Com o avanço da agenda ESG, sigla que defende compromissos ambientais, sociais e de governança, as empresas começam a se movimentar para estabelecer e cumprir metas, e surgem profissionais específicos para essas funções. Carolina Graça, nova diretora de sustentabilidade da divisão agrícola da Bayer para América Latina, é uma engenheira agrônoma que começou a carreira na área comercial e fez essa transição. “Essas ações têm sido vistas como prioritárias nas organizações, que estão entendendo que o ESG não pode ficar de fora de nenhum planejamento corporativo.”
O novo profissional de ESG aparece na recente Pesquisa de Remuneração Total da consultoria Mercer com carreira gerencial e chega no top 10 de cargos com melhor remuneração. Quem quer trilhar carreira na área não necessariamente precisa ter formação direcionada a ESG, como a de Carolina. “Meu primeiro conselho é olhar para o escopo de trabalho atual e identificar como ele poderia se conectar à sustentabilidade.”
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O C-Suite desta semana também traz movimentações nos setores de moda, bebidas e cosméticos. Daniel Levy é o novo CFO da Amaro e Luciana Costa assume a direção de finanças da fabricante de bebidas Diageo. Renata Gomide, atual diretora de comunicação do Grupo Boticário, foi promovida a vice-presidente de consumer da empresa.
Forbes: O que é necessário, em termos de formação e experiência, para assumir esse cargo?
Carolina Graça: Vejo dois fatores fundamentais: a experiência em campo e uma sensibilidade e empatia para entender as pessoas. Para construir uma jornada de sustentabilidade legítima, verdadeira e transformadora, precisamos ter uma visão ampla do que se deseja alcançar e estar com as pessoas que são impactadas, entender o que pensam e como podem fazer parte da solução.
F: Com a importância que a agenda ESG vem ganhando, quais as oportunidades para trabalhar nesse campo?
CG: O tema sustentabilidade vem ganhando grande relevância nas discussões globais nos últimos anos e, desde o Pacto Global no início dos anos 2000, as empresas foram chamadas a fazer parte de um esforço coordenado em desenvolvimento sustentável. Empresas como a Bayer possuem diretrizes globais estratégicas para cumprir uma agenda ESG, que são adaptadas à realidade de cada país. Uma das missões desse cargo é construir uma jornada de cooperação e inovação.
F: O que você indica para alguém que queira ser profissional de ESG, uma área que começa a crescer nas empresas agora?
CG: Para profissionais que desejam atuar com ESG, recomendo que busquem ganhar experiência com sustentabilidade dentro do seu conteúdo de trabalho e certamente oportunidades de adentrar cada vez na área desejada serão construídas. Esse caminho os conectará a outros profissionais envolvidos com o tema e a transição será natural.
F: Como as experiências em vendas e marketing e o empreendedorismo contribuíram para a sua carreira?
CG: Já fui executiva, empreendedora e profissional do terceiro setor. Isso me permite falar diversas linguagens e ter empatia com muitos públicos. Toda essa experiência diversificada me qualifica para estabelecer processos de diálogo. O profissional de sustentabilidade constrói pontes, é um facilitador de processos. Essa jornada me permitiu ir, aos poucos, construindo uma bagagem para ser uma melhor facilitadora.
F: Quais qualidades você busca em um profissional para a sua equipe hoje?
CG: Um profissional que tenha paixão pelo tema, mas que carregue alguma experiência e principalmente a capacidade de implementação, que vá além do sonho. O valor da sustentabilidade está em promover uma transformação que seja boa para todas as partes envolvidas. É preciso ter a capacidade de mudar a situação e para isso é fundamental ter um drive muito forte para colocar a mão na massa, pensar novos caminhos, falar com muitas pessoas e até mesmo ouvir muitos “nãos” para construir novas soluções. Eu diria que é saber encontrar caminhos entre as pedras e um impulso de realização.
F: O que você gostaria de ter ouvido no início da carreira que poderia ter feito a diferença?
CG: Tem aprendizados que só vêm com a experiência e vivência de campo. Um profissional de sustentabilidade precisa dessas “horas de voo” para ter empatia, falar diferentes linguagens. Algo que seria bacana ter aprendido no início da carreira a importância do autoconhecimento para lidar com situações novas, nem sempre favoráveis ao profissional e até mesmo conflituosas. Um profissional de sustentabilidade vive com frequência situações de desconforto ao fazer interface dentro e fora da organização. Serenidade e confiança são importantes nessas situações e essas características estão intimamente ligadas ao autoconhecimento.
Por quais empresas já passou
Grupo Orsa, Stora Enso, Earthworm Foundation, Concertação Amazônia e agora Bayer, além da minha própria empresa de consultoria
Formação
Graduação em Engenharia Agronômica pela Esalq (USP), mestrado e PHD em Administração pela USP (Universidade de São Paulo)
Primeiro emprego
Auditora de cadeia de fornecimento de soja – Guiomarch Nutricion Animale
Pesquisadora no Pensa – Centro de Conhecimento em Agronegócios
Primeiro cargo de liderança
Gerente de marketing e vendas da Orsa Florestal (atual Grupo Jari)
Tempo de carreira
22 anos
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