O movimento “Todos a Uma Só Voz”, que reúne cerca de 60 empresas e entidades para fortalecer a imagem do setor do agronegócio, divulgou hoje (28), em São Paulo, o resultado completo da pesquisa “Percepções sobre o agro: o que pensa o brasileiro”. O estudo mostra um balanço de como a sociedade urbana enxerga o setor responsável por 25,5% do PIB (produto interno bruto) do país, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Nas 128 páginas, uma das principais conclusões é de que sete em cada dez brasileiros têm uma percepção positiva com relação ao agronegócio.
“Esse estudo surgiu por não termos a informação que precisamos para nos comunicar corretamente com o brasileiro”, diz Ricardo Nicodemos, vice-presidente da ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural) e diretor do movimento. “Entrei nesse projeto achando que iríamos nos deparar com o caos e olha que boa notícia.”
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A pesquisa foi desenvolvida pela entidade nos últimos dez meses, em conversas com 4.215 pessoas de diferentes regiões, faixas etárias e classes sociais. Os resultados foram divididos em três agrupamentos: “próximo/favorável”, “campo neutro” e “distante/desfavorável”.
Entre eles, 43% (cerca de 1.800 pessoas), se disseram próximos e favoráveis ao agronegócio. O grupo considera o setor “como muito importante para o dia a dia dele” e já trabalhou ou tem algum familiar trabalhando no agro. Além disso, o agrupamento possui baixa propensão a boicotar empresas que produzem alimentos e atribui os adjetivos “orgulho e credibilidade” ao setor.
Outra pergunta considerada importante na pesquisa foi sobre os setores da economia mais admirados. Dentre os 10 setores indicados aos entrevistados, o agro ficou em quarto lugar posição, com cerca de 2.800 pessoas apresentando alto grau de admiração. Ficou atrás, apenas, de “alimentos e bebidas”, “tecnologia” e “atacado/Varejo”. Mas quando questionados sobre qual imagem os brasileiros associam ao agro, 78% dos entrevistados disseram “alimento”.
Mesmo com resultado positivo, há desafios pela frente
Mas nem tudo são flores, como ficou evidenciado na estratificação. A pesquisa mostra ainda que enquanto 43% dos entrevistados possuem grande envolvimento e 24% possui médio conhecimento e médio envolvimento com o agro, 33% são arredios. Segundo o professor da ESPM, Paulo Rovai, consultor e um dos coordenadores da pesquisa, este grupo representa um grande desafio pelas opiniões desfavoráveis com relação à agropecuária, com um agravante: em sua maioria estão na faixa etária entre 15 e 29 anos. “Essa é uma parcela muito relevante e serve como um super sinal de alerta. Quando olhamos esse grupo, estamos falando do consumidor futuro”, diz Rovai.
O estudo identifica que esse perfil, o segundo maior da pesquisa, é o de maior possibilidade de boicotar o agronegócio. É, também, o grupo que está mais distante geograficamente e socialmente do agronegócio. “É um momento em que o setor precisa se comunicar melhor”, afirma Rovai, também indicando que empresas e associações “precisam contar mais suas histórias de sucesso” para mostrar a realidade aos que desconhecem o universo da agropecuária, localizados principalmente em áreas urbanas.
Outro ponto de atenção é o grupo que faz parte do “campo neutro”, os 24%, justamente por estarem por não terem criado rejeição ao setor. Para Rovai, é preciso “passar mais informações e realizar campanhas educativas” para este grupo.
Próximos passos da entidade
Os próximos passos do movimento “Todos a Uma Só Voz”, de acordo com os organizadores, é se voltar a ações para o grupo desfavorável ao agro. “O diagnóstico está nos ajudando na fase de planejamento. Ela está muito avançada e estamos refinando os materiais e conceitos que a gente identificou”, afirma Rovai.
O próximo passo é o estabelecimento de uma marca chamada “Agro do Brasil”, que será criada com o objetivo de representar o setor de maneira unificada. Para isso, serão realizados workshops, ações com influenciadores, podcasts e outras ferramentas que podem facilitar a comunicação dos produtores com o grupo da sociedade mais distante fisicamente e socialmente do agronegócio. A expectativa é que as ações possam acarretar na atração de jovens talentos para a área. “Nós só conseguimos corrigir percepções errôneas com fatos. E fatos representam comunicação. Precisamos usar da ciência para nos comunicar frente às novas gerações e seus desejos de consumo”, afirma Marcello Brito, coordenador técnico da Fundação Dom Cabral e ex-presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio. “A pesquisa é resultado da ciência estatística e comportamental, e no agro precisamos ser validados pela ciência para impulsionarmos o nosso crescimento e o nosso desenvolvimento”.
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