O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), considerado a inflação oficial do Brasil, acumula alta de 4,77% em 2022 e, nos últimos 12 meses, subiu 10,07%. Para segurar a inflação e evitar que os preços subam ainda mais, o Banco Central entra em cena.
Na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária do BC (que define a cada 45 dias a taxa básica de juros da economia), a Selic foi elevada a 0,5 ponto percentual, a 13,75% ao ano.
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Aumentar a Selic é o principal instrumento de política monetária da autarquia para controlar a inflação, já que ela influencia todas as taxas de juros do país, como as de empréstimos, financiamentos e de aplicações financeiras.
Na prática, quando os juros de uma economia sobem, a circulação da moeda diminui e, consequentemente, há menos pressão inflacionária. “Com os juros mais altos, as pessoas vão sair e comprar menos, já que o orçamento diminui, além do crédito ficar mais caro. A política monetária é o meio mais comum para esfriar uma economia”, diz Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Vedhaa Investimentos.
No entanto, há outras ferramentas, além da Selic, que o BC pode utilizar.
Compulsórios de bancos
Apesar de não ter sido usado recentemente, o recolhimento dos compulsórios dos bancos também é um instrumento do Banco Central para combater a inflação.
Esse recurso funciona da seguinte forma: quando uma pessoa vai a um banco e realiza um depósito, parte do valor é entregue pela instituição financeira ao Banco Central na forma de um depósito compulsório.
“Quando há um aumento da taxa do compulsório, automaticamente eu tenho menos dinheiro no banco. Com isso, a base da instituição para emprestar dinheiro diminui e a circulação da moeda, também”, acrescenta Marcatti.
Taxa de redesconto
Outra forma de combater a inflação é por meio da taxa de redesconto que o Banco Central cobra quando empresta dinheiro aos bancos comerciais que se encontram com poucos recursos. Essa ferramenta, no entanto, é ainda menos utilizada que o recolhimento de compulsórios.
Quando a taxa de redesconto aumenta, o BC também está sinalizando que precisa reduzir a quantidade de moeda em circulação.
“No final das contas, todos esses são instrumentos de política monetária. Ou seja, você mexe nas taxas de juros ou nas taxas de disponibilidade de bancos, de empréstimos, etc. Quando a utilização da moeda diminui, a pressão inflacionária segue o mesmo caminho”, explica Marcatti.
Política fiscal
Também é possível combater a inflação por meio da política fiscal, que, diferentemente da monetária, é implementada pelo governo de cada país, não pelo seu banco central.
“Quando as medidas do BC não apresentam melhorias, o governo tem que começar a tomar alguma providência. Então ele vai apostar em cortar os orçamentos, realizar menos obras, aumentar impostos, diminuir repasses e criar menos auxílios, por exemplo. Esses são meios usados para que a inflação volte para um patamar aceitável”, afirma Marcatti.
Entendendo a inflação
A inflação atual não é um problema exclusivamente brasileiro como foi no passado. O aumento dos preços também é visto em outras economias, como a dos Estados Unidos (8,5%) e da Zona do Euro (9,1%).
Esse cenário acontece em um momento em que o mundo se recupera dos momentos mais duros da pandemia, lida com a guerra na Ucrânia e a desaceleração da atividade econômica global.
Nos Estados Unidos, o temor entre os investidores é que o Federal Reserve (banco central dos EUA) continue com um aperto monetário agressivo, o que tem pressionado o desempenho da renda variável, como as ações negociadas em bolsas.
A expressão “aperto monetário” é utilizada quando um banco central eleva a taxa de juros para, na maioria das vezes, combater a inflação.
Claudio Felisoni, economista e professor da FIA Business School, explica à Forbes Brasil que a inflação aumenta, em geral, por três motivos:
Pressão da demanda agregada (incluindo consumo das famílias, investimentos e a relação entre exportações e importações) sobre uma oferta agregada que se mantém fixa ou constante.
Choques de oferta provocados por aumentos de importantes insumos produtivos, como a energia, por exemplo.
Expectativas sobre o desempenho da economia no futuro mais imediato. No caso do Brasil, as preocupações com as eleições e com o teto de gastos entram nesta categoria.
Felisoni acrescenta que um certo nível de inflação é até aceitável, porque mostra que a economia está em crescimento. “Apesar de ser difícil traçar qual ponto é o ideal, pode-se dizer que algo na casa de um dígito seja estável.”
“Nesse patamar, a inflação passa a ideia de que o processo econômico está sob controle. Ou seja, os preços não evoluem em uma espiral. Agora, quando a situação é oposta, com uma alta inflação, aí sim há a necessidade de atuar de modo a diminuir os efeitos”, explica o professor.
Quando a inflação sobe muito, ela também prejudica o crescimento econômico de um país, mas no sentido oposto. Os preços relativos ficam distorcidos, tornando difícil avaliar se algo está barato ou caro. Quem mais sofre são as pessoas com renda menor, que não têm recursos para escapar dos reflexos da alta dos preços.
Fellisoni afirma que a inflação, na prática, funciona como se fosse um imposto, “porque ela retira a renda real das famílias”.
“Indivíduos com menos renda se protegem menos efetivamente contra seus efeitos”, diz o especialista.
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