O IRB Brasil (IRBR3) realizou sua abertura de capital (IPO ou Initial Public Offering) na B3 em julho de 2017. Na época a ação da maior empresa de resseguros da América Latina estava avaliada em R$ 27,24 (R$ 36,04 em valores atualizados). Agora, o cenário mudou. Ao longo dos cinco anos, a ex-queridinha da Bolsa teve desvalorização de 90,69%, passando a ser negociada a R$ 0,xx no fechamento de ontem (29).
O sucesso e a derrocada têm uma explicação em comum: rentabilidade. O ressegurador ganhou os holofotes devido aos balanços acima da média. O ROE, que é um indicador de rentabilidade, girava em torno de 45%, enquanto as empresas do mesmo setor entregavam cerca de 10 a 15%. Essa diferença se refletia no desempenho das ações.
Mais tarde, o mercado descobriu que a história não era bem assim. Em 2 de fevereiro de 2020, a gestora Squadra publicou uma carta aos cotistas explicando porque estava “short”, ou seja, apostando na baixa, das ações do ressegurador.
Em um documento de 30 páginas, a gestora explicou ter encontrado fatores que indicavam lucros contábeis reportados nas demonstrações financeiras significativamente superiores aos lucros normalizados. “Essa disparidade entre lucro reportado e lucro normalizado (recorrente) foi crescente durante esse período e atingiu sua maior diferença nos nove primeiros meses de 2019”, informava o relatório.
Após apresentar indícios sobre a discrepância dos resultados financeiros do ressegurador, a gestora foi direta: “a rentabilidade do negócio era muito menor do que grande parte do mercado acreditava ser.” Naquela época, as ações despencaram cerca de 20%. E esse era só o começo da queda.
Ainda em fevereiro, mais precisamente no dia 28, Ivan Monteiro, presidente do Conselho do IRB, renunciou ao cargo — trazendo mais incertezas para os investidores. Na época, a equipe do ressegurador afirmou que a saída de Monteiro, que havia sido vice-presidente e presidente do Banco do Brasil e presidente da Petrobras havia sido causada por “motivos pessoais”.
Pouco após o relatório, circulou a informação de que o bilionário Warren Buffett, um dos maiores investidores do mundo, teria aproveitado a queda para investir na empresa. As ações subiram mais de 6% com a notícia. Em março, no entanto, a holding do megainvestidor, negou as informações. “A Berkshire Hathaway Inc. não é atualmente acionista do IRB, nunca foi uma acionista do IRB e não tem intenção de ser acionista do IRB”, afirmou a empresa em comunicado. No dia, as ações caíram 31,98%, a R$ 17,31.
Queda nos lucros
Em 30 de junho, o ressegurador divulgou ao mercado o seu primeiro balanço após as acusações. No primeiro trimestre de 2020, o IRB teve uma queda de 92% no lucro líquido, indo para R$ 13,87 milhões (contra R$ 177,9 milhões divulgados no mesmo período em 2019).
No mesmo dia, a empresa divulgou a revisão das demonstrações financeiras de 2019. Segundo ela, existiam fatos e indícios de que “uma série de registros contábeis conduzidos pela antiga gestão estavam efetivamente incorretos e demandavam ajustes.”
Os ajustes tiveram um efeito total no resultado de 2019 da companhia de cerca de R$ 553,4 milhões, e de R$ 117,2 milhões em 2018. O efeito no patrimônio líquido do IRB Brasil RE foi de R$ 727,2 milhões em 2019 e R$ 369,1 milhões em 2018.
O lucro líquido do exercício, após a revisão, ficou em R$ 1,21 bilhão em 2019 (contra R$ 1,76 bilhão nas demonstrações anteriormente divulgadas) e R$ 1,10 bilhão em 2018 (ante R$ 1,21 bilhão anteriormente divulgado).
Em nota, o IRB disse que os principais motivos para as alterações foram “o registro em competências inadequadas de determinados sinistros, a ausência de registro da provisão para um número de outros sinistros e provisão subestimada para um grande número de casos, dentre outros ajustes detalhados nas Notas Explicativas das Demonstrações Financeiras.”
“Revisar demonstrações financeiras já apresentadas nunca é desejável. Porém, isto foi necessário frente ao que foi encontrado e ao nosso compromisso de apresentar ao mercado um quadro completo e verdadeiro sobre a Companhia”, disse Werner Suffert, vice-presidente Executivo, Financeiro e de Relações com Investidores. Em 2020, a ação teve queda de 76,88%.
O momento atual do IRB
No primeiro trimestre de 2022, o IRB reportou um lucro líquido de R$ 80,5 milhões, alta de 58% em comparação com o mesmo período do ano passado. A sinistralidade do ressegurador, no entanto, foi de 81%, o que representou um avanço de 8,9 pontos porcentuais em um ano, refletindo os segmentos rural e de vida, que foram impactados pela pandemia.
Já no segundo trimestre, o efeito foi maior. O ressegurador registrou prejuízo líquido de R$ 373,3 milhões, uma alta de de 80,4% em relação ao prejuízo registrado em 2021. Segundo a empresa, o prejuízo líquido da companhia foi negativamente impactado pelos efeitos climáticos que afetaram os contratos de Riscos Rurais.
No terceiro trimestre esses impactos continuaram. O prejuízo do IRB foi de R$ 299 milhões, impactado também pela redução nos prêmios emitidos e avanço da sinistralidade. Em relatório, o Inter Invest diz que os próximos resultados devem ser melhores “devido ao momento no segmento agro que impactou atipicamente a companhia.” O banco manteve a recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de R$ 1,20/ação.
O BTG, por sua vez, disse que, se o lucro não se tornar positivo em breve, há riscos de possíveis rebaixamentos por agências de rating e de necessidade de outro aumento de capital. Em relatório divulgado neste mês de novembro, o banco de investimentos disse acreditar na geração de lucro no médio prazo, também mantendo a posição neutra, mas com preço-alvo de R$ 1,30/ação.
Já a Genial Investimentos citou o ROE, que continuou negativo (-32,4%) no terceiro trimestre devido ao prejuízo divulgado. Sendo assim, o IRB não consegue construir valor para o seu acionista. “Por isso mantemos nossa recomendação de vender com preço alvo de R$ 0,99.”
“Depois desses trimestres, é esperado um 4T22 melhor. Claro que não será um ROE mega positivo, mas esperamos um lucro”, diz Eduardo Nishio, da Genial Investimentos, à Forbes Brasil.
Segundo o analista, ainda é perceptível todo o efeito dominó que a empresa vivenciou nos últimos anos. “Até hoje eles estão reportando perdas relacionadas a esses contratos mal feitos passados. Esses impactos, juntamente com o que temos visto recentemente, ainda são sentidos na empresa”, diz. Procurado pela Forbes, o IRB Brasil não concedeu entrevista.
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