Faltando poucas horas para o resultado do segundo turno das eleições, os ânimos permanecem acirrados e as pesquisas ratificam a indefinição quanto aos rumos políticos do país. A essas alturas, há muitos investidores em compasso de espera, para definir aportes somente na próxima semana, após o resultado das urnas.
Compreendo a hesitação, principalmente no caso de investidores menos experientes, contudo, quero te chamar atenção para um raciocínio que, se você não fez ainda, convém fazer. E para te ajudar nisso, vou falar de dois cenários de investimentos onde o peso de suas escolhas é mais relevante do que o resultado das urnas.
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Cenário 1:
Vamos supor que você tem ou pretende ter uma carteira de investimentos cujo montante financeiro será utilizado em até dois ou três anos. Sendo este o seu caso, o valor a investir deve estar em um CDB ou título do tesouro com prazo compatível com a data em que será utilizado e, portanto, não faz diferença para você os impactos pontuais que o resultado eleitoral possa produzir, afinal, se você contratou um fundo de renda fixa e seu prazo é curto, não há espaço para mudanças de rota para este dinheiro, sob pena de pôr a perder a estratégia definida.
O mesmo se aplica à sua reserva de emergência ou metas de um ano ou menos. Nestes casos, o dinheiro precisa estar no Tesouro Selic ou em um CDB com liquidez diária que pague 100% do CDI, não havendo quaisquer medidas que você possa tomar para acompanhar o ritmo do mercado ditado pelo resultado eleitoral, pelo menos para este investimento específico.
Cenário 2:
Agora, vamos imaginar que o dinheiro que você irá investir é para longo prazo, algo a partir de oito ou dez anos. Talvez sua aposentadoria, ou uma mudança de cidade ou até de país, enfim, algo que demande tempo para que a soma de aportes e juros compostos propiciem o crescimento patrimonial compatível com o custo projetado para a sua meta.
É bastante provável que seus aportes visando esta meta estejam sendo feitos em ações, fundos de ações, ou outras estratégias combinando classes de ativos mais arrojadas e com potencial de ganhos expressivos no longo prazo.
Pensando nisso, vamos fazer um pequeno exercício de futurologia: você tem ideia de quem será o presidente do Brasil daqui a oito ou dez anos? Consegue prever com razoável margem de acerto todos os acontecimentos macroeconômicos da próxima década, incluindo guerras, pandemias, mudanças de governos, questões climáticas influenciando nas safras agrícolas cujos contratos são negociados em mercados futuros etc?
Presumo que sua resposta a essas questões seja ‘não’, entretanto, você segue com seu plano de investimento, não é mesmo?
E está correto em fazê-lo, afinal, no longo prazo, o efeito da volatilidade do mercado será diluída e, em linhas gerais, serão a constância de aportes nessa linha de tempo ampliada, o balanceamento da carteira e os juros compostos que proporcionarão resultados consistentes, a despeito do mandatário que esteja ocupando o Palácio do Planalto.
Mandatos mudam a cada quatro anos, seus planos não.
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Mesmo que você pudesse saber de antemão o nome do Presidente da República daqui a 8 anos, acredito que seus investimentos de hoje não seriam pautados nesta informação, pelo simples fato de que não é isso que irá definir a viabilidade de seu portfólio.
O presidente que se eleger no próximo domingo terá seu mandato terminando daqui a quatro anos. Investimentos de longo prazo têm duração de dez, quinze ou até mais anos e é exatamente essa assimetria que possibilita controle de riscos e tranquilidade em momentos de turbulência política.
É claro que uma eleição presidencial tem importância e a equipe econômica escolhida influenciará a saúde financeira do país, o poder de compra da população, grau de confiança dos investidores internacionais e muito mais. Não é pouca coisa, porém, como investidor, sua estratégia de longo prazo é mais importante do que um mandato presidencial.
Seu foco principal deve ser na alocação estruturada de seus recursos em linha com suas metas. Dessa forma, acompanhar o noticiário político terá a função de mitigar riscos pontuais que possam ser ameaças no longo prazo, mas não deve pautar suas escolhas de investimentos.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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