Boa comunicação: sem ela, não há saúde mental

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“Comunicar-se bem não é só ter a competência da clareza, mas também aprender a fazer a leitura do outro, algo que é chamado de comunicação não verbal”

Eu quero contar uma história recente. Tenho uma colega em quem confio muito. Porém, em uma reunião de trabalho, ela parece ter se esquecido disso. Fazendo uso de uma comunicação que atropelou todos os combinados que sempre costumamos fazer antes de qualquer encontro profissional, ela pareceu ter se esquecido de que eu estava ali para partilhar ideias e proposições com ela, e não simplesmente assisti-la falar sozinha. Eu fiquei muito chateado com aquela postura.

O dicionário nos conta que um dos significados de comunicar é relacionar-se. E eu quero chamar a atenção justamente para isso. A boa comunicação é chave para cultivarmos relacionamentos duradouros e saudáveis, para estabelecermos uma rede de apoio que é fundamental em todos os momentos da vida. Bons relacionamentos, por sua vez, são essenciais cultivar boa saúde mental.

Ao contrário, comunicar-se de forma truncada, pouco clara e colérica só nos traz dificuldades na vida – dentro e fora do trabalho -, podendo contribuir bastante para o descontrole da ansiedade, por exemplo.

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Comunicar-se bem não é só ter a competência da clareza, mas também aprender a fazer a leitura do outro, algo que é chamado de comunicação não verbal. Nesse exemplo que citei, essa colega parece não ter olhado para mim. A minha reação à forma com a qual ela se comunicava foi imediata. Fiquei sério, com o corpo bem reto, rígido, cruzei os braços. Se ela tivesse olhado para mim teria percebido de que algo não estava bem.

Comunicar-se bem também significa ouvir. Afinal, a boa comunicação sempre é uma via de mão dupla. Não é só usar palavras e falar, falar, falar, por melhor que você se expresse. Mas é especialmente ouvir com atenção, um sinal importantíssimo de que você está levando o seu interlocutor em grande consideração.

Por fim, comunicar-se bem é exercer a generosidade. Tenho certeza de que você conhece alguém que, antes que você termine a sua história, já está palpitando, julgando. É muito chato, não? É plenamente possível discordar 100% de alguém apresentando argumentos, e não criticando o seu interlocutor. Ser assertivo não significa ser agressivo.

A boa comunicação não é algo com que nascemos. Ao contrário. Requer esforço diário. É um treino, onde a regra mais importante é aprender a partir dos nossos próprios erros.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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