Encontraram um adulto para resolver a confusão da FTX

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Ilustração/Forbes

Ex-CEO da FTX, Sam Bankman-Fried

Em uma declaração contundente na quinta-feira (17), John J. Ray III, o recém-nomeado CEO da exchange de criptomoedas FTX, que pediu recuperação judicial na semana passada, disse que nunca tinha visto “uma falha tão completa de controles e uma ausência tão completa de informações financeiras confiáveis”. Dadas suas décadas de experiência no mundo turbulento das falências e reestruturações corporativas, inclusive em casos envolvendo fraudes, essa declaração tem peso.

Nas últimas duas décadas, Ray, 63 anos, trabalhou em algumas das maiores e mais complicadas falências e reestruturações do país. Seus clientes incluem a empresa de energia Enron, a sétima maior falência americana. A empresa de hipotecas subprime Residential Capital, a companhia de telecomunicações canadense Nortel Networks e a fabricante de roupas íntimas Fruit of the Loom, além de muitas outras.

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Ele enfrentou pesos pesados nos tribunais, como o sedutor ex-CEO da Fruit. Resolveu estruturas financeiras complexas, como a da Residential e lidou com operações internacionais complicadas como as da Nortel. No caso da Enron, a recuperação das perdas foi muito maior do que os credores esperavam.

Ray, cuja empresa se chama Owl Hill Advisory e fica em Naples, Flórida, está agora no centro da tempestade na FTX, que foi avaliada em US$ 32 bilhões antes de seu colapso.

Ele foi nomeado CEO nas primeiras horas da manhã de 11 de novembro, quando Sam Bankman-Fried, o homem de 30 anos conhecido por todos como SBF, renunciou após uma súbita crise de liquidez que resultou em um déficit de US$ 8 bilhões. “Eu f… tudo”, twittou SBF enquanto a empresa estava falindo. Várias agências dos EUA, incluindo a Securities and Exchange Commission (SEC), equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Departamento de Justiça, estão investigando a FTX.

O trabalho de Ray é investigar os detalhes confusos e desvendar o labirinto de entidades corporativas de modo a localizar ativos, incluindo fundos perdidos ou roubados. Sua meta é maximizar o valor para as partes interessadas, reorganizando ou vendendo negócios.

No fim de semana, a FTX disse que contratou o banco de investimentos Perella Weinberg Partners, sujeito à aprovação judicial, para se preparar para a venda ou reorganização de alguns de seus ativos. “Com base em nossa análise da semana passada, temos o prazer de saber que muitas subsidiárias regulamentadas ou licenciadas da FTX, dentro e fora dos EUA, têm balanços solventes, gerenciamento responsável e franquias valiosas”, disse Ray em um comunicado.

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Desde que assumiu o cargo de CEO da FTX, Ray reúne sua equipe de advogados e consultores para reuniões duas vezes ao dia, às 9h30 e às 18h, sete dias por semana. Por seu trabalho, Ray receberá US$ 1.300 por hora, mais despesas razoáveis, de acordo com uma declaração de Edgar Mosley, diretor-gerente da empresa de consultoria de reestruturação Alvarez & Marsal, apresentada no domingo no tribunal de falências. A primeira audiência da FTX no tribunal de falências está marcada para terça-feira em Delaware.

“Ele é um dos melhores do ramo”, diz Jared Elias, professor da Harvard Law School especializado em falências. “Tem um histórico de cair de paraquedas em algumas das piores situações e obter os melhores resultados possíveis para os credores.”

Como talvez convenha a alguém em seu trabalho, Ray é avesso à exposição. Raras fotos foram tiradas dele há 15 anos como parte de um perfil do Chicago Tribune.

Como Autism Capital, um cronista da queda do FTX no Twitter, observou brincando: “John J. Ray III deve ser como a versão corporativa de Winston Wolf, O Lobo de ‘Pulp Fiction”. Você o chama para limpar sua bagunça corporativa, não faz nenhuma pergunta e ele desaparece no pôr do sol.” O personagem foi interpretado por Harvey Keitel no filme de 1994 dirigido por Quentin Tarantino.

Isso tornou a declaração pública de Ray sobre o estado dos negócios da FTX um choque particular, e talvez um sinal de alerta do que está por vir. “Fiquei surpreso que, em um período tão curto após a falência, ele fizesse um comentário tão explosivo”, diz Mark Lichtenstein, sócio da prática de falências da Akerman, que trabalhou na Enron com Ray, mas não está envolvido na FTX. “Isso não é típico dele.”

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Embora a assessoria de imprensa da FTX tenha impedido Ray de falar com a Forbes, ele é bem conhecido no seleto clube das falências e reestruturações. A abordagem de Ray é mergulhar nos detalhes e agir rapidamente com equipes criadas especificamente. Na FTX, ele rapidamente dividiu as operações em quatro locais diferentes, cada um dos quais agora é dirigido por um diretor independente com um currículo ilustre. Alguns deles já trabalharam com Ray.

“John é uma ave rara no mundo da falência. Ele já lidou com casos importantes e foi extraordinariamente bem-sucedido”, diz Jim Bromley, sócio da Sullivan and Cromwell, que trabalhou com Ray em várias falências e é parte da equipe de advogados da FTX. “Ele é um verdadeiro atirador de elite.”

Sua história

John J. Ray III

Ray cresceu no oeste de Massachusetts, filho de um encanador industrial e uma dona de casa, de acordo com uma história de 2007 do Chicago Tribune. Formado pela Universidade de Massachusetts em Amherst, graduou-se em direito pela Drake University em Des Moines, Iowa, em 1982, e passou o início de sua carreira em Chicago, no escritório de advocacia Mayer Brown, trabalhando em fusões e aquisições e mercado de capitaia.

Então, como conselheiro geral da Waste Management e suas afiliadas, ele lidou com projetos de remediação ambiental, incluindo sites do Superfund, e administrou litígios e investigações civis e criminais complexos.

Seu primeiro contato com falências complicadas ocorreu na Fruit of the Loom. Em 1999, menos de dois anos depois de ter sido contratado pela fabricante de roupas íntimas, a empresa profundamente endividada pediu concordata no âmbito do Capítulo 11 (Chapter 11). Como diretor administrativo e conselheiro geral, Ray gerenciou “todos os aspectos” do processo, segundo informa seu currículo.

Ele também orquestrou a ação legal contra Bill Farley, que havia sido CEO da empresa e obteve um empréstimo bancário de US$ 65 milhões que a companhia garantiu.

A Enron, falência espetacular que mandou seu CEO para a prisão por 12 anos, foi o maior caso da carreira de Ray. Como presidente da empresa reorganizada, ele supervisionou a liquidação de US$ 23 bilhões das operações da Enron. Nessa função, ele tramitou mais de mil processos, incluindo reivindicações de fraude, e conseguiu recuperar 50 centavos por dólar para os credores, muito acima do que se esperava na época.

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“Ele era realista”, diz Jim Latimer, um contador de Dallas que trabalhou como diretor da Enron com Ray. “Ele tinha uma boa noção do que você poderia fazer, o que o tribunal consideraria e como tirar o melhor proveito da situação para os vários grupos de credores. Ele certamente projeta confiança, mas não é daqueles que diz saber tudo e não estar aberto a sugestões.. Esse não é o John.”

Além da Fruit e da Enron, Ray também atuou como principal executivo da extinta empresa canadense de telecomunicações Nortel e suas afiliadas nos EUA, a partir de 2010.

Em 2014, ele se tornou membro independente do conselho da GT Advanced Technologies, que entrou com pedido de concordata no Capítulo 11 após perder um contrato de fornecedor com a Apple. E em 2016 ele foi nomeado para administrar um fundo liquidando os ativos da Residential Capital, que já foi uma das maiores empresas de hipotecas subprime dos EUA. Ele também trabalhou com a Overseas Ship Management, Ditech Mortgage e Burlington Industries em seus processos do Capítulo 11.

Assim como a FTX, muitas dessas empresas já foram as queridinhas de seus setores, com ativos espalhados pelo mundo até enfrentarem problemas. A Nortel, por exemplo, valia US$ 250 bilhões no auge da bolha tecnológica dos anos 1990, mas entrou em colapso após um escândalo contábil e erros administrativos. Após anos de litígios e vendas de ativos, a empresa distribuiu mais de US$ 7 bilhões aos credores.

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Ao contrário de muitos CEOs e membros do conselho de recuperação que lidam com vários compromissos ao mesmo tempo, Ray é conhecido por se concentrar em um negócio por vez, normalmente algo que demora anos para ser resolvido, diz Elias, de Harvard. Na FTX, Ray precisará primeiro encontrar os ativos para criar uma imagem viável do balanço patrimonial da empresa e, em seguida, descobrir como recuperar o dinheiro para os credores da empresa, um processo que provavelmente envolverá muitas acusações e litígio.

Esse tipo de caso, como o da Enron antes dele, pode levar anos — talvez uma década ou mais — para ser resolvido. “Ele fez um trabalho extremamente impressionante na Enron, e isso evoca a Enron até certo ponto”, diz Lichtenstein. “Acho que ele seguirá o mesmo manual aqui da Enron, mas será mais difícil para ele do que para a Enron, porque é mais complicado.”

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