Promovido pela Embaixada da Paz do Brasil, aconteceu nos dias 15 e 16 de outubro, no final da semana passada, no Teatro L’Occitane, em Trancoso (BA), o evento “48 Horas Pela Paz”. Fui convidada a participar para falar da relação do agro com a paz. Você pode estar se perguntando: o que o agro tem a ver com a paz?
Em conversa recente com a presidente da embaixada, Helena Rosén, a vice-presidente Rosane Rosolen e a embaixadora Maria Paula Fidalgo, defendi a ideia propagada pelo ministro Roberto Rodrigues de que agro é paz, pois onde houver fome não haverá paz. Nesta conversa, falamos da condição do Brasil de ser um agente da paz, sendo um dos principais produtores de alimentos do mundo. A Embaixada apoiou a ideia e abriu espaço para o agro em um evento voltado a encontrar soluções para a paz mundial.
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O evento foi um grande encontro com advogados, empresários, lideranças religiosas, música, dança e muito questionamento sobre a realidade do setor do agronegócio. Apresentações impactantes, como do advogado Miguel Pereira Neto, agregando a todos; de Carolina Andraus, cujo projeto trata da importância da independência financeira feminina; do monge Daniel Rinpoche, com sua fala inspiradora; da cineasta Minom Pinho, que tratou da inclusão das mulheres; da abadessa Miao You do templo mais antigo brasileiro e da interpretação tocante de Gandhi, performada pelo artista João Signorelli.
Também estiveram presentes a empresária Cristiana Arcangeli, que tem um belo projeto apoiando empreendedores nas favelas, além de advogadas que fazem um maravilhoso trabalho sobre inclusão negra e feminina, Silvia Souza, Gabriela Araújo e Juliana Souza.
Foi desafiador falar sobre o setor para um público culto e preparado, mas, que por outro lado, desconhece a realidade da produção rural. Senti na pele o abismo de informações desatualizadas que separam a opinião pública do setor do agronegócio e quanto temos que trabalhar esclarecendo dúvidas, atualizando e construindo pontes de diálogo com educação e humildade.
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Trouxe ao painel a informação de que a partir do começo deste século a ONU (Organização das Nações Unidas), instituição multilateral destinada a preservar a paz mundial, passou a se preocupar com segurança alimentar, pois percebeu que não haverá paz onde houver fome. O fim da fome não é uma condição suficiente para a paz, mas é, sem dúvida, uma condição necessária, um primeiro passo nesse sentido.
Pelas estimativas da ONU, o planeta terá quase 10 bilhões de pessoas em 2050. Como o Brasil irá se preparar para ajudar a alimentar essa população? Essa é uma questão fundamental, de caráter estratégico, que o Brasil e o mundo precisam ter. De acordo com um estudo do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), de 2017, o Brasil tem a missão de aumentar em 40% de maneira sustentável a sua produção de alimentos.
A título de comparação, o crescimento previsto para a produção de alimentos nos Estados Unidos é de 10%. Parece uma missão impossível, entretanto defendi a posição de que nossos pesquisadores e produtores rurais trabalham em uma busca incessante por soluções sustentáveis.
Infelizmente, temos um gargalo, a imagem do agronegócio brasileiro que não depende somente do que fazemos dentro da porteira. Fui a este evento me colocando no lugar das pessoas que desconhecem a realidade do setor e estão tentando encontrar essa linha de diálogo.
A sociedade civil recebe noticias sobre queimadas, desmatamento. Defendi a ideia de que precisamos separar produtores rurais de criminosos, madeireiros, grileiros, que queimam e desmatam ilegalmente, pontuando que o produtor rural é contra queimadas e desmatamento ilegal.
Falei sobre a verdadeira revolução dentro das porteiras nos últimos 40 anos, da existência de um novo produtor rural que é verde e se preocupa com a preservação, sustentabilidade e bem estar animal, sendo o pilar do sucesso do agro brasileiro. Além de defender que o agro brasileiro não precisa desmatar um palmo de terra para produzir mais, pois nosso aumento de produtividade é baseado em pesquisa e tecnologia.
O setor é estratificado e multifacetado, enfrenta muitos desafios, entretanto vale ressaltar os excelentes resultados. Convidei as pessoas a levarem para casa alguns fatos, dados e números como o de que 25% de toda área preservada no Brasil se encontra dentro de propriedades rurais, sobre como os índices de produtividade do nosso país não pararam de crescer (de 1975 a 2020 a produção cresceu 384% e a produtividade 500%).
Mostrando que nos últimos 40 anos saímos de importador de alimentos básicos, para um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. Falei sobre biológicos, que com 23 milhões de hectares, o Brasil hoje é líder mundial na utilização de bioinsumos que substituem defensivos e fertilizantes químicos, e sobre o estudo do IPEA, que destaca o Brasil como líder e protagonista na economia de baixo carbono.
Apontei alguns desafios do setor, como combater o desmatamento ilegal, fazer a tecnologia chegar ao produtor menos tecnificado, tirar os produtores, principalmente os pequenos produtores assentados, da ilegalidade, oferecendo regularização fundiária, financiamentos e abertura de mercado para seus produtos.
Voltando ao início, o Brasil tem condições de ser um agente da paz, sendo um dos principais produtores de alimentos do mundo. Portanto, pensar em uma produção sustentável é pensar em elevar o Brasil à liderança mundial de produção aliada à preservação e os que entrarem nesse movimento, agora, estarão aqui para contar a história. Então, fica o convite para continuarmos a escrever essa história de paz juntos.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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