No seu ambiente de trabalho, não importa quão pequeno ele seja, existe a possibilidade de alguém já ter sido afetado por um câncer. Em uma versão macabra da teoria dos seis graus de separação – jogo que sugere que há no máximo seis laços de amizade entre você e qualquer outra pessoa no mundo –, o câncer é tão presente que é mais provável que você conheça alguém que já tenha enfrentado a doença do que o contrário.
Estudos mostram que uma em cada duas pessoas vai desenvolver um câncer em algum momento da vida, e o câncer de mama é o mais comum nos diagnósticos. Por causa dessas estatísticas, é fácil assumir que, em algum ponto de nossas carreiras, alguém do trabalho vai estar enfrentando essa doença. Apesar disso, conversar sobre câncer no trabalho – particularmente com colegas que estão enfrentando a doença ou retornaram do tratamento – continua sendo um tabu.
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De acordo com uma pesquisa conduzida em 2016 pela seguradora de saúde AXA PPP Saúde, somente um quinto dos gestores que tiveram pessoas de sua equipe com câncer discutiram sobre a doença com eles, porque não sabem o que dizer. Um relatório do Instituto para Estudos sobre Emprego do Reino Unido mostra que muitos desses funcionários se sentem sem suporte, e há uma necessidade clara de os empregadores oferecerem retorno gradual, reabilitação vocacional e remodelação do emprego.
Para Jessica Jackson, protagonista do romance da autora Laura Price “Mulher Careca e Solteira”, que é diagnosticada com câncer de mama dias após conseguir seu emprego dos sonhos como editora de uma revista, pedir demissão não é uma opção viável.
Por um lado, a personagem não pode sobreviver financeiramente sem um emprego e não quer deixar o cargo que conseguiu – ela ama sua carreira e trabalhou duro para chegar nessa posição para deixar tudo para trás. Apesar de se afastar do trabalho nos dias após os tratamentos de quimioterapia, ela continua trabalhando enquanto encara o tratamento da doença, e essa narrativa é um retrato moderno de como é viver com câncer sendo uma mulher jovem com ambições profissionais.
“A carreira de Jessica é importante para sua saúde mental e independência”, diz a jornalista e autora Laura Price. “Ela precisa de algo que a estimule a continuar a luta contra a doença e não quer que as pessoas tenham pena de sua condição”. A autora criou a história após ter tido uma experiência similar. Diagnosticada com câncer de mama aos 29 anos, quando ela retornou ao trabalho, seus colegas foram compreensivos. Mas, com o passar do tempo, eles tiveram dificuldade em entender como as sequelas que a doença deixou afetavam seu trabalho.
“Quando voltei ao trabalho pouco tempo depois de terminar o tratamento de quimioterapia, as pessoas foram muito compreensivas porque eu ainda carregava os sinais físicos do câncer, como a cabeça careca”, ela explica. “Mas depois, eu ainda sofria de fadiga extrema e, em alguns dias, tinha dificuldades para deixar a cama. Era difícil para a minha equipe entender o porquê de eu não estar trabalhando ou socializar após o trabalho.”
Agora, com um segundo diagnóstico, Laura está, novamente, enfrentando o tratamento enquanto trabalha.
“Eu tive a sorte de ter recebido licença remunerada enquanto fazia a quimioterapia no meu primeiro diagnóstico de câncer de mama, aos 29 anos. Mas, agora, eu trabalho em tempo integral ao longo do meu tratamento no segundo diagnóstico de câncer de mama, aos 40 anos”, ela afirma. “Eu tenho que fazer isso por questões financeiras e porque o tratamento vai durar pelo resto da minha vida e, no momento, não me sinto tão mal para deixar de trabalhar.”
Como apoiar seu colega que está voltando para o trabalho
Ao contrário do que mostram muitos retratos em filmes e na televisão, a maioria das pessoas que enfrentaram o câncer vão ter que voltar ao trabalho em algum momento. Grande parte de tornar essa transição mais fácil está em ter colegas que forneçam apoio.
Qual é a melhor forma de dar esse suporte? É compreensível que muitos de nós tenhamos preocupações de errar no que fazer. Como Laura aponta, não há uma única solução para isso, mas há coisas que podemos fazer para facilitar esse processo.
Não faça suposições
Primeiro, Laura sugere entender o ritmo do seu colega e não assumir o que ele pode, ou não, fazer – mesmo com o passar do tempo. “Lembre que mesmo que o seu colega não esteja mais enfrentando algo tão intenso como a quimioterapia, ele ainda pode estar fazendo outros tipos de tratamento”, diz. “É possível que ele ainda esteja sofrendo com sintomas físicos ou mentais do câncer, então as necessidades podem mudar de semana a semana. Nunca assuma que a doença esteja completamente no passado.”
Seja direto
Laura acredita que é melhor ter uma conversa sincera com o colega e perguntar o que ele realmente precisa. “Não seja teimoso com seu colega e assuma que ele está menos capaz do que era antes. Seja direto: pergunte como ele está se sentindo e o que precisa que você faça. Um simples ‘O que você precisa de mim?’ é uma grande contribuição.”
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Para aqueles com a doença
“Estabeleça seus limites”, Laura recomenda. “Decida se você quer, ou não, que seus colegas saibam o que está acontecendo pessoalmente com você e como quer ser tratado. Se você não quer ser tratado de qualquer maneira diferente de antes, deixe isso claro. Mas, se precisar de mais ajuda ou flexibilidade, deixe isso claro também. Eu sempre pedia a colegas para me perguntarem diretamente se tivessem perguntas sobre o meu câncer – não queria as pessoas especulando nas minhas costas e a minha personagem Jessica faz o mesmo no livro. Não há maneira certa ou errada de lidar com a volta ao trabalho depois da sua doença – se comporte do seu jeito.”
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