Rotular mulheres como “emotivas” diminui a credibilidade delas, mostra estudo

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Win McNamee/Getty Images

Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, é uma das mulheres rotuladas como “emotivas”

Um novo estudo mostra que rotular uma mulher como emotiva ou dizer para ela se acalmar faz o ponto de vista dela ser visto com menos credibilidade. Desde Kamala Harris a Oprah Winfrey, o rótulo de emotiva é normalmente associado a mulheres na política, no entretenimento, nos negócios e em qualquer ramo no qual elas estejam tentando ser ouvidas.

Geralmente, tendemos a pensar que as pessoas são racionais ou emotivas, mas elas não podem ser as duas opções. Quando o argumento de uma mulher é relacionado às suas emoções, sugere que ela não está pensando lógica ou racionalmente. Como resultado disso, a legitimidade dos seus argumentos fica mais fraca.

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Essa conexão entre o rótulo de emotivas e a legitimidade de argumentos das mulheres foi estabelecida em um relatório recém publicado pela Revista Trimestral de Psicologia Feminina (Womens Psychology Quarter, em inglês). Os participantes do estudo leram um diálogo entre duas pessoas discordando entre si. Durante a discussão, a mulher ou o homem era ordenado a se acalmar. Quando a mulher era instruída a ficar calma, os participantes avaliaram a argumentação dela na conversa como menos legítima.

Em uma estudo semelhante, no qual a mulher era rotulada como emotiva, os pesquisadores obtiveram os mesmos resultados. Nas suas situações, a credibilidade da mulher é prejudicada. 

A legitimidade dos homens não é afetada quando são chamados de emotivos ou quando são instruídos a se acalmar. Isso acontece porque as pessoas não acreditam que o rótulo de emotivos se aplica a eles. Os pesquisadores registraram que os participantes “acreditavam na atribuição de emoção quando essa era direcionada a uma mulher, mas não em relação a um homem. Especificamente, quando tanto mulheres quanto homens eram chamados de emotivos em circunstâncias idênticas, as personagens femininas da discussão eram percebidas como mais emocionais do que os indivíduos masculinos.”

Mulheres reclamam, com recorrência, de serem ordenadas a se acalmarem ou a expressar menos emoções no trabalho. Oprah Winfrey disse ao jornal norte-americano de entretenimento The Hollywood Reporter que ela já foi criticada no programa 60 minutos por se expressar com muitas emoções, até mesmo na forma como disse seu nome. “Nunca é uma boa coisa quando eu tenho que praticar a falar meu nome porque ele transmite muita emoção”, ponderou Winfrey. “Eu retruquei: ‘A emoção está na palavra “Oprah” ou no meu sobrenome “Winfrey”?’”, ela explicou como reagiu. A apresentadora também contou que já foi instruída a nivelar sua voz e a mostrar menos emoção nas leituras do programa de televisão.

Mulheres na política são, muitas vezes, alvos fáceis para o rótulo de emotivas, porque o trabalho delas requer ter paixão por suas convicções. Um ex-assessor de campanha de Donald Trump chamou Kamala Harris de histérica depois da vice-presidente dos EUA ter feito perguntas desafiadoras ao ex-procurador da República norte-americano, Jeff Sessions, em reuniões no ano de 2017.

Em 2016, o então candidato à presidência Donald Trump rotulou sua oponente, Hillary Clinton, como uma pessoa descontrolada. Igualmente, a congressista Alexandria Ocasio-Cortez já enfrentou comentários pejorativos por chorar depois de um voto no plenário do Congresso.

A conexão entre emoção e mulheres na política é tão forte que alguns ainda acreditam que elas não se encaixam nesses cargos. Um estudo do Centro para Educação e Mercado de Trabalho da Universidade de Georgetown, de 2019, descobriu que 13% dos homens ainda têm dúvida sobre a estabilidade emocional de mulheres para a política. Essa porcentagem representa 1 em cada oito homens.

As boas notícias são que houve progresso desde os anos 1970, quando a parcela da população que acreditava que mulheres eram instáveis demais para a política alcançava quase 50%. Naquele tempo, quando pensou em indicar uma mulher para a Suprema Corte dos EUA, presidente Nixon disse ao seu procurador-geral John Mitchell: “Eu não acredito que uma mulher deveria estar em qualquer cargo do governo. De verdade. A razão disso é que elas são erráticas e emotivas.”

Apesar dos avanços, a crença de que mulheres são mais emotivas do que os homens continua sendo um dos estereótipos de gênero mais fortes ainda existentes. Essa nova pesquisa publicada na revista feminina de psicologia mostrou os efeitos negativos da atuação desses estereótipos, mesmo quando eles não são reais.

“Estereótipos de gênero relativos à emoção são um obstáculo importante para mulheres crescerem e terem sucesso em suas carreiras e em posições de liderança”, pontua Victoria Brescoll, professora de gestão de Yale. Além disso, Brescoll escreveu sobre como expressar emoções 

Líderes são geralmente penalizados por pequenas demonstrações de emoção, mas ser completamente inexpressivo com suas emoções pode também ser prejudicial. Mulheres não emotivas são vistas como fracassos ao não serem calorosas e diplomáticas como é esperado delas. Em outras palavras, em relação a expressar, ou não, emoções, as mulheres não conseguem ter sucesso.

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