Fundador do Nubank abre mão de acordo sobre potencial remuneração extra

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David Vélez, fundador e presidente-executivo do Nubank

O Nubank disse hoje (29) que o fundador e presidente-executivo, David Vélez, decidiu encerrar um acordo que lhe dava direito a uma possível remuneração extra milionária em ações no futuro, gerando um efeito contábil positivo para o banco digital.

A remuneração adicional esteve no centro de uma polêmica que atingiu o Nubank em abril deste ano, quando o banco informou ao mercado previsão de pagamento total de até R$ 816 milhões aos diretores e conselheiros em 2022, gerando discussões nas redes sociais. Mais de 80% do valor era referente a efeitos contábeis do acordo de Vélez.

A decisão de Vélez também ocorre após queda no valor das ações do Nubank ante o IPO. A remuneração era baseada na performance das ações do banco em bolsa.

O prêmio de incentivo de longo-prazo chamado CSA (Contingent Share Award) foi estabelecido em 2021, antes de uma oferta pública inicial de ações (IPO) do Nubank em Nova York. Segundo seus termos, Vélez ganharia 1% do total de ações caso os papéis Classe A do banco ficassem, em média, a US$ 18,69 (R$ 99,18) na bolsa por 60 dias consecutivos, e teria direito a mais 1% caso o mesmo ocorresse a US$ 35,30 (R$ 187,33).

Acontece que as ações do Nubank, que saíram a US$ 9 (R$ 47,76) cada no IPO e chegaram a US$ 12,24 (R$ 64,95) na estreia, fecharam ontem (28) a US$ 4,22 (R$ 22,39). Ou seja, teriam que subir em mais de quatro e oito vezes, respectivamente, para a ativação do pagamento.

O Nubank estimou o valor justo da remuneração em US$ 423 milhões (R$ 2,2 bilhões), um cálculo que, entre outras especificidades, tem como base números da época do acordo. Na prática, o valor recebido por Vélez seria maior, já que implicaria uma avaliação mais alta da empresa.

Questionado se a queda nas ações foi um fator para abrir mão da potencial remuneração, Vélez disse à Reuters que o programa foi “muito mal interpretado pelo mercado” no início do ano, já que ele era “muito, muito ambicioso”. Portanto, a decisão de desistir do pagamento não tem “nada a ver com o desempenho da ação no curto prazo”, afirmou.

Caso o primeiro objetivo fosse alcançado, com base no capital social atual, o Nubank valeria cerca de US$ 86,7 bilhões (R$ 460 bilhões) na bolsa, contra aproximadamente US$ 20 bilhões (R$ 106 bilhões) atualmente. Gigantes latino-americanos como Vale e Mercado Livre têm valor de mercado de cerca de US$ 69 bilhões (R$ 366 bilhões) e US$ 46 bilhões (R$ 244 bilhões), respectivamente.

Vélez, que já havia se comprometido a doar todas as ações que ganhasse com a remuneração extra para a plataforma filantrópica de sua família, disse que a decisão foi baseada no atual cenário macroeconômico de altas taxas de juros.

“Cheguei à conclusão que o melhor para a empresa neste momento é fazer esse cancelamento dado o quão caro é o programa para a empresa”, afirmou Vélez. “Isso nos permite navegar um ambiente mais turbulento com muito menos peso e de maneira mais ágil”, acrescentou.

Economia

O Nubank disse que a economia contábil esperada entre novembro de 2022 a 2029 será de US$ 356 milhões (R$ 1,8 bilhão), à medida que o banco não precisará mais reconhecer o efeito contínuo da potencial concessão futura da remuneração.

No entanto, o quarto trimestre de 2022 será impactado negativamente, com um reconhecimento único e não monetário de despesas no mesmo valor, afirmou a empresa, já que diretrizes contábeis exigem que a rescisão seja registrada como uma compra acelerada, mesmo que não haja aquisição ou desembolso real, segundo o Nubank.

A desistência da remuneração também evitará potencial diluição dos outros acionistas, em até 2% do total de ações ordinárias, disse o Nubank.

Vélez também descartou a possibilidade de um novo acordo similar no futuro, à medida que disse já estar “muito bem remunerado” com sua fatia de cerca de 20% na empresa, por meio da holding Rua California.

“Do ponto de vista da companhia, é um ganha-ganha muito relevante”, disse Guilherme Lago, diretor financeiro do Nubank, que falou à Reuters ao lado de Vélez. Ele citou a economia com despesas e destacou que “ao mesmo tempo a gente atinge isso mantendo o David super alinhado com o resto dos acionistas da empresa”.

O acordo é a “principal forma de compensação pela qual Vélez era potencialmente elegível para receber ações do Nubank”, disse a empresa. Os programas de remuneração extra de diretores permanecem inalterados.

O Nubank, que tinha 70 milhões de clientes em setembro entre Brasil, México e Colômbia, fechou o terceiro trimestre com lucro líquido ajustado de US$ 63,1 milhões (R$ 334 milhões), acima das estimativas de analistas. A ação ainda está longe dos US$ 9 (R$ 47,76) do IPO, mas se recuperou frente ao valor mínimo de US$ 3,3 (R$ 17,51), em junho.

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