que havia sido seu cliente no Santander, mas havia falecido. “Ele sempre dizia para a família que era preciso ter um gerente de banco à frente da empresa, um profissional que fosse agressivo com metas e que amasse vendas”, diz. “E ele sempre me descrevia.”

Araújo foi entrevistado pelo filho do dono, de 42 anos e sem experiência profissional. A proposta do antigo gerente foi estabelecer uma meta de clientes a serem trazidos para a empresa, em troca de uma participação de 50% nos negócios. “Estabeleci a meta de trazer meus clientes grandes e, em pouco tempo, eu já tinha empresas como Bayer no portfólio e uma comissão de R$ 2,5 milhões.” Em um ano, a empresa cresceu de 600%.

Pandemia do Covid-19

Aí chegou a pandemia, que preocupou o sócio de Araújo. Inexperiente, ele vendeu a sua participação na empresa para Araújo. Ao contrário das preocupações, a companhia começou a crescer ainda mais depressa. Araújo decidiu comprar testes de Covid-19. Importou 18 contêineres e vendeu tudo com muitos lucros, pois o produto havia se tornado escasso nas farmácias.

Araújo conta que chegou a vender 18 containers de teste, com cada unidade custando em torno de R$ 490. Na época, ele comprava um teste por US$ 16 (R$ 70 pelo câmbio de março de 2020). O lucro compensou. “Tudo o que eu investi, os meus bens materiais e empréstimos, retornou em uma proporção muito maior”, diz.

4Life Prime

As apostas arriscadas de Araújo fizeram a empresa de saúde ocupacional, que hoje é conhecida como 4Life Prime, chegar a ter 573 funcionários e 3 mil clientes, atendendo cerca de 700 mil pessoas. O faturamento anual está ao redor de R$ 216 milhões.

O empresário conta que sua estratégia é transformar em consultoria e atendimento personalizado o que o mercado costumava considerar apenas uma obrigação. “A saúde nunca vai acabar e eu acredito que esse mercado ainda não foi explorado”, diz ele. Outro ponto forte é concentrar os esforços em companhias multinacionais para reduzir a inadimplência.

Para ele, a sua trajetória compensa o lugar onde está hoje. “Quando olho pro meu filho e vejo que ele não precisou passar por nenhuma situação que eu passei, sei que fiz tudo o que precisava”, diz Araújo. “Chegar onde estou hoje é realizar um sonho que eu nem sabia que tinha.”

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