Operadoras de planos de saúde perdem bilhões e sofrem revés pós-pandemia

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A saúde suplementar brasileira está em processo de deterioração financeira, segundo a diretora-executiva da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), Vera Valente. A sobrecarga herdada da pandemia e mudanças estruturais no setor tornarão a assistência médica cada vez mais cara, diz a executiva.

Relatório divulgado na terça-feira (20) pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostra que, no segundo trimestre de 2022, as operadoras de planos médico-hospitalares tiveram seu pior resultado operacional da série histórica: um prejuízo de R$ 4,4 bilhões. Além disso, os planos de saúde tiveram um resultado líquido negativo de R$ 1,7 bilhão.

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Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos, afirma que os custos das empresas de saúde estão pressionados desde o início da pandemia. No pior momento da crise, as internações graves por Covid-19 aumentaram muito a ocupação de leitos hospitalares.

Agora, passado o pior da pandemia, é hora de realizar as intervenções e os procedimentos eletivos que deixaram de ser feitos. Por isso, o número de internações, tratamentos e exames aumentou muito nos últimos meses, elevando bastante os custos e despesas.

“O que estamos vendo é a continuação dos efeitos da pandemia no setor de saúde. Somado a isso temos processos legislativos e judiciais que causam incerteza, como a possibilidade de aprovação do piso salarial para os enfermeiros”, diz Meira.

O especialista faz referência ao Projeto de Lei n° 2564, de 2020, que estabelece um piso salarial para os profissionais de enfermagem. A lei tinha sido aprovada pelo Congresso em junho deste ano e, em setembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu sua eficácia por 60 dias, até que o Senado defina de onde sairá o dinheiro para garantir o pagamento do piso aos profissionais do setor público.

Porém, para o setor privado, isso fica por conta do orçamento de cada empresa. Segundo cálculos da IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão ligado ao Senado, o impacto anual desta lei será de R$ 11,9 bilhões para as empresas privadas.

Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, acredita que a aprovação dessa lei irá colaborar para que essas empresas tenham prejuízo também nos próximos trimestres. “Organizações de saúde indicam que se a lei do piso salarial for aprovada pode ocasionar demissões, extinção de postos de trabalho, fechamento de leitos e aumento no valor dos planos de saúde.”

A diretora da FenaSaúde, federação que representa 14 grupos de operadoras responsáveis por 41% dos beneficiários de planos do país, também destaca outro Projeto de Lei recente que afeta as operações das empresas de saúde, o PL n° 2033/2022, que obriga os planos de saúde a atender exames ou tratamentos que não estão incluídos no rol de procedimentos da ANS.

“Esses resultados [do segundo trimestre] reforçam o quanto os recursos são finitos e se tornam ainda mais relevantes diante de medidas que impactam de forma relevante a sustentabilidade do setor”, afirma Valente.

Conta dos planos de saúde não fecha

Breno de Paula, analista da Inter Research, explica em relatório que as operadoras de planos de saúde foram muito favorecidas no início da pandemia com a suspensão de procedimentos eletivos e o isolamento social.

“Os clientes apesar de não cancelarem os seus planos, deixaram de frequentar os estabelecimentos de saúde. Isso fez com que as operadoras continuassem com um faturamento sólido, e reduziu drasticamente os níveis de sinistralidade”, diz de Paula.

Agora o cenário é outro. Nos resultados apresentados pela ANS, o índice de sinistralidade dos planos de saúde no segundo trimestre de 2022 foi de 91,7%. O acumulado do ano já é de 88,8%.

A sinistralidade mostra a relação entre as receitas das operadoras e os pagamentos feitos pelos planos para exames, consultas, internações, medicamentos e cirurgias. De forma simplificada, o dado da ANS indicam que, a cada R$ 100 reais dos custos das operadoras entre abril e junho, R$ 91,70 foram destinados ao pagamento de despesas assistenciais.

“Além do aumento de custos e despesas com a frequência de internações, tratamentos e exames, vemos uma dificuldade das operadoras em repassar esses valores nas mensalidades. No plano individual existe uma defasagem, porque o reajuste é feito pela ANS. Já os planos corporativos são negociados com base nos individuais”, diz Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos.

Nos últimos cinco anos, os reajustes de planos de saúde coletivos saíram de 13,9% em 2017 para 5,6% em 2021, com uma queda gradativa ano a ano.

Empresas bem posicionadas

“Se o contexto para as grandes operadoras, como Hapvida e GNDI, é desafiador, para as pequenas e médias empresas o diagnóstico é trágico, ou até mesmo fatal”, escreve de Paula.

Segundo o analista, a consequência dessas incertezas e dificuldade para as operadoras de plano de saúde é uma tendência maior de consolidação no setor, “uma vez que por mais que as grandes operadoras sofram no curto prazo, elas sobrevivem”.

Para o Inter Research, os destaques no setor no Ibovespa são Hapvida (HAPV3) e Rede D’Or (RDOR3). Analistas recomendam compra para as duas operadoras de planos de saúde, com preço-alvo de R$ 11,00 para Hapvida e de R$ 64,00 para Rede D’Or.

A Ativa Investimentos também destaca as duas empresas como as que têm “perspectivas melhores para o futuro”.

“A Rede D’Or possui poder de escala para negociar com seus fornecedores, já a Hapvida possui um modelo vertical que garante que suas margens sofram menos com o aumento da sinistralidade, como foi o caso do último trimestre”, diz Serra.

Judicialização do rol

O quadro ainda está longe de ser resolvido. Após aprovação no Senado, o novo rol de procedimentos foi sancionado (sem vetos), pelo Presidente da República ontem (21). A medida força operadores de saúde a ampliar o número de procedimentos e tratamentos, os quais não faziam parte do antigo Rol da ANS.
O setor pressionou os envolvidos, para que fosse vetada a cobertura de vários procedimentos complexos. Como não houve acordo, é bastante provável que haja judicialização no caso de diversos tratamentos atualmente não cobertos pelos planos. Isso deve elevar os custos dos operadores e provocar novas incertezas para as ações do setor.

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