A COP27, a 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a ser realizada no próximo mês, no Egito, provavelmente não registrará avanços no financiamento climático para preservação ambiental em países em desenvolvimento, na medida em que financiadores do mundo desenvolvido, como a União Europeia, atravessam uma crise econômica, avaliaram especialistas do agronegócio brasileiro hoje (18).
O financiamento climático é um dos pilares para fomentar a implementação das ações de mitigação, e seria importante fonte de recursos para ajudar nações em desenvolvimento a atingir suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa.
Já na COP26, em Glasgow, as discussões evidenciaram dificuldades para implementar a meta de US$ 100 bilhões (R$ 526 bilhões) por ano em financiamentos ambientais, prejudicando o cumprimento do Acordo de Paris, disse a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), que vê isso se repetindo na conferência deste ano.
“Não acredito que será tomada uma decisão e que haverá esse recurso. Tem a crise na Europa, que seria a financiadora… tem a guerra da Ucrânia, tivemos a pandemia nos últimos três anos, imigração, redução de PIB desses países”, disse o consultor jurídico e de meio ambiente da CNA, Rodrigo Justus.
Durante evento que marcou a entrega de propostas do agronegócio para o governo brasileiro levar à COP27, Justus afirmou que, se as nações desenvolvidas tivessem enviado antes recursos para financiamentos que poderiam ter ajudado populações de regiões pobres no Norte do país, talvez não houvesse tanta discussão sobre desmatamento ilegal.
“Eu pessoalmente não enxergo que esses países irão agora colocar este dinheiro, porque sempre tiveram esse dinheiro e a oportunidade para fazê-lo, e viraram as costas”, comentou.
O agronegócio brasileiro tem papel importante para o atingimento de metas ambientais do Brasil, com o país comprometendo-se a reduzir sua emissão de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e 50% até 2030, em relação ao emitido em 2005.
Além disso, o Brasil busca alcançar a neutralidade climática até 2050 e zerar o desmatamento ilegal até 2028, conforme alguns dos objetivos assumidos pelo governo brasileiro.
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Marcelo Morandi também disse achar “muito pouco provável que tenhamos algum avanço desse financiamento climático neste momento, com todo este contexto”.
Segundo ele, o Brasil tem muito a apresentar em termos de agricultura sustentável, mas também precisa combater o desmatamento ilegal, que muitas vezes acaba associado ao agronegócio, mesmo sem que haja tal relação direta.
“Esse agro tem que combater mais diretamente a ilegalidade, temos de mostrar claramente que o agro é contra ilegalidade, isso é um ponto fundamental. Se tem parte da ilegalidade que de alguma forma está associada ao agro, isso tem que ser combatido pelo agro sustentável”, comentou.
“Mesmo que o problema não esteja associado diretamente ao agro, sempre quem vai pagar a conta é o agro, porque é o setor que está mais próximo da realidade”.
Para o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, presente no evento, “o Brasil tem o agro convencional mais regenerativo do mundo“, e “é parte da solução da nova economia verde” que será mostrada pelo país na conferência do clima.
Já o ministro da Agricultura, Marcos Montes, disse que a COP27 permitirá ao Brasil falar de ações para a redução de gases de efeito estufa, mas também sobre segurança alimentar.
“Essa COP é uma oportunidade… de dizer que o Brasil está produzindo, e que sustentabilidade não é só a questão ambiental, é econômica, social”, disse.
O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, disse que o país vai reiterar na COP a mensagem de que está comprometido com o Acordo de Paris.
Ele disse ainda que o Itamaraty rejeitará que considerações climáticas sejam utilizadas como barreiras comerciais em detrimento do sistema internacional de comércio, destacando a importância que o país tem para garantir a segurança alimentar global.
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