Prosecco, o espumante italiano, é o efervescente mais popular do mundo. Vende mais garrafas do que champanhe francês e cava espanhol juntos. Mas é uma invenção bem recente. Até 2009, Prosecco era o nome de uma uva cultivada, principalmente — mas não apenas —, no nordeste da Itália. Em seguida, transformou-se no nome de uma região vinícola e tornou-se uma história de sucesso mundial. Mas não “do nada”.
Prosecco costumava ser o nome de uma uva cultivada na região de Veneto. Acredita-se que seja originária da Croácia e tenha sido cultivada nos Balcãs, em particular na Eslováquia, há muito tempo. Mas a maioria das plantações estava em Veneto.
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Na primeira década do novo milênio (os anos que antecederam 2009), os vinhos à base de prosecco estavam se tornando cada vez mais populares. Provavelmente um pouco ajudados por Paris Hilton — que lançou o Rich Prosecco, em 2006 —, pela tendência do Aperol Spritz, os dias de glória do Champagne e a mania geral por vinho borbulhante. Mas os produtores de vinho à base de prosecco em Veneto não gostaram que outros pudessem se beneficiar da crescente popularidade da uva, então, pensaram em criar uma denominação para protegê-la, pois, quando há uma denominação, outros não podem usar o nome.
Mas havia um problema: as regras europeias de denominação afirmam que um nome de uva não pode ser uma denominação em si. Assim, o prosecco – uma uva – não poderia se tornar um DOC (o código italiano para uma denominação).
Primeiro, foi preciso mudar o nome da uva: prosecco foi removido do registro oficial e passou a ser oficialmente declarado glera, um sinônimo até então pouco usado para a uva.
Em seguida, criou-se uma região chamada Prosecco. Havia uma vila chamada Prosecco em Veneto, mas, de acordo com várias fontes, ela não tinha vinhas. A produtora mais proeminente de vinho da uva prosecco foi a pequena região de Conegliano-Valdobbiadene, em homenagem a duas cidades a noroeste de Veneza, que estava convenientemente localizada na região de Veneto. Assim, as autoridades decidiram “inventar” uma nova região geográfica chamada Prosecco por lá.
Então, Prosecco passou a se tornar um nome geográfico, e um DOC Prosecco pôde ser criado. O nome Prosecco tornou-se um monopólio para a região. E todos tiveram que chamar a uva de “glera”.
Por algum tempo houve uma discussão sobre se prosecco é um nome de uva ou uma região vinícola. Hoje essa discussão acabou, é do ponto de vista legal uma região.
A história, além de ser interessante historicamente, também é uma ilustração reveladora de como a indústria do vinho às vezes é guiada mais por iniciativas protecionistas do que por boas razões.
Hoje, a região Conegliano-Valdobbiadene é muito bem sucedida. Ela produz, junta, cerca de 700 milhões de garrafas de espumante por ano. No entanto, isso me faz pensar se Conegliano-Valdobbiadene e Asolo (o outro Prosecco) poderiam ser melhores hoje, se não associadas ao nome do Prosecco. Prosecco é famoso pelo vinho espumante fresco, direto e acessível. Os produtores mais ambiciosos têm dificuldade em atingir os preços premium necessários para seus vinhos de alta qualidade. Talvez hoje eles se arrependam dessa associação. É como algo que se torna um tremendo sucesso, mas a qualidade não está à altura e prejudica a reputação de toda a região. Certamente existem alguns vinhos muito bons de Prosecco e de Conegliano-Valdobbiadene em particular, mas talvez não 700 milhões de garrafas.
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