O mercado voltou do feriado de mau humor. Durante o pregão da manhã, o Ibovespa chegou a cair mais de 2% a 114,5 mil pontos e o dólar subiu 1%, a R$ 5,17, devido à perspectiva de juros mais altos e por mais tempo nos Estados Unidos.
Ontem (2), quando os mercados brasileiros não funcionaram devido ao feriado do Dia de Finados, o Fomc (Federal Open Market Committee), o Copom americano, encerrou sua reunião de dois dias. A decisão de elevar os juros dos Estados Unidos em 0,75 ponto percentual, para a faixa entre 3,75% e 4% ao ano já era esperada.
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Porém, o que não era esperado eram as declarações de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve), o BC americano, que contrariaram o documento divulgado pouco antes pelo próprio Comitê.
Como de costume, o Fomc anunciou a alta das taxas em um Comunicado, que dizia: “ao determinar o ritmo de aumentos futuros [nos juros], o Comitê levará em conta o aperto acumulado da política monetária, as defasagens com que a política monetária afeta a atividade econômica e a inflação e os desenvolvimentos econômico-financeiros.”
A interpretação foi de que o Fed indicava uma interrupção do ciclo de alta dos juros. O suficiente para justificar uma boa alta nas ações. Porém, Powell concedeu uma entrevista coletiva após a reunião e descartou a ideia. “Em minha opinião é muito prematuro pensar em uma pausa na elevação das taxas de juros”, disse ele. “Ainda temos um caminho a percorrer.”
Ele não disse “longo”, mas isso ficou implícito. Resumindo: ontem (2) o índice S&P de 500 ações recuou 2,5% e o índice Nasdaq, que possui mais ações de tecnologia e é mais sensível às oscilações da política monetária, fechou em baixa de 3,4%. E nesta manhã os índices voltam a cair.
Indefinição
Por que tanta indefinição com os juros americanos? O trabalho do Fomc (assim como o do Copom), é manter a inflação dentro da meta, e alcançar esse objetivo “com a menor taxa de desemprego possível” – meta que o BC brasileiro também passou a seguir após ter sua independência aprovada. Assim, além de olhar os preços, os membros do Fomc têm de acompanhar de perto as variáveis do nível de atividade. E é aí que reside a incerteza.
Os preços seguem em alta, como ficou claro na divulgação do Personal Consumption Expenditure (PCE) de setembro, anunciado no dia 28 de outubro. No 12 meses até setembro, os preços pelo índice geral subiram 6,2%, percentual semelhante ao dos 12 meses até agosto.
Os preços medidos pelo núcleo da inflação (“core index”), que descarta itens como alimentos e energia, subiram 5,% nos 12 meses até setembro, ante 4,9% nos 12 meses até agosto. Isso indica uma inflação persistentemente em alta. Ou seja, uma inflação que claramente segue dinâmica.
Porém, há vários indicadores de atividade econômica que mostram uma desaceleração dos negócios. As vendas ao setor privado cresceram apenas 0,1% no terceiro trimestre na comparação anual, ante uma alta de 0,5% no segundo trimestre e de 2,% nos três primeiros meses do ano.
O que vale mais, a inflação acelerando ou a atividade econômica perdendo fôlego? Ainda é impossível saber. Há bastante expectativa com a divulgação da criação de vagas de emprego não-agrícolas (“non farm payroll”) de outubro, que deve ser anunciada na sexta-feira (04).
A projeção é de abertura de 200 mil vagas, abaixo das 263 mil de setembro e da média mensal deste ano, que está em 420 mil vagas. Um número muito acima disso mostrará que o mercado de trabalho e os salários seguem aquecidos, o que dará mais combustível à tese de que o aperto monetário seguirá pelo menos pelo primeiro trimestre de 2023.
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