Com uma missão de fabricar produtos de bem-estar sexual, gerar informação e serviços digitais para mulheres, a femtech brasileira Feel atraiu um grupo de investidoras-anjo composto exclusivamente por mulheres para um aporte inicial de mais de R$ 1 milhão.
O investimento, anunciado com exclusividade para a Forbes, tem previsão de auxiliar no desenvolvimento dos produtos e da plataforma da companhia, a qual também quer expandir as oportunidades de investimento para homens.
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A rodada de investimentos mais recente da startup foi liderada pela Sororitê, a maior rede de investidoras-anjo do Brasil com 80 mulheres, e deve ser finalizada no começo de 2023. De acordo com Marina Ratton, fundadora da Feel, 75% do capital arrecadado já está comprometido e inclui investimentos de apoiadores anteriores, com a Sororitê na liderança.
A primeira rodada de investimentos-anjo levantados pela femtech em 2021 totalizou R$ 550 mil, com 84% dos investimentos vindos de investidoras. Com a crescente porcentagem de mulheres investindo nessa nova rodada (90%), a Feel alega ser a startup com o maior número de investidoras no Brasil.
Para Ratton, isso é importante por vários motivos. Primeiro, há o fato de que as mulheres recebem só 4% de todo o dinheiro investido em startups no Brasil, como mostra um estudo de 2021 publicado pelo centro de inovação Distrito, Endeavor e B2Mamy – uma aceleradora de startups focada em mães.
“Nosso segmento é particularmente desafiador, porque estamos voltadas para resolver uma dor que é um tabu gerado por falta de informações. Há poucos estudos que focam no bem-estar sexual, apesar de ser um problema enfrentado pela maioria da população brasileira de alguma forma”, disse a fundadora.
Erica Stul, cofundadora e investidora da Sororitê, explica que o valor da proposta de negócio da Feel esteve claro para a rede de investimentos desde o começo, porque as investidoras conseguiram entender as questões de bem-estar sexual enfrentadas pela femtech.
“Investidores tendem a analisar o empreendedor e a tese dele. Nesse caso, o que a Feel traz é uma conexão imediata a uma dor que é muito presente nas vidas cotidianas das mulheres e que não é entendida por investidores homens. Foi uma proposta com a qual mulheres investidoras puderam se identificar e que fez total sentido nos negócios”, afirmou a investidora.
Além disso, Stul pontuou que o investimento da Sororitê faz parte do principal objetivo da rede de contribuir para mudar a distribuição do capital no ecossistema brasileiro de startups. “A etapa do investimento-anjo é uma porta pela qual qualquer fundador de startup vai passar: estamos trabalhando para trazer mais diversidade para esse processo. Também apoiamos as startups investidas com smart money – contatos e conselhos de negócio além do aporte financeiro – para que elas se fortaleçam ainda mais para traçar seus próximos passos.”
Ao mesmo tempo, a Sororitê busca atrair mais mulheres para investir em startups, de acordo com a investidora. No Brasil, elas compõem apenas 16% da comunidade de investidores-anjo, enquanto nos Estados Unidos essa porcentagem é de 22%. “Queremos criar um histórico de investimentos e provar que mulheres investindo em empreendedoras traz retorno: isso é sobre negócios, e não caridade”, diz Stul.
Oportunidades no mercado de bem-estar sexual
Apesar dos diversos desafios encontrados por startups como a Feel, o mercado de bem-estar sexual tem espaço para oportunidades por causa das demandas dos consumidores que não são correspondidas. No Brasil, 40% das mulheres têm dificuldades para chegar ao orgasmo, enquanto outras 39% sofrem de dores durante a relação sexual, como aponta um estudo de 2016 da Universidade de São Paulo.
Em estágios posteriores da vida, sintomas pós-menopausa como atrofia vaginal causados pela falta de estrogênio está entre uma das questões de saúde sexual experienciadas por 87% das mulheres, segundo dados da Harvard Medical School. Eles descobriram que 77% delas ficam desconfortáveis de buscar aconselhamento médico para esses problemas.
Para atender essas questões, a Feel lançou, durante a pandemia de covid-19, uma coleção de produtos íntimos naturais e veganos, como lubrificantes e sabonetes. Em junho, a companhia fez parceria com a Lilit, uma femtech fundada por Marilia Ponte que desenvolveu um vibrador bullet. A colaboração expandiu para uma série de parcerias comerciais entre as duas empresas e uma visão de mercado em comum. As duas startups agora estão sob a gestão corporativa da Feel e Ponte é COO da companhia expandida.
“Apesar de termos uma visão de negócio que, geralmente, é desacreditada por investidores, estamos a caminho para dobrar a nossa receita anual e atingir as metas de negócio de uma maneira sustentável”, disse Ponte. Antes da colaboração, Lilit divulgou suas performances de vendas: em somente dois anos de existência, a fabricante de vibradores que agora opera com a Feel gerou R$ 2 milhões em vendas com um único produto.
Evolução da femtech com o aporte financeiro
O novo capital levantado pela Feel vai ser direcionado para a produção de novos produtos e o desenvolvimento de uma plataforma digital com conteúdos para ensinar mulheres a usarem suas mercadorias. Assim, buscam melhorar a experiência da consumidora.
A criação dessa plataforma é o primeiro passo para a construção de um portfólio digital de serviços de bem-estar sexual fornecidos por especialistas, conta Marina Ratton. O estudo da Lilit com a Feel mostrou que 40% das suas consumidoras gostariam de ter acesso a especialistas em bem-estar e saúde sexual.
“Ainda temos um longo caminho quando falamos sobre a prestação de serviços: nossa prioridade é atender às várias necessidades relacionadas com a falta de informação. A criação de produtos digitais é parte da nossa ambição, mas vamos priorizar a plataforma e o lançamento de produtos por agora”, disse a fundadora.
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Em um ano, a empreendedora espera que sua companhia esteja completamente focada no desenvolvimento de seu ecossistema de bem-estar sexual, mas também se aproximando de uma segunda rodada de investimentos. Assim como outras femtechs que têm feito uma segunda rodada de investimentos nos últimos meses, como a Oya Care e a Bloom Care, que são focadas em saúde digital para mulheres, Ratton gostaria de atrair capital de investidores internacionais.
“Ao mesmo tempo, seria ótimo conseguir levantar uma rodada predominantemente no Brasil, devido ao valor significante que isso traria ao ramo das femtechs.” Por outro lado, a fundadora quer mudar o paradigma, particularmente com homens do ambiente de venture capital, do tabu ao redor das oportunidades do mercado de bem-estar sexual. De acordo com dados do Market Research Future, ele está projetado para atingir US$ 112 bilhões (R$ 594,3 bilhões) até 2030.
“Vamos fazer a lição de casa e desenvolver o nosso negócio, enquanto estaremos educando investidores homens de que esse é um mercado em crescimento exponencial”, concluiu Marina Ratton.
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