A avaliação das ações do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos em relação à política monetária geralmente envolve palavras-chave. Em 2021 e no início de 2022, a ideia de que a inflação era “transitória” era presente. Com o tempo, ficou claro que isso estava errado. Durante o verão, todos perceberam o risco de a inflação se tornar “entrincheirada”, principalmente depois do discurso de Jerome Powell (presidente do Fed) em Jackson Hole levando a novos aumentos de taxas.
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Em discursos mais recentes, os diretores do Fed falaram de uma “pausa”, a indicação de que o banco central americano vai parar de subir as taxas por algum tempo para avaliar se (e como) suas políticas estão funcionando. Os mercados parecem ver isso como provável. Fica a dúvida: será que a pausa vai acontecer?
Por que interromper a alta?
É provável que uma pausa faça parte de uma política monetária sólida. As taxas de juros podem ser descritas como um freio para a economia dos Estados Unidos. Com taxas de juros de 0%, as rodas da economia giram livremente.
Com juros mais altos, de 2% a 4% ao ano, as rodas da economia desaceleram. Essa analogia ajuda a explicar por que o Fed tende a fazer uma pausa. Em algum momento, os freios serão totalmente pressionados contra as rodas da economia dos EUA. As indicações sugerem que isso pode acontecer com taxas de juros em torno de 5% ou mais.
O desafio é que a política monetária, diferentemente dos freios de uma bicicleta, pode levar até um ano para fazer efeito sobre a economia. Talvez seja prudente fazer uma pausa quando o Fed acreditar que os freios estão acionados. Se o Fed acertar, eles funcionarão, mas levará meses para ver o efeito. Vale lembrar que o Fed elevou as taxas pela primeira vez, neste ciclo, em março de 2022. Ou seja, ainda não passou um ano desde o primeiro aumento de juros.
O problema de juros altos demais
Taxas excessivas carregam vários riscos. Embora não seja diretamente parte do mandato do Fed, as taxas de juros acabam por aumentar o custo da dívida pública, que é recorde. Isso significa que, se o Fed aumentar as taxas muito altas, o governo dos EUA pode gastar mais que o planejado pagando juros.
Os EUA querem evitar o que ocorreu recentemente no Reino Unido. Por lá, os mercados começaram a perder a fé na capacidade de o país manter sua dívida sob controle. Além disso, é importante lembrar que os Estados Unidos têm uma proporção maior da dívida do governo em relação ao PIB do que o Reino Unido.
É importante observar que há muitos indicadores de que uma recessão nos EUA pode estar chegando, incluindo a fraqueza no setor imobiliário e a forma recente da curva de juros. Porém, o Fed atualmente se preocupa mais com a inflação do que com uma recessão.
Ainda assim, o banco central gostaria de evitar uma recessão. Isso se puder. No entanto, o feito pode não ser possível. Entretanto, continuar a aumentar as taxas demais pode tornar qualquer possível recessão mais profunda e dolorosa do que o necessário para combater a inflação.
Riscos inflacionários
Há riscos do outro lado também. O Fed quer garantir que a inflação não saia do controle, pois isso também prejudicaria a economia americana. Esse é o desafio. O Fed não viu sinais de que a inflação está caindo. Na verdade, o núcleo da inflação permanece teimosamente alto em dados recentes do CPI (Consumer Price Index, o índice de preços ao consumidor). Ainda assim, muitos esperam que as políticas do Fed e outros fatores dominem a inflação em 2023.
Em uma última análise, os mercados estão apostando que começaremos a ver alguns números de inflação melhores em algum momento nos próximos quatro meses. Isso provavelmente não trará a inflação de volta à meta de 2% do Fed, mas pode sugerir que a inflação está diminuindo.
O que esperar do Fed em 2023
Como sempre, o Federal Reserve administra as expectativas com cuidado. É provável que haja uma alta de 0,75 ponto percentual na reunião de novembro. Também é provável que vejamos outra alta de 0,5 ponto percentual em dezembro.
As decisões do Fed para 2023 estão claramente em jogo. É aqui que os mercados estão antecipando uma pausa. O momento, no entanto, permanece incerto.
Um cenário estimado é um ‘tapering’ (afunilamento, em português) de aumentos de taxas com 0,75 pontos percentuais em novembro, 0,5 em dezembro e 0,25 em fevereiro, e, a partir de então, a pausa ocorre.
Entretanto, os mercados também enxergam uma boa chance de que os aumentos das taxas terminem em fevereiro ou não aconteçam até o início do verão, com base nos futuros atuais das taxas de juros.
Datas de reunião do Fed para 2023
Além disso, lembre-se de que o Fed não se reúne todos os meses. Sim, há reuniões em novembro e dezembro de 2022. No entanto, a primeira decisão de taxa de juros agendada para 2023 ocorre em 1º de fevereiro.
Em seguida, o banco central define as taxas novamente em 22 de março e pula o mês de abril para se reunir novamente só em 3 de maio. Essas reuniões do início de 2023 é quando os mercados esperam que o Fed aperfeiçoe sua abordagem a qualquer pausa na política monetária.
O que observar
A avaliação atual do mercado, que obviamente pode mudar, é que uma pausa está chegando no primeiro semestre de 2023. Foi isso que ajudou a sustentar uma recente alta nas ações desde meados de outubro.
Em última análise, qualquer decisão de pausa será impulsionada por uma avaliação de que a política do Fed está funcionando, o que significa alguma indicação de que a inflação dos EUA está realmente caindo.
Infelizmente, os próximos dados do CPI para novembro podem não fornecer esse conforto, pois a inflação pode subir cerca de 0,8% mês a mês nas estimativas atuais, mas temos muito mais dados de inflação antes que o Fed comece a tomar suas decisões de taxa de juros de 2023.
Portanto, espera-se que o Fed alivie os aumentos das taxas em 2023, mas isso provavelmente pressupõe que investidores verão alguns sinais iniciais e encorajadores nos dados de inflação em breve. Os Estados Unidos ainda não chegaram lá, mas os mercados esperam que isso aconteça nos próximos meses.
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O post Juros americanos: faz sentido esperar uma pausa no aperto em 2023? apareceu primeiro em Forbes Brasil.