Mais nova (e mais solar) que a sua irmã alpestre, a Art Basel Miami Beach completa 20 anos neste 2022 com um fluxo vibrante e cada vez maior de artistas, curadores, críticos, colecionadores, negociantes e amantes da arte contemporânea. Participam do evento 283 galerias – o maior número em todas as edições até hoje –, sendo 26 estreantes, de 38 países, de todos os continentes. “Nas últimas duas décadas, nossa feira desempenhou um papel estimulante na profunda transformação cultural da cidade. A gama cada vez mais diversificada de galerias e vozes artísticas representadas tornará nossa exposição mais rica em descobertas do que nunca”, diz Marc Spiegler, diretor global da Art Basel. Com um público estimado em quase 100 mil visitantes, a feira acontece entre 1 e 3 de dezembro e reúne obras de mais de 4 mil artistas em um enorme centro de convenções, com mais de 50 mil metros quadrados, no charmoso distrito de Art Déco, próximo à praia e a alguns dos melhores hotéis e restaurantes da cidade. São centenas de pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos e arte digital para admirar – e, quem sabe, arrematar. Veja a seguir alguns destaques.
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Caráter crítico
Novas obras de caráter crítico, estético, lúdico, social e político relativas ao atual contexto mundial são o que A Gentil Carioca pretende apresentar em Miami. Fundada em 2003, em um sobrado dos anos 1920 no centro histórico do Rio de Janeiro, tem também uma sede em um charmoso casario em Higienópolis, na capital paulista. Entre os 18 artistas brasileiros que a galeria leva à feira, estão Aleta Valente, reconhecida por fotografias com forte viés político que têm o Instagram como suporte; Arjan Martins, cujas obras focam o colonialismo e a diáspora africana; Marcela Cantuária, que explora temas ligados à exclusão social e à degradação ambiental; e Vinicius Gerheim, cujo trabalho questiona padrões e normas restritivos.
Matriz africana
“Neste ano de celebração dos 20 anos de Art Basel Miami sugiro um olhar atento às galerias da África”, indica Márcio Botner, artista e diretor-fundador d’A Gentil Carioca, que, neste ano, divide espaço com a sul-africana Goodman Gallery a fim de reforçar a conexão entre o Sul Global. “Além das galerias da África do Sul, que já têm um lastro histórico e importante no circuito internacional, chegam com força galerias da Nigéria e de Uganda que valem a visita: a Rele e a Afriart.” A Rele surgiu em 2015, em Lagos, visando atuar como uma interface crítica entre os mundos da arte africana e da internacional. Já a Afriart, fundada em 2002 em Kampala pelo artista Daudi Karungi, foca em formas originais de expressão e de diálogo com o público. Dos artistas que leva a Miami, destaca-se Emmie Nume, com seus desenhos e pinturas que capturam emoções por meio da liberdade dos traços.
Interatividade
Há 20 anos, no mesmo ano em que surgia a Art Basel Miami Beach, a Luciana Brito Galeria dava início à internacionalização de seu programa a partir do entendimento dos desafios e da responsabilidade na representação de artistas contemporâneos na América Latina. Desde então, passou a representar luminares como a servo-croata Marina Abramović, reconhecida internacionalmente por suas performances interativas, e o argentino Leandro Erlich, celebrado por criar ilusões de ótica como a instalação “A Piscina”, na qual o espectador entra em uma piscina ilusória e observa, do fundo, o mundo acima.
Olhar arquitetônico
À frente da galeria que leva seu nome, Luciana Brito destaca a atuação da Neugerriemschneider, de Berlim. “Tenho acompanhado o trabalho deles e a cada ano me surpreendo com os projetos inovadores que desenvolvem para a feira. É inspirador!”, diz. Ela destaca os artistas Jorge Pardo, cubano-americano que explora as interseções entre escultura e arquitetura e os conceitos de funcionalidade e decoração, e Rirkrit Tiravanija, argentino-tailandês que cria estruturas arquitetônicas pensadas em sua dimensão social e coletiva, priorizando a participação ativa do espectador.
Expoentes brasileiros
Outra galeria que celebra duas décadas junto com a Art Basel Miami Beach é a Fortes D’Aloia & Gabriel. A carioca representa 40 artistas, dos quais 80% são brasileiros. Além de potências internacionais como o alemão Franz Ackermann e o norte-americano Robert Mapplethorpe, há grandes nomes do cenário nacional, entre eles Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Jac Leirner, Luiz Zerbini, Nuno Ramos e OsGemeos. Um dos destaques é a carioca Márcia Falcão, que aborda em suas pinturas temáticas como a escravidão brasileira e a problemática feminina.
Metáforas
Alessandra D’Aloia, diretora da Fortes D’Aloia & Gabriel, ressalta a participação da Proyectos Ultravioleta, pequena galeria da Guatemala fundada em 2019 pelo artista Stefan Benchoam, idealizador também da Bienal da Guatemala. “Eles têm um programa excepcional e trabalham com uma lista concisa de artistas representados que vai desde as argentinas Vivian Suter e Amalia Pica até o guatemalteco Naufus Ramírez-Figueroa.” Neste ano, a galeria leva a Miami esculturas de Amalia Pica ao lado de pinturas de Akira Ikezoe.
Inspiração local
Nascida em Caetanópolis (MG), cidade que tem uma expressiva indústria têxtil, Sonia Gomes é conhecida pelas esculturas feitas de tecido, fios e outros objetos que encontra ou que são doados a ela. Já Marina Perez Simão, de Vitória (ES), cria pinturas multicoloridas e vibrantes inspiradas em paisagens brasileiras que misturam representação e abstração. As duas fazem parte do time que a Mendes Wood DM representa na Art Basel Miami Beach. Fundada em São Paulo em 2010, a galeria hoje conta com espaços também em Bruxelas e Nova York.
Com Marília Kodic
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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