Tributo a Angelo Venosa (1954 – 2022)

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Daniel Venosa, 2009. Cortesia da Galeria Nara Roesler

Escultor Angelo Venosa (1954-2022)

Nossa galeria teve o privilégio de representar e acompanhar de perto o trabalho deste grande artista por mais de dez anos. Venosa deixa um legado inspirador com sua produção antecipadora de questões fundamentais para arte e para a vida, como a busca por dar forma àquilo que existe e ainda não tem nome; a relação conatural entre o interior e o exterior dos corpos e das formas; a potência do desenho além do desenho; a inteligência virtual e os usos experimentais das novas tecnologias para a arte, entre outros.

Felipe Amarelo/Cortesia Galeria Nara Roesler

Angelo Venosa em sua individual Penumbra no Museu Vale, 2018.

Suas esculturas são elementos fascinantes, esqueletos ambíguos, que se contorcem com sensualidade, mas também com certa violência capaz de transmitir um profundo estranhamento. Sua narrativa híbrida se coloca no limite das formas imaginárias, bizarras, trazendo à tona o universo íntimo de um museu de história natural pessoal e particular em materiais como cera, chumbo, mármore, aço corten, vidro, fibra de vidro e até dentes de animais.

Leia mais: José Claudio: a vida do artista aos 90 anos

Movido por intensa curiosidade desafiadora, Venosa foi um pesquisador da tecnologia como caminho para ampliar o fazer manual. Em suas obras recentes apresentou elementos formais que evocam a corporeidade de seus primeiros trabalhos nos anos 1980, que se distinguem dos atuais não só pelo processo, mas pelo fato de instigarem novos diálogos entre escultura e espaço. Exemplos são mostras como Penumbra (2018), no Museu Vale do Rio Doce, em Vitória; a instalação Catilina, inaugurada no ano seguinte no Paço Imperial do Rio de Janeiro; bem como as obras do Projeto Clareira, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) em 2021.

Felipe Amarelo. Cortesia Galeria Nara Roesler

Angelo Venosa, Sem t’tulo, 2018, madeira, edição única, madeira, 250x157x770 cm. Exposição Penumbra no Museu Vale, 2018

Há quase dois anos as equipes da nossa galeria trabalham em dois projetos que deverão sair à luz pública no futuro próximo, infelizmente, com caráter póstumo. Compilei trechos de uma entrevista do artista publicada em inglês, em 2019, agora publicada, pela primeira vez, em português. (*)

Artista plástico ou escultor
“Em ficha de hotel é artista plástico, mais simples, mais vago. Faço coisas, construo. Escultor acho pedante, mas há quem me chame assim”.

O fazer
“Minha primeira decepção aconteceu quando meu pai chegou em casa com uma ferramenta nova, para ele, era uma grosa. Caí no choro, tinha uns 4 anos, achei que fosse um presente para mim”.

Timidez
“Não sou mais tímido, fiz upgrade para reservado”.

Cortesia Galeria Nara Roesler

Angelo Venosa, Sem título (Baleia), 1990, aço corten, 360×660×225 cm, Praia do Leme, Rio de Janeiro.

Geração 80
“Tenho pouco a acrescentar aos clichês daquela época, do meu muito particular ângulo era muita coisa nova acontecendo, umas boas, outras assustadoras. Estávamos saindo da ditadura, eu havia mudado para o Rio fazia pouco e já era pai, o que me dava outras premências”.

Inteligência das coisas
“Se eu quisesse dizer algo com meus trabalhos, não faria esculturas, escreveria livros. Na verdade, tenho antipatia por enunciados atrelados à obra. A obra é o que é, acontece ou não no espaço físico, na coisa. Acredito na inteligência das coisas, na complexidade da experiência do mundo material”.

Realidade imaginada
“Nas (minhas) construções dos anos 1980 e nas releituras recentes é uma realidade imaginada que se constrói à medida que o trabalho anda. Em trabalhos dos anos 2000 uma forma dada, prévia, é decupada e reconstruída, nesses casos é o processo de reengendrar que importa. Sempre me refiro a uma gramática própria, pequena, mas confiável. Uma espécie de disco arranhado para onde tudo sempre se volta”.

Cortesia Galeria Nara Roesler

Vista da exposição de Angelo Venosa, Clareira, no MAC USP, 2021.

A pintura
“Não pinto mais, mas ainda desenho. Num certo sentido, o desenho é a mãe da escultura”.

Sem título
“Nada meu tem nome”.

Em que movimento ou escola está inserida sua obra?
“Em nenhum lugar ou numa tese de dissertação. Fico com a primeira hipótese”.

(*) Trechos da entrevista de Cynthia Garcia com o artista, publicada em 26 de fevereiro de 2019 na plataforma de arte brasileira do site norte americano Newcity Brazil sob o título “Like That Old Scratched Vinyl Record That You Play On and On”: The singular art ‘thesaurus’ of Angelo Venosa”

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Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte cynthigarciabr@gmail.com

Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
info@nararoesler.art
Instagram galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/

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