Caramuru toma empréstimo “verde” de R$ 430 milhões para investir em farelo não transgênico

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Jorge Adorno/File Photo/Reuters

Descarregamento de soja no Brasil

A Caramuru Alimentos, maior empresa de capital nacional no processamento de soja, concluiu nesta semana uma operação para financiamento de US$ 80 milhões (R$ 428 milhões) atrelada a metas de sustentabilidade, via PPE (Pré-Pagamento à Exportação), para investir na produção e exportação de farelo não transgênico.

No parque de máquinas já instalado em Itumbiara (GO), a companhia fará a construção de uma nova planta para processamento de farelo de soja convencional com 62% de proteína, conhecido como SPC, com aporte estimado em R$ 250 milhões.

Além disso, também está nos planos a conclusão de um armazém com capacidade de 120 mil toneladas para o grão não transgênico, em Sorriso (MT), com aplicação de R$ 75 milhões, disse à Reuters o diretor-presidente da Caramuru, Júlio Costa.

A empresa já fornece o farelo de maior valor agregado para a Noruega, utilizado lá para a alimentação de salmão, e pretende ampliar o fornecimento internacional a compradores asiáticos e australianos.

“A gente já opera nesses mercados com outros produtos, nossa área internacional já está trabalhando nisso”, disse ele sobre as negociações externas.

Costa lembrou que a empresa tinha, no início do ano passado, o plano de abrir seu capital, mas como houve uma piora no cenário econômico deixada pela pandemia da Covid-19, foi necessário buscar outras alternativas, como o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e agora o PPE sustentável, para levantar recursos.

“A gente tinha o objetivo de alongamento de dívida, melhora no balanço e alguns investimentos com o IPO (oferta pública inicial de ações)… Agora a gente acredita que equalizou bem nossa necessidade de caixa”, acrescentou o diretor de Relações com Investidores, Marcus Thieme.

Por enquanto, a empresa suspendeu planos de IPO, disseram os executivos.

O empréstimo recém-contratado tem prazo de quatro anos para pagamento, com amortizações semestrais a partir de junho de 2024, e pagamento de juros semestrais. Para Thieme, uma carência de dois anos para o início da amortização facilita o andamento do fluxo de caixa da empresa.

Com isso, a Caramuru pretende alongar seu perfil da dívida, buscando melhora na estrutura de capital e, do ponto de vista operacional, investir na construção do armazém para soja não transgênica e instalações para produção de farelo SPC.

“Cerca de 30% da soja que a gente processa é não transgênica. Mas para a empresa operar nesse mercado, tem que ter uma logística independente, tem que ter armazém para segregar esse produto. É muito rígida a questão da rastreabilidade para evitar contaminação”, afirmou Costa.

A expectativa é que o armazém fique pronto no início do ano que vem, enquanto a nova planta deve ser concluída em abril de 2023, para que esteja em atividade comercial em torno de julho. A capacidade produtiva da unidade processadora de farelo está estimada em 100 mil toneladas.

Dados da Caramuru indicam que a categoria de commodities diferenciadas, que contempla os produtos não transgênicos, responde por uma fatia de 37% na receita líquida da empresa –o maior percentual dentre todos os segmentos da companhia, que atua também em biodiesel e negociação de commodities agrícolas.

Recursos

A modalidade de crédito via PPE já era utilizada pela companhia e se configura com a tomada de recursos junto a instituições financeiras em troca de recebíveis de exportação. Quando o produto é embarcado, parte do pagamento vai para a quitação da dívida.

No caso desta operação de US$ 80 milhões (R$ 428 milhões) o banco holandês Rabobank atuou como coordenador da transação e de sustentabilidade. A operação contou ainda com a participação dos bancos Sumitomo Mitsui, Bank of China e Banco do Brasil.

“O Rabobank é quem cuida de toda a parte operacional da transação. No momento em que é feito o depósito desse contrato e o valor cai nessa conta, é o Rabobank quem faz a divisão com as demais instituições”, disse o diretor de RI da Caramuru.

Trata-se do primeiro empréstimo tomado pela companhia atrelado a metas sustentáveis, que envolvem redução nas emissões de GEE (gases do efeito estufa) e ampliação da rastreabilidade na cadeia de fornecedores de matéria-prima. Caso as metas sejam cumpridas, a taxa de juros da transação cai de 4% para 3,9% ao ano.

Antes deste financiamento, a companhia realizou três emissões de CRA, sendo uma convencional de R$ 200 milhões e duas “verdes”, de R$ 356 milhões e R$ 600 milhões.

Nova Safra

O presidente da Caramuru acredita que a ampliação no processamento de farelo de soja conta com oferta garantida do grão não transgênico, uma vez que a área de plantio deste nicho também está em ascensão. Ele não detalhou quanto as lavouras convencionais podem crescer no ciclo de 2022/23.

Para a safra em geral que está começando o plantio, incluindo os cultivos geneticamente modificados, ele disse que a expectativa é positiva, considerando projeções climáticas favoráveis para o Centro-Oeste.

Ele comentou, no entanto, que os produtores estão mais cautelosos na venda antecipada de soja para indústria.

“A gente tinha feito 700 mil toneladas (neste época do ano passado) e agora estamos em 300 mil e pouquinho, o produtor também está com uma experiência de que o preço subiu muito depois que vendeu”, disse Costa.

“Mas estamos preparados, quando o produtor vier estamos prontos para as aquisições.”

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