A história de vida de Eloi D’Avila é um roteiro hollywoodiano: nascido em uma família imensa (é o 14º de 15 irmãos) e humilde no Sul do país, ficou órfão de mãe ainda bebê, foi morar com uma irmã de 14 anos (já casada), sofreu maus tratos e aos 8 anos fugiu para São Paulo, onde fazia bicos e morava na rua.
Após muitos percalços, em 1974, depois de trabalhar na Stella Barros Turismo, fundou a Flytour, que em pouco mais de uma década seria a maior emissora de bilhetes aéreos do país. A empresa crescia e se fortalecia, atravessando crises e planos econômicos aos montes.
Eloi era o líder de um império bilionário, que vivia seu auge em vendas e valor de mercado. Ele comemorava também o final feliz de um tratamento de três anos nos EUA para uma doença nos ossos. Aí veio a pandemia.
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Diferentemente da Belvitur de seu amigo Marcelo Cohen, a Flytour estava menos capitalizada – tinha acabado de investir em tecnologia, novas diretorias e colaboradores na tentativa de atrair sócios.
Também havia investido em turismo de lazer sem obter o mesmo retorno que costumava ter no business travel – Eloi até correu entre setembro de 2019 e março de 2020 para consertar essa situação.
“Quando eu estava encontrando o ponto de equilíbrio, veio a Covid. Ela me pegou com 2 mil colaboradores, um faturamento mensal de R$ 600 milhões e 500 mil passageiros por mês. No mês seguinte, em abril, eu faturei R$ 7 milhões – minha folha de pagamento era de R$ 14,5 milhões por mês. Mas eu disse para mim mesmo que não mandaria ninguém embora, acreditando que os clientes voltariam em maio daquele ano”, lembra D’Avila. “E eu nem tinha dinheiro para mandar as pessoas embora.”
Maio passou, junho passou, julho, agosto… E o mundo continuava fechado para os viajantes. “Chamei uma consultoria internacional para me ajudar, a Alvarez & Marsal. Eu atendia 4 mil agências de viagem e eles estavam com o mesmo problema que eu, não tinham como me pagar. Comecei a vender meu patrimônio, coloquei o dinheiro que tinha guardado para minha aposentadoria na empresa… Nunca atrasei os pagamentos em quase 50 anos de empresa – os salários, as companhias aéreas –, mas tive que atender às orientações dos consultores para priorizar.”
Enquanto tentava apagar o incêndio, Eloi e a consultoria preparavam a Flytour para ser vendida. Um dossiê sobre a empresa foi enviado a 33 fundos mundiais. “Não houve nenhum retorno. O mundo continuava parado.”
Um dia, no meio dessa angústia, o telefone tocou. Era seu velho amigo e companheiro de viagens Marcelo Cohen perguntando se ele estava vendendo a Flytour. “Não tenho muita saída”, respondeu Eloi. Marcelo estava comprando empresas, startups e tecnologias capazes de alavancar as vendas. O que ele não tinha era a grande carteira de clientes da Flytour. Esse foi um dos fatores determinantes para a união das duas empresas.
Em outubro de 2021, Eloi vendeu integralmente a Flytour a Marcelo por R$ 500 milhões. Sua sensação não foi de perda, mas de alívio. “Marcelo foi um anjo que me apareceu.”
A holding resultante da negociação, batizada de BeFly e que tem Marcelo como CEO e Eloi no conselho de administração, não demorou a dar resultados. “Equiparamos o resultado de julho de 2019, e junho já tinha sido 30% acima de junho de 2019. Acho que o segmento de business travel vai subir mais daqui em diante, algo na ordem de 20% a 25% até o fim do ano”, comemora Eloi.
Ainda sobre o futuro, ele se entusiasma ao falar das possibilidades do metaverso no processo de vendas. “Você pode ver o seu destino ‘por dentro’ antes de sair de casa e assim decidir melhor, até com base na emoção.”
Emoção, diga-se, é algo que não tem faltado na vida desse heroico empreendedor.
Reportagem publicada na edição 99, lançada em agosto de 2022.
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