“Só sei que nada sei”

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Aumento de produtividade das plantas cultivadas e animais criados no Brasil se deve à ação de cientistas

A frase acima é atribuída a Sócrates, que viveu em Atenas entre 470 a.C e 399 a.C, embora não haja certeza quanto a essa autoria. Seja como for, tem sido repetida à exaustão nos últimos 24 séculos por pensadores, estudiosos e cientistas que, quanto mais sabem, mais se convencem de que há muito a aprender. E serve como uma luva para questões específicas, como nas ciências agrárias.

O espetacular aumento de produtividade das plantas cultivadas e dos animais criados em nosso país se deve à notável ação de cientistas trabalhando há décadas (e até mais de um século, uma vez que o Instituto Agronômico de Campinas foi
criado pelo imperador Dom Pedro II), em instituições de pesquisa públicas e privadas, em universidades e academias.

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A quantidade de informações a esse respeito é ampla, mas uma das mais interessantes está ligada ao cultivo da soja no Brasil. Oriunda da China, esta oleaginosa começou a ser cultivada no Rio Grande do Sul na segunda metade do século passado. Em 1965, aquele estado tinha cerca de 400 mil hectares plantados, com uma produtividade ao redor de 1.200 quilos por hectare. Hoje é produzida em mais de 40 milhões de hectares, em quase todos os estados brasileiros, produzindo 3.500 quilos por hectare.

Com variações, esta numerologia se repete para todas as plantas cultivadas e animais criados. Mas ainda tem tanta coisa para aprender, entender, inovar, que nunca a frase socrática foi tão válida, em todos os campos das ciências agrárias. Temas significativos como irrigação, fisiologia vegetal, transgenia, bioeconomia, bioenergia, fixação de carbono vão se juntando a digitalização, conectividade, internet das coisas, e um mundo de inovações potenciais vai se abrindo aos estudiosos,
somando-se a novos hábitos alimentares e demandas inesperadas que inundam os laboratórios da indústria de alimentos e interferem no comércio de alimentos e suas regras.

A sustentabilidade, palavra essencial para garantir competitividade, vai conduzindo a um conjunto de rupturas de toda ordem nas cadeias de produção, e a tecnologia pode se transformar em fator de concentração da renda: quem incorporar
antes dos outros as últimas novidades pode ficar tão competitivo que “destrói” quem, por qualquer razão, não as incorporar. Por isso a democratização do acesso à tecnologia é tão importante quanto a sua geração.

Para pensar: cientistas começam a desvendar os sons do solo. Marcus Maeder, um ecologista acústico, por pura curiosidade, fincou na terra um microfone especial que construiu. Nunca imaginou que ouviria tantos sons, “vibrações, trinados, raspagens”. Para o leigo, o solo é só uma camada compacta de terra suja. Mas, na verdade, ele é um “cenário labiríntico cheio de túneis, cavidades, raízes e detritos em decomposição” de toda ordem. Segundo a revista Knowable, em uma xícara
de café de terra já foram encontradas mais de 5 mil formas de vida. Dá para imaginar o que a interação de tudo isso com insumos, sementes, máquinas e animais domésticos pode mudar na ciência agrária?

Não sabemos nada…

Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

Artigo publicado na edição 99, de agosto de 2022.

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