Acordo para a saída de grãos da Ucrânia está no fim. E agora?

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Dois aviões de ataque russos Su-25 Frogfoot cruzam um campo de trigo na Ucrânia, visto da colheitadeira de um fazendeiro.

Em cerca de um mês, o acordo da Iniciativa de Grãos do Mar Negro entre a Ucrânia e a Rússia expirará. Se não for estendido, os preços dos alimentos e a escassez global aumentarão. Mas com o cenário indo mal na frente ucraniana, Putin pode usar os grãos como alavanca.

Negociado no final de julho, o acordo intermediado pela Turquia e pela ONU permitiu a retomada das exportações da Ucrânia por meio de um corredor marítimo seguro de grãos, outros alimentos e fertilizantes que foram interrompidos pelo bloqueio da Rússia aos portos do Mar Negro da Ucrânia. O acordo tirou um pouco da pressão dos mercados mundiais de alimentos antes mesmo de os embarques monitorados pela iniciativa começarem a sair de três portos ucranianos importantes (Chornomorsk, Odesa e Yuzhny/Pivdennyi), em 1º de agosto.

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Organizações ucranianas, incluindo o Ministério da Política Agrária e Alimentação, estão apontando que o dia 19 de novembro marcará a continuação do acordo de 120 dias ou a suspensão dos embarques de grãos do Mar Negro se a Rússia não concordar em estender o acordo. Uma luz vermelha de Putin para pressionar a Ucrânia e o Ocidente reverteria o alívio que o fluxo limitado de grãos proporcionou e exacerbaria a insegurança alimentar global esperada com colheitas menores de trigo de inverno nesta temporada na Ucrânia.

Uma organização sem fins lucrativos de especialistas ucranianos em comunicação, chamada PR Army, tem chamado a atenção para a próxima data de renovação da Iniciativa, instando a UE a ajudar a tornar permanentes as rotas de grãos de emergência.

De acordo com o PR Army, as exportações totais de grãos da Ucrânia caíram 48,6% até agora na temporada 2022/23 em comparação com a temporada anterior. Em junho, apenas 14,2 milhões de hectares haviam sido plantados com culturas de primavera, o que é 19,4% menos do que no ano passado, a organização sem fins lucrativos informa:

De acordo com o Ministério da Agricultura da Ucrânia, 30% das terras agrícolas do país estão ocupadas ou inseguras, e 160.000 quilômetros quadrados de terra podem estar “contaminados” por minas terrestres e outros explosivos… para dar o alarme.

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A disputa de informações em andamento entre a Ucrânia e a Rússia é óbvia, mas não há dúvida de que a Rússia prejudicou severamente a produção agrícola da Ucrânia, provavelmente remontando à anexação da Crimeia em 2014. Caitlin Welsh, diretora do Programa Global de Segurança Alimentar do CSIS (Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais), diz que o impacto da invasão na produção e exportação de grãos ucranianos só será totalmente sentido quando 2022 terminar e 2023 seguir em frente.

“A maior parte do trigo da Ucrânia é trigo de inverno. É plantada no verão e no outono, cresce no inverno, é colhida no verão seguinte e depois exportada. Portanto, a safra que foi plantada no inverno passado e neste verão agora que está sendo exportada.”

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Agricultores na Ucrânia colhem trigo em torno de uma cratera de artilharia em um campo na região de Dnipropetrovsk.

Welsh acrescentou que os últimos números sobre grãos ucranianos do USDA foram divulgados esta semana. Eles prevêem a exportação de trigo da Ucrânia em pouco menos de 17 milhões de toneladas. O volume de 2021 foi de pouco menos de 21 milhões de toneladas. A produção de trigo na Ucrânia diminuiu cerca de 20%.

O país tem sido “incrivelmente diligente”. Welsh afirma ser importante encontrar rotas alternativas para exportação e seus agricultores/produtores realizaram operações agrícolas “corajosas” durante a guerra, mas enfatiza que cairá a área a ser plantada na Ucrânia para a colheita no próximo ano, graças ao impacto da guerra na força de trabalho ucraniana (as estimativas dizem que 20% dela não está mais ativa), equipamentos agrícolas, armazenamento e entre outros.

Grãos da Ucrânia suspeitos de desvios à Rússia?

Funcionários do Exército da Ucrânia afirmam que a Rússia está “contrabandeando continuamente” grãos de territórios ocupados no sul do país. A informação é de que a Rússia exportou ilegalmente pelo menos US$ 530 milhões (R$ 2,8 bilhões na cotação atual), juntamente com queima documentada de colheitas e roubo de grãos e equipamentos, totalizando mais de US $ 22 bilhões (R$ 117 bilhões) em receita potencial perdida para o complexo agroindustrial da Ucrânia.

Embora os números possam ser difíceis de confirmar, Welsh diz que um relatório recente da Bloomberg inclui alegações russas de que suas exportações agrícolas aumentarão em 5 milhões de toneladas graças às terras que anexou ilegalmente da Ucrânia. A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e Welsh acrescenta que houve uma colheita de trigo muito boa este ano (projetada para exportar mais de 39 milhões de toneladas).

Welsh observa que a Rússia vem promovendo uma narrativa de que as sanções ocidentais são culpadas pela redução das exportações do Mar Negro, o que é “completamente risível”, diz ela. A Rússia também parou de publicar dados sobre seu comércio agrícola em abril deste ano. Provavelmente, há um motivo por trás da mudança para parar de compartilhar dados.

Putin já havia vinculado a questão da exportação de grãos ao levantamento das sanções ocidentais e poderia fazê-lo novamente. A Rússia está sob óbvia pressão econômica e um retorno à cessação dos embarques de grãos dos portos ucranianos colocaria ainda mais pressão em cima dos preços mundiais de grãos (e outros produtos agrícolas).
A Rússia se beneficiaria, financeiramente assegurada, sabendo que os Estados Unidos e a UE provavelmente não sancionarão a agricultura ou as exportações agrícolas russas para evitar um aumento nos preços e a insegurança alimentar.

Em seu curto mandato, o acordo de embarque de grãos funcionou. Amir Abdulla, coordenador da ONU para a Iniciativa de Grãos do Mar Negro, observa que os preços caíram cinco meses seguidos. A ONU diz que seu Índice de Preços de Alimentos caiu quase 14% em relação ao pico de março deste ano. Abdulla continua acreditando sobre a possível extensão da Iniciativa, expressando sua esperança de que “com os esforços de mediação da ONU, não será realmente um assunto para negociação”.

Ironicamente, o sucesso da Ucrânia no campo de batalha – incluindo a recuperação de algumas terras agrícolas na região de Donbas – e sua consequente pressão sobre Vladimir Putin podem de fato tornar as exportações do Mar Negro um assunto para negociação. Com um recorde de 345 milhões de pessoas em mais de 80 países atualmente enfrentando insegurança alimentar aguda, de acordo com a ONU, o poder que a Rússia exerce sobre a produção agrícola da Ucrânia – mesmo que perca território – não pode ser ignorado.

* Eric Tegler é colaborador da Forbes EUA.

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